São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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"Mal-amado", Tupi tenta arrebatar seus conterrâneos

Sem apoio da população da cidade mineira, fanática pelos clubes do Rio, equipe finalmente brilha em "seu" Estadual

Único invicto do Mineiro encara indiferença em Juiz de Fora, de onde torcedores viajam em peso para assistir aos clássicos no Maracanã

TONI ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A JUIZ DE FORA

Um único torcedor na arquibancada do estádio Mário Helênio observa os jogadores do Tupi finalizarem seu trabalho às vésperas de receber o Democrata, de Sete Lagoas. Em jogo hoje, a liderança isolada do Campeonato Mineiro.
Em Juiz de Fora, Cruzeiro e Atlético-MG não têm vez. Os gigantes do Estado -que monopolizam a paixão do torcedor em praticamente todos os outros 852 municípios mineiros- passam longe do interesse da população. Assim como o Tupi, que tenta chamar a atenção para si numa cidade que vê, nas esquinas e nos bares, disseminada uma histórica predileção pelos quatro grandes clubes do Rio -distante quase 200 km.
Cidade mais importante da região da Zona da Mata mineira, Juiz de Fora, pelo menos no futebol, reforça o apelido de "carioca do brejo" por ter em Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco seus grandes amores quando o tema é futebol.
"Em jogos importantes, chegam a sair mais de 30 ônibus daqui. Há vários pontos onde as torcidas se reúnem para ver as partidas pela TV. E os festejos sempre têm carreatas", contou Leandro Henrique Severino, diretor da torcida organizada local Urubuzada, do Flamengo.
"O povo gosta do Tupi e torce, mas a referência mesmo para seguir são os clubes do Rio. Eu mesmo sou Fluminense", disse Renato Costa, assessor de imprensa da equipe local.
A prova: a recente final da Taça Guanabara, entre Flamengo e Botafogo, fez o jogo do Tupi pela rodada do Mineiro ser antecipado para sábado. Motivo: temor de que não houvesse público no estádio se as partidas fossem simultâneas.
Neste ano, o Tupi faz uma campanha para arrebatar de vez o coração dos conterrâneos. Hoje, pode chegar a 18 pontos, desbancando o Cruzeiro da ponta. A performance, porém, ainda não foi suficiente para atrair o público: em média, 3.000 pagantes vão aos jogos do Tupi (o estádio comportaria pelo menos mais 30 mil).
A diretoria faz marketing para realçar a importância da campanha. "Neste ano, em Estaduais dos grandes centros, o Tupi é a única equipe que não perdeu", diz José Roberto Maranhas, vice-presidente do clube que acumula o futebol e chefia também o departamento médico, sobre as quedas de Atlético-PR e Cruzeiro, derrotados no meio da semana.
Com uma estrutura modesta -o gasto com futebol é de cerca de R$ 160 mil mensais, os salários vão de R$ 1.000 a R$ 7.000, e o time usa um surrado ônibus urbano para se locomover pela cidade-, o cartola diz que o clube é vítima de preconceito.
"Estávamos na frente do Cruzeiro, mas o que os jornais destacavam era que tínhamos um jogo a mais. Todas as equipes também tinham. A imprensa mineira ignora o Tupi", fala.
Dentro de campo, contam os jogadores, a situação não é diferente. Provocações que têm como tema a "carioquice" da população são freqüentes.
"Quando jogamos principalmente em Belo Horizonte, os rivais nos chamam de carioca do brejo, com desdém. Isso tem que servir como estímulo. Temos de usar o lado positivo e dar o algo a mais", diz o zagueiro Reginaldo, 28.
O meia Hugo também acha que a cidade sofre pela proximidade do Rio. "A imprensa mineira tem um desinteresse por Juiz de Fora. E aqui é assim mesmo, os times do Rio movimentam o torcedor", afirma.
O jogador, no entanto, disse que o lugar do Tupi é no Mineiro mesmo. "Tenho orgulho de ser mineiro. Se fôssemos disputar o Estadual do Rio, aí sim eles teriam razão de nos chamar de carioca do brejo."
Até o treinador, o recém-chegado João Carlos, já sentiu essa idolatria de perto. "Trabalhei no Flamengo e fizemos vários jogos em Juiz de Fora. A força dos clubes do Rio é muito grande aqui. Inclusive, minha passagem pelo futebol carioca contribuiu para a minha vinda ao Tupi", comentou o técnico.


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