São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

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FUTEBOL
Propaganda da federação não bate com números do Grupo VR; primeira fase, de pouco público, é desprezada
Sucesso do Paulista flutua em números

PAULO COBOS
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
da Reportagem Local

Vendido como sucesso de renda e público por seus organizadores, o Campeonato Paulista de 98 reúne mais dúvidas do que certezas.
Da média de público ao tempo de bola em jogo, os números divulgados pela Federação Paulista de Futebol, por vezes, não batem nem com os de seus parceiros no empreendimento, como o Grupo VR, detentor dos direitos de comercialização do campeonato.
Na verdade, apenas um item encontra concordância em todas as estatísticas feitas sobre o torneio: a média de gols por partida, 3,57.
No restante, sobram divergências e parâmetros desiguais. É o caso da média de público, segundo a federação, 55% superior a da edição do ano passado.
Esse número é o primeiro de uma lista de 13 motivos pelos quais a federação apresenta o campeonato "com um dos melhores do planeta", em um anúncio publicitário veiculado na última segunda-feira em alguns jornais paulistanos.
Para o Grupo VR, responsável pela arrecadação, a média de público, neste momento, apresenta queda de 10% em relação ao ano passado.
Esse número, porém, não leva em consideração os números da primeira fase do campeonato, quando as equipes grandes, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos não participaram.
Computados os 60 jogos dessa fase, a média cairia ainda mais, para 5.267 pagantes por jogo.
Ontem, durante a apresentação do esquema de organização dos jogos semifinais e finais do campeonato, no estádio do Morumbi, Farah afirmou que a média da segunda fase era de 12.942.
Nem o Grupo VR soube explicar a matemática do dirigente.
O próprio Farah tentou. "Comparar médias é muito complicado. Cada campeonato tem suas características próprias", afirmou.
Segundo ele, usar os números da primeira fase geraria distorções. "Seria como comparar as Lojas Americanas com a padaria da esquina", declarou.
De fato, a primeira fase afunda as médias do torneio. Disputado apenas pelas equipes pequenas, com Lusa e Guarani, apresentou média de público de 3.203.
Até mesmo a artilharia desse período foi desprezada. "Foi mais difícil marcar oito gols na segunda fase do que na primeira", disse, citando os casos do atacante França, do São Paulo, e do meia Ranielli, da Matonense.
A regra, porém, não vale para outros itens apresentados na publicidade da federação.
O anúncio, por exemplo, fala dos shows, que só aconteceram na primeira fase, e dos 14 jogadores contratados pela entidade para reforçar os times também na parte inicial do campeonato.
Na verdade, foram apenas 11 os contratos promovidos pela federação, como mostra o próprio site da entidade na Internet.
A dança de números continua na média de tempo de bola em jogo no campeonato. Apesar de escrever em seu anúncio que "temos a melhor tempo de média de bola rolando" da atualidade, o próprio presidente Farah admite que ela diminui 1min30s em relação ao campeonato do ano passado -"Vou cobrar isso dos árbitros".
Pelo Datafolha, a redução chega a 3min30s, computando todo o campeonato.
A publicidade da federação ainda festeja "novidades" que já fazem parte do universo do futebol paulista há algum tempo, como a numeração fixa de camisas, o uso de nove bolas em jogo e os túneis infláveis nos vestiários.
Se sobram dúvidas nos itens declarados, não há como controlar os dados de arrecadação, mantidos em segredo pelo Grupo VR.
Segundo Farah, a arrecadação será quase igual a de 97. "A diferença é que este torneio terá 52 jogos a menos", afirmou.
Para ele, o objetivo de fazer "um campeonato de primeiro mundo" foi alcançado. "Tivemos problemas. Mas na Itália, na Alemanha, eles também existem."



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