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Mão dupla
Empresário faz
sucesso entre
ingleses ao tentar
ensinar o futebol
brasileiro a seus
conterrâneos
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A trajetória meteórica nasceu
com dribles, descontração, jogadas individuais e criatividade.
Uma mistura bem brasileira.
Só que Simon Clifford não precisou nascer no Brasil, falar português ou disputar jogos de futebol
para erguer seu império.
Empresário, inglês, 35 anos, ele
é o dono de um empreendimento
que não pára de crescer graças ao
prestígio do país pentacampeão.
Dez anos atrás, enfastiado pelo
modo como seus conterrâneos
tratam a bola, decidiu buscar uma
forma mais descontraída de ensinar o esporte. Em Leeds (a 318 km
de Londres), nasceu a primeira
"Brazilian Soccer School".
"Ninguém joga como os brasileiros. Então, era preciso criar
uma forma de aprender a jogar
como eles", explica à Folha.
A idéia prosperou como poucas. Clifford é dono hoje de 450
escolas pelo Reino Unido. Mais:
por meio de franquias, o negócio
se expandiu para oito países.
No total, 600 unidades atraem
hoje 500 mil alunos que buscam
adquirir por meio de treinos a
ginga mais famosa do futebol.
Clifford jura que tudo nasceu
por acaso. Professor de educação
física, ele é entusiasta do Middlesbrough, da primeira divisão inglesa. Na década de 90, adorava ver o
hoje palmeirense Juninho entortar zagueiros na Inglaterra.
Após uma partida em 1996, bateu na porta da casa do meia, declarou-se fã e engatou uma conversa. Descobriu que ele e outros
brasileiros haviam começado a
carreira no futsal e conta que teve
teve o estalo.
"Aprendi com o Juninho que,
pela bola ser menor e mais pesada, exige mais precisão do atleta.
Não tive dúvida. Mandei trazer 30
para cá e abri a primeira escola."
Oswaldo Giroldo, pai e empresário de Juninho, recorda-se dos
encontros. "Muita gente batia na
nossa porta, mas lembro que ele
queria saber muito sobre o futebol brasileiro. Nós ensinamos."
Em 1997, Clifford fez um empréstimo, viajou para o Brasil e lapidou seus métodos. Ao ensino
com bolas de futsal, adicionou
música ambiente. Enquanto treinavam, os alunos ouviam sambas
que ele havia gravado durante a
estada em São Paulo.
"Fiz essa opção pelo ritmo contagiante. Percebi que os alunos se
sentiam mais soltos, mais livres
para ousar no treino", recorda.
Ousadia, aliás, é palavra de ordem. Clifford colocou no papel
mais de 200 tipos de dribles que os
garotos têm de executar. Para
ilustrá-los, usou nome de jogadores da seleção. Há desde o famoso
"Rivelino's elastic" até movimentos que imitam Ronaldo, Ronaldinho e Adriano. "Vocês podem
achar absurdo um inglês ensinar
futebol brasileiro. Mas meu método é muito sério. Sou apaixonado
pelo Brasil, fã da seleção de 1982,
do jogo bonito", explica.
O uso que faz da escola brasileira tem pontos polêmicos. Em alguns sites da "Brazilian Soccer
Schools", por exemplo, a Folha
encontrou fotos de Ronaldo, Ronaldinho e Adriano usadas para
atrair alunos. Clifford não paga
direito de imagem aos astros.
"Vou mandar corrigir. Está errado. São muitas unidades, não
dá para ter controle", diz.
O inglês, aliás, jura que o próspero negócio não fez dele um homem rico. Fala que muitos alunos
carentes ficam livres das mensalidade e que tudo o que ganha é revertido para as escolas.
Difícil acreditar, dado o apelo
publicitário que o projeto conseguiu. Uma fabricante de brinquedos deu US$ 2 milhões ao programa para colocar o logo nas camisas dos garotos -que, não por
acaso, são amarelas.
Astros como Michael Owen já
fizeram aulas com Clifford e rasgaram elogios ao programa. Neste
ano, Micah Richards, do Manchester City, marcou um gol na
Copa da Inglaterra e se tornou o
primeiro atleta formado em uma
"Brazilian Soccer School" a balançar as redes na competição.
E ainda há mais na manga. Com
a chegada da Copa, Clifford pode
ganhar mais espaço no mercado.
"Não posso querer que uma seleção como a inglesa vença o
Mundial. É um time que não empolga, não dribla, não vai ajudar a
desenvolver o futebol bem jogado. Por isso quero ver o Brasil
campeão. Mas você vai achar que
só vou torcer pelo seu país por
causa do meu negócio, não é?"
Colaborou Paulo Galdieri,
da Reportagem Local
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