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"Politicamente correto" irrita vizinhos
DE BUENOS AIRES
"Detenção de 36 horas por um
insulto. É tremendo", disse o
apresentador de TV Sergio Hendler, ao noticiar para a Argentina
a liberação, em São Paulo, do jogador Leandro Desábato.
O comentário do jornalista resume a interpretação que prevaleceu na imprensa argentina do episódio -exagero brasileiro.
"[A detenção de Desábato] é
um despropósito típico da mania
politicamente correta", disse o escritor Martín Caparrós, torcedor
do Boca Juniors e autor do recém-lançado livro sobre o centenário
do clube, "Boquitas".
A "mania politicamente correta", segundo Caparrós, "consiste
em se horrorizar muito com coisas menores e nada com as que
realmente merecem". O escritor
afirmou que seria interessante verificar "quantos ministros negros
há no governo Lula, que se indignou tanto" com o caso Desábato.
A suposição argentina de que a
detenção do jogador esconde segundas intenções das autoridades
é citada pelo jornal "Clarín". O
diário "Olé" avaliza a versão dos
dirigentes do Quilmes de que foi
uma operação "armada".
"As autoridades argentinas não
conseguem entender o que há por
trás disso. Há 15 dias, o Brasil estremeceu pela matança de 30 pessoas no Rio. As vítimas eram negras e foram executadas por grupos parapoliciais do Estado. A
sensação que domina os argentinos é que houve oportunismo
com Desábato", diz o "Clarín".
Em texto para o "Olé", o jogador argentino Sebastián Dominguez, que atua no Corinthians,
afirma: "Os brasileiros têm muitos problemas com o racismo e fazem pouco para resolver. Talvez
essa confusão tenha a ver com o
fato de que [Desábato] é argentino. Já me chamaram de "argentino de merda" e nunca reagi".
A torcida do Quilmes convocou
ontem, pelo site oficial do clube,
uma marcha de protesto até a embaixada brasileira em Buenos Aires. Com o anúncio da libertação
de Desábato, o protesto foi suspenso. "Mas a torcida do São Paulo vai passar a ter problemas
aqui", declarou à Folha Luis Alberto Sanchez, funcionário administrativo do Quilmes.
À tarde, a página do Quilmes esteve momentaneamente fora do
ar, "por excesso de acessos".
(SA)
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