São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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JUCA KFOURI

Um domingo sem Ronaldo


Como o Paulistinha pouco vale, a sensata ausência do Fenômeno deixou uma certa sensação de frustração

DOIS DANS , um filho, o outro amigo, não se conformaram por eu não ter ido ver Ronaldo no Pacaembu.
Difícil explicar a eles quantas vezes vi "Ronaldos" no Pacaembu.
Ora era um chamado Pelé, ora outro chamado Rivellino, mais um que atendia pelo nome de Ademir da Guia, às vezes Pedro Rocha, Gérson, Mané Garrincha, Dirceu Lopes, para não falar, mais recentemente, de Zico ou de Sócrates, ou do baixinho Romário. Ver o melhor, ou um dos melhores do mundo, no Pacaembu, no Morumbi, no Maracanã, no Mineirão, era regra, não exceção.
Não era obrigatório que o ídolo tivesse sido campeão mundial pela seleção brasileira, embora ajudasse como atração e, também, pelo respeito despertado.
Sim, era impossível não olhar para Gylmar, Bellini, Mauro, Zito, Didi, Vavá, Zagallo, Pepe, Coutinho, Carlos Alberto Torres, Orlando, Zózimo, Clodoaldo, Jairzinho, Paulo César Caju, Dino Sani, Amarildo, Everaldo, sem admiração e reverência, independentemente da camisa do clube que vestiam.
Eram caras pelos quais você tinha torcido feito louco nos gramados da Suécia, do Chile e do México e que estavam ali, na sua frente, desfilando sua arte. Gente séria.
E isso acabou. A relação com os vencedores de 1994 e de 2002 mudou da água para o vinho italiano, francês, espanhol, português, até o alemão (não aquele branco, da garrafa azul, lembra?). Para não falar de saquê ou de vodca.
Mais razão ainda, dirão os Dans -um Kfouri, fotógrafo, outro Stulbach, ator de raro talento e sensibilidade, ambos corintianos- para não perder a chance excepcional de ver Ronaldo de perto.
Verdade que o que mudou não foi apenas o fato de os ídolos do tetra e do pentacampeonato terem ido brilhar fora do Brasil, com camisas de clubes alienígenas.
A transformação deles em pop- stars colaborou muito para o distanciamento, porque viraram celebridades que pouco têm a ver com as imagens de Santos como Djalma e Nilton, ou de um Tostão.
Prova disso, ainda sobrevivente exceção para confirmar a regra, é o caso de Marcos, São Marcos, que não só ficou por aqui como, também, segura há anos, pelo seu perfil e personalidade, a imagem admirável de seus antecessores.
Mas, confesso, até por morar pertinho do Pacaembu e ter sentido a energia mágica e ouvido o alarido frenético que vinha de lá, que fiquei com inveja dos mais de 30 mil torcedores (que daqui a 30 anos serão 300 mil, como nos célebres casos da final de 1950, no Maracanã, do primeiro treino de Garrincha, em General Severiano e do mais belo gol de Pelé, na rua Javari...) que foram testemunhas de nova histórica atuação de Ronaldo, no estádio.
Mas tenho o blog e tinha o Grêmio na Libertadores, competição incomparavelmente mais importante que o Paulistinha, um olho no gato, outro no peixe.
É, não foi apenas a vida dos craques de futebol que mudou muito.
Jornalista perna-de-pau também teve que se adaptar aos novos tempos. E se confessa frustrado pela falta de Ronaldo ontem, apesar de entender, e elogiar, a prudência do técnico Mano Menezes.

blogdojuca@uol.com.br


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