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braços cruzados
Greve assombra Copa na África
Perueiros protestam contra obra para melhorar o transporte de Johannesburgo, a principal sede
Aumento de 25% na tarifa de energia elétrica faz maior central de trabalhadores do país ameaçar paralisação geral durante o Mundial
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Uma onda de greves se transformou em mais uma ameaça
para o sucesso da Copa do
Mundo da África do Sul.
Ontem, motoristas de vans
em greve entraram em confronto com a polícia em Johannesburgo, em protesto contra a
inauguração de um novo ramal
de um sistema de corredores de
ônibus que é a principal aposta
da organização da Copa para
desafogar o trânsito na cidade.
Dez perueiros foram presos
após tentar atacar os ônibus.
Eles estão irritados com a
possibilidade de perder passageiros. "Nossa atividade dá emprego a motoristas, mecânicos,
frentistas e outros. Devido à
Copa, o governo quer acabar
com tudo. Por isso, não queremos estrangeiros aqui", declarou o motorista Mphempheni.
"O governo só pensa nos turistas, não em quem precisa ganhar a vida", declarou ontem
outro motorista, no bairro do
Soweto, o maior da cidade.
A seu lado, um colega que se
identificou como Nkuziyaba,
com bafo de álcool e um pedaço
de madeira na mão, foi mais explícito. "Vamos ferrar o Soccer
City [principal estádio da Copa,
também localizado no Soweto]!
Ninguém vai jogar lá!"
Os motoristas de vans têm
poder e sabem disso. Ontem,
em razão da greve, trabalhadores de regiões periféricas de Johannesburgo faltaram ao serviço na área central da cidade,
que abrigará os dois primeiros
jogos do Brasil no Mundial. Algumas lojas e bancos, sem funcionários, ficaram fechados.
Até serviços de emergência
foram afetados. "Arrumei carona, mas muita gente não apareceu", disse Darlington Mootara, que trabalha no hospital
Chris Hani, o maior do país.
O principal ponto de vans do
Soweto ficou deserto à tarde,
num horário em que centenas
de veículos disputam cada centímetro de espaço para levar e
trazer passageiros. "Só vendi
algumas balas hoje", contou o
ambulante Boyi Nxumalo, que
tem uma barraquinha no local.
Para aumentar a preocupação da organização da Copa, a
Cosatu, maior central sindical
do país, ameaça com paralisações devido ao aumento de 25%
na tarifa de energia elétrica
anunciado pelo governo.
"Não estamos em greve em
razão da Copa, mas não vamos
deixar de entrar em greve por
causa dela. Se o governo não
reajustar a energia em níveis
adequados, a greve e a Copa podem coincidir", disse o porta-
-voz da central, Patrick Craven.
Com 2 milhões de filiados, a
Cosatu é uma gigantesca máquina que controla os trabalhadores dos principais setores da
economia do país. Alguns diretamente envolvidos com a realização da Copa, como os de telecomunicações, energia e polícia, além de profissionais de
saúde e até atletas de futebol.
A central diz que ainda negocia com o governo a redução do
reajuste para algo em torno de
6%. "O prazo para negociar está
acabando", avisou Craven.
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