São Paulo, sábado, 16 de abril de 2005

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"Politicamente correto" irrita vizinhos

DE BUENOS AIRES

"Detenção de 36 horas por um insulto. É tremendo", disse o apresentador de TV Sergio Hendler, ao noticiar para a Argentina a liberação, em São Paulo, do jogador Leandro Desábato.
O comentário do jornalista resume a interpretação que prevaleceu na imprensa argentina do episódio -exagero brasileiro.
"[A detenção de Desábato] é um despropósito típico da mania politicamente correta", disse o escritor Martín Caparrós, torcedor do Boca Juniors e autor do recém-lançado livro sobre o centenário do clube, "Boquitas".
A "mania politicamente correta", segundo Caparrós, "consiste em se horrorizar muito com coisas menores e nada com as que realmente merecem". O escritor afirmou que seria interessante verificar "quantos ministros negros há no governo Lula, que se indignou tanto" com o caso Desábato.
A suposição argentina de que a detenção do jogador esconde segundas intenções das autoridades é citada pelo jornal "Clarín". O diário "Olé" avaliza a versão dos dirigentes do Quilmes de que foi uma operação "armada".
"As autoridades argentinas não conseguem entender o que há por trás disso. Há 15 dias, o Brasil estremeceu pela matança de 30 pessoas no Rio. As vítimas eram negras e foram executadas por grupos parapoliciais do Estado. A sensação que domina os argentinos é que houve oportunismo com Desábato", diz o "Clarín".
Em texto para o "Olé", o jogador argentino Sebastián Dominguez, que atua no Corinthians, afirma: "Os brasileiros têm muitos problemas com o racismo e fazem pouco para resolver. Talvez essa confusão tenha a ver com o fato de que [Desábato] é argentino. Já me chamaram de "argentino de merda" e nunca reagi".
A torcida do Quilmes convocou ontem, pelo site oficial do clube, uma marcha de protesto até a embaixada brasileira em Buenos Aires. Com o anúncio da libertação de Desábato, o protesto foi suspenso. "Mas a torcida do São Paulo vai passar a ter problemas aqui", declarou à Folha Luis Alberto Sanchez, funcionário administrativo do Quilmes.
À tarde, a página do Quilmes esteve momentaneamente fora do ar, "por excesso de acessos". (SA)


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