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FUTEBOL
Propaganda da federação não bate com números do Grupo VR; primeira fase, de pouco público, é desprezada
Sucesso do Paulista flutua em números
PAULO COBOS
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
da Reportagem Local
Vendido como sucesso de renda
e público por seus organizadores,
o Campeonato Paulista de 98 reúne mais dúvidas do que certezas.
Da média de público ao tempo
de bola em jogo, os números divulgados pela Federação Paulista
de Futebol, por vezes, não batem
nem com os de seus parceiros no
empreendimento, como o Grupo
VR, detentor dos direitos de comercialização do campeonato.
Na verdade, apenas um item encontra concordância em todas as
estatísticas feitas sobre o torneio: a
média de gols por partida, 3,57.
No restante, sobram divergências e parâmetros desiguais. É o
caso da média de público, segundo a federação, 55% superior a da
edição do ano passado.
Esse número é o primeiro de
uma lista de 13 motivos pelos
quais a federação apresenta o
campeonato "com um dos melhores do planeta", em um anúncio
publicitário veiculado na última
segunda-feira em alguns jornais
paulistanos.
Para o Grupo VR, responsável
pela arrecadação, a média de público, neste momento, apresenta
queda de 10% em relação ao ano
passado.
Esse número, porém, não leva
em consideração os números da
primeira fase do campeonato,
quando as equipes grandes, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e
Santos não participaram.
Computados os 60 jogos dessa
fase, a média cairia ainda mais,
para 5.267 pagantes por jogo.
Ontem, durante a apresentação
do esquema de organização dos
jogos semifinais e finais do campeonato, no estádio do Morumbi,
Farah afirmou que a média da segunda fase era de 12.942.
Nem o Grupo VR soube explicar
a matemática do dirigente.
O próprio Farah tentou. "Comparar médias é muito complicado.
Cada campeonato tem suas características próprias", afirmou.
Segundo ele, usar os números da
primeira fase geraria distorções.
"Seria como comparar as Lojas
Americanas com a padaria da esquina", declarou.
De fato, a primeira fase afunda
as médias do torneio. Disputado
apenas pelas equipes pequenas,
com Lusa e Guarani, apresentou
média de público de 3.203.
Até mesmo a artilharia desse período foi desprezada. "Foi mais difícil marcar oito gols na segunda
fase do que na primeira", disse, citando os casos do atacante França,
do São Paulo, e do meia Ranielli,
da Matonense.
A regra, porém, não vale para
outros itens apresentados na publicidade da federação.
O anúncio, por exemplo, fala
dos shows, que só aconteceram na
primeira fase, e dos 14 jogadores
contratados pela entidade para reforçar os times também na parte
inicial do campeonato.
Na verdade, foram apenas 11 os
contratos promovidos pela federação, como mostra o próprio site
da entidade na Internet.
A dança de números continua
na média de tempo de bola em jogo no campeonato. Apesar de escrever em seu anúncio que "temos
a melhor tempo de média de bola
rolando" da atualidade, o próprio
presidente Farah admite que ela
diminui 1min30s em relação ao
campeonato do ano passado
-"Vou cobrar isso dos árbitros".
Pelo Datafolha, a redução chega
a 3min30s, computando todo o
campeonato.
A publicidade da federação ainda festeja "novidades" que já fazem parte do universo do futebol
paulista há algum tempo, como a
numeração fixa de camisas, o uso
de nove bolas em jogo e os túneis
infláveis nos vestiários.
Se sobram dúvidas nos itens declarados, não há como controlar
os dados de arrecadação, mantidos em segredo pelo Grupo VR.
Segundo Farah, a arrecadação
será quase igual a de 97. "A diferença é que este torneio terá 52 jogos a menos", afirmou.
Para ele, o objetivo de fazer "um
campeonato de primeiro mundo"
foi alcançado. "Tivemos problemas. Mas na Itália, na Alemanha,
eles também existem."
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