São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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FUTEBOL

Jogadores, que têm pouco tempo de adaptação, dizem que produto criado para o Mundial é muito leve e grande

Bola da Copa traz dor de cabeça à seleção

FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A BARCELONA

Além do curtíssimo tempo de preparação para a Copa, o menor da história, dos desfalques no início dos treinos e dos jogadores em condições incertas para a disputa do Mundial, a seleção ganhou mais um problema: a bola que será usada na competição.
Escolhida pela Fifa como a bola oficial da Copa, a Adidas Fevernova é uma novidade para a maioria dos jogadores da seleção e foi criticada por boa parte deles.
A preocupação não recai apenas sobre as características da bola, considerada muito leve e grande, mas também se deve ao pouco tempo que o time terá para se adaptar a ela -faltam 18 dias para a estréia brasileira no Mundial, 3 de junho, diante da Turquia.
"A bola não é muito boa. É muito leve e um pouco grande. Particularmente, não gostei", disse Edílson, que teve seu primeiro contato com a Fevernova anteontem. Para o atacante, o costume com os gramados brasileiros -normalmente mais altos e secos que os europeus e asiáticos- torna a sensação mais estranha.
"Os campos brasileiros prendem a bola. Aqui ela corre muito, ainda mais pela leveza."
O meia-atacante Rivaldo, recuperando-se de contusão, deu apenas leves toques no objeto da polêmica, mas o suficiente para traçar seu diagnóstico. "Ela é muito leve. Vai dificultar mais para os goleiros. Quando os atacantes chutarem, e a bola for forte ao gol, não será fácil de defender porque ela desvia bem", afirmou.
O goleiro Rogério confirmou o receio do colega. Exímio batedor de faltas, ele declarou que, com a nova bola, prefere a segunda função. "Ela é mais gostosa para quem chuta do que para quem defende, pois pega uma velocidade grande. É maior e mais leve do que as que estamos acostumados. Vamos ter que nos adaptar nos próximos dias para chegar à Copa com total controle sobre ela."
Marcos, seu colega de posição, disse que há, também no Brasil, bolas velozes como a do Mundial, mas com uma diferença crucial. "A responsabilidade de errar num jogo no Brasil por um desvio da bola é muito diferente de você errar num jogo de Copa."
Por isso, declarou o titular do gol da seleção, o time treinou exaustivamente ontem e anteontem chutes de fora da área. "Vamos fazer tudo para nos adaptarmos o mais rápido possível."
Os poucos atletas que já experimentaram a Fevernova, na Europeu, alertam, entretanto, que esse processo não será fácil para todos.
"Já joguei neste ano com ela no Campeonato Francês. Aqueles que têm dificuldade para se adaptar vão ter problemas. São principalmente os que estão ali na frente do gol, que para chutar têm que calcular a força e a velocidade da bola. Para o goleiro também, às vezes a bola sai variando muito", afirmou o zagueiro Edmílson.
O atacante Denílson foi uma voz isolada entre os 17 jogadores da seleção que estão em Barcelona. "Não vejo problema nenhum. Para mim está bom."
Nos dois dias de treinos com bola no miniestádio do Barcelona, a falta de intimidade com a nova bola pôde ser constatada em alguns lances bisonhos, como chutes para a arquibancada (protagonizados principalmente por Ronaldo e Kaká), furadas (Edílson, em treino de ontem) e cruzamentos muito tortos (num lance desses, com o lateral Júnior, o técnico Scolari comentou: "Desaprendeu, foi?").
A Adidas, parceira da Fifa e concorrente da Nike, patrocinadora da seleção, informou que gastou sete anos e cerca de R$ 1 milhão para desenvolver a Fevernova. A empresa diz que, apesar de ser mais potente e rápida, a bola mantém o peso recomendado pela Fifa (430 gramas).
Lançada especialmente para a Copa-2002, ela foi batizada com uma palavra que, para a Adidas, define o espírito de um Mundial: "fever", em inglês, é febre; nova é uma estrela de cintilação intensa, mas intermitente.


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