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"Mal-amado", Tupi tenta arrebatar seus conterrâneos
Sem apoio da população da cidade mineira, fanática pelos clubes do Rio, equipe finalmente brilha em "seu" Estadual
Único invicto do Mineiro encara indiferença em Juiz de Fora, de onde torcedores viajam em peso para assistir aos clássicos no Maracanã
TONI ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A JUIZ DE FORA
Um único torcedor na arquibancada do estádio Mário Helênio observa os jogadores do
Tupi finalizarem seu trabalho
às vésperas de receber o Democrata, de Sete Lagoas. Em jogo
hoje, a liderança isolada do
Campeonato Mineiro.
Em Juiz de Fora, Cruzeiro e
Atlético-MG não têm vez. Os
gigantes do Estado -que monopolizam a paixão do torcedor
em praticamente todos os outros 852 municípios mineiros-
passam longe do interesse da
população. Assim como o Tupi,
que tenta chamar a atenção para si numa cidade que vê, nas
esquinas e nos bares, disseminada uma histórica predileção
pelos quatro grandes clubes do
Rio -distante quase 200 km.
Cidade mais importante da
região da Zona da Mata mineira, Juiz de Fora, pelo menos no
futebol, reforça o apelido de
"carioca do brejo" por ter em
Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco seus grandes amores quando o tema é futebol.
"Em jogos importantes, chegam a sair mais de 30 ônibus
daqui. Há vários pontos onde as
torcidas se reúnem para ver as
partidas pela TV. E os festejos
sempre têm carreatas", contou
Leandro Henrique Severino,
diretor da torcida organizada
local Urubuzada, do Flamengo.
"O povo gosta do Tupi e torce, mas a referência mesmo para seguir são os clubes do Rio.
Eu mesmo sou Fluminense",
disse Renato Costa, assessor de
imprensa da equipe local.
A prova: a recente final da
Taça Guanabara, entre Flamengo e Botafogo, fez o jogo do
Tupi pela rodada do Mineiro
ser antecipado para sábado.
Motivo: temor de que não houvesse público no estádio se as
partidas fossem simultâneas.
Neste ano, o Tupi faz uma
campanha para arrebatar de
vez o coração dos conterrâneos.
Hoje, pode chegar a 18 pontos,
desbancando o Cruzeiro da
ponta. A performance, porém,
ainda não foi suficiente para
atrair o público: em média,
3.000 pagantes vão aos jogos do
Tupi (o estádio comportaria
pelo menos mais 30 mil).
A diretoria faz marketing para realçar a importância da
campanha. "Neste ano, em Estaduais dos grandes centros, o
Tupi é a única equipe que não
perdeu", diz José Roberto Maranhas, vice-presidente do clube que acumula o futebol e chefia também o departamento
médico, sobre as quedas de
Atlético-PR e Cruzeiro, derrotados no meio da semana.
Com uma estrutura modesta
-o gasto com futebol é de cerca
de R$ 160 mil mensais, os salários vão de R$ 1.000 a R$ 7.000,
e o time usa um surrado ônibus
urbano para se locomover pela
cidade-, o cartola diz que o clube é vítima de preconceito.
"Estávamos na frente do
Cruzeiro, mas o que os jornais
destacavam era que tínhamos
um jogo a mais. Todas as equipes também tinham. A imprensa mineira ignora o Tupi", fala.
Dentro de campo, contam os
jogadores, a situação não é diferente. Provocações que têm como tema a "carioquice" da população são freqüentes.
"Quando jogamos principalmente em Belo Horizonte, os
rivais nos chamam de carioca
do brejo, com desdém. Isso tem
que servir como estímulo. Temos de usar o lado positivo e
dar o algo a mais", diz o zagueiro Reginaldo, 28.
O meia Hugo também acha
que a cidade sofre pela proximidade do Rio. "A imprensa
mineira tem um desinteresse
por Juiz de Fora. E aqui é assim
mesmo, os times do Rio movimentam o torcedor", afirma.
O jogador, no entanto, disse
que o lugar do Tupi é no Mineiro mesmo. "Tenho orgulho de
ser mineiro. Se fôssemos disputar o Estadual do Rio, aí sim
eles teriam razão de nos chamar de carioca do brejo."
Até o treinador, o recém-chegado João Carlos, já sentiu essa
idolatria de perto. "Trabalhei
no Flamengo e fizemos vários
jogos em Juiz de Fora. A força
dos clubes do Rio é muito grande aqui. Inclusive, minha passagem pelo futebol carioca contribuiu para a minha vinda ao
Tupi", comentou o técnico.
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