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Presidente sanciona projetos do torcedor e da moralização, mas teme que não saiam do papel
Lula já pede ajuda para emplacar leis do esporte
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"É importante ter em conta que
no Brasil há lei que pega e lei que
não pega." Ao sancionar o Estatuto do Torcedor e o projeto de conversão em lei da MP 79, Luiz Inácio Lula da Silva deixou clara sua
preocupação de que as medidas
para moralização do esporte
caiam no segundo caso.
"Para [a nova lei] pegar, é preciso que as pessoas responsáveis
deste país comecem a falar dela,
para que o povo [torcedor] seja
respeitado na sua cidadania."
O projeto de conversão em lei
da medida provisória 79 prevê
que as entidades esportivas terão
suas atividades profissionais
equiparadas às das sociedades
empresariais para efeitos tributários, fiscais, previdenciários, contábeis e administrativos.
Os dirigentes com gestões irregulares ou inadimplentes com
suas prestações de contas poderão ser afastados de seus cargos,
enquanto os clubes deverão tornar públicos seus balanços. Se não
o fizerem, não poderão obter
mais financiamento público.
Já o Estatuto do Torcedor determina uma série de direitos e deveres para quem vai assistir a um espetáculo esportivo.
As entidades responsáveis pela
organização de campeonatos terão, entre outras obrigações, que
nomear um ouvidor para responder a reclamações, definir a tabela
e o regulamento pelo menos 60
dias antes de seu início, emitir
apenas ingressos numerados e garantir a segurança do torcedor.
Por outro lado, quem for detido
por causar tumultos em um evento esportivo será impedido de frequentar estádios por um período
de três meses a um ano.
As leis entram em vigor a partir
de sua publicação no "Diário Oficial", o que aconteceria hoje, segundo o Ministério do Esporte.
Caberá ao Ministério Público fiscalizar sua aplicação.
Antes mesmo de terem sido
sancionadas por Lula, as medidas
para o esporte já causavam polêmica. Dirigentes de futebol chegaram a dizer que elas foram pouco
discutidas com a sociedade e que
nem todas podem ser cumpridas.
O Clube dos 13, por exemplo,
discordava de item que diz que as
entidades responsáveis pela competição respondem, independentemente de culpa, por prejuízos
ao torcedor decorrentes de falha
de segurança no estádio.
Já a CBF protestava contra a
obrigação de garantir aos clubes
-tem mais de 500 filiados- participação em competições durante pelo menos dez meses por ano.
Mas as maiores reclamações
partem dos outros esportes. Algumas confederações dizem não ser
possível fazer um campeonato
sem times convidados -a partir
de agora só podem jogar os classificados por critérios técnicos.
Afirmam não ter recursos para
pagar seguro aos torcedores e numerar as arquibancadas -boa
parte dos eventos é gratuita.
E pior: se não cumprirem as exigências, podem perder os recursos da Lei Piva, dinheiro público
advindo das loterias que se tornou o principal financiador das
confederações olímpicas.
Elas têm esperanças, contudo,
de que alterações sejam feitas no
Estatuto do Desporto, projeto de
lei mais abrangente que vai abarcar todas as modalidades e deve se
tornar o principal norte da política esportiva do país.
"Estou concluindo o texto e devo apresentar uma versão final no
início de junho", disse o deputado
Gilmar Machado (PT-MG), responsável pelo projeto.
Segundo ele, a intenção de Lula
era votar o texto no primeiro semestre, mas, como as prioridades
do PT são as reformas tributária e
previdenciária, ele pode ser analisado somente em agosto.
Apesar de não terem sofrido alterações no Congresso, os textos
receberam oito vetos no total da
Presidência. Nenhum deles, entretanto, alterou a essência do
projeto.
(ADALBERTO LEISTER FILHO, GUILHERME ROSEGUINI, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO E WILSON SILVEIRA)
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