São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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TOSTÃO

Metáfora da vida


Época de Copa, de convocação e de discursos ufanistas é uma boa chance para conhecer o comportamento humano


A COPA DO MUNDO , a convocação da seleção brasileira e os discursos ufanistas de Dunga e Jorginho despertaram opiniões e sentimentos contraditórios.
As discussões estão nas ruas e na mídia, não só na esportiva. As análises refletem os diferentes comportamentos humanos.
Nas discussões técnicas, existem os que concordam com as escolhas de Dunga e com seu jeito operatório e obsessivo pelo resultado. Acham que só assim os jogadores terão raça e disciplina para ganhar o Mundial.
Outros criticam a falta de ousadia, de flexibilidade e de comprometimento do treinador com a beleza, com a qualidade do jogo e com as características e a história do fute- bol brasileiro.
É preciso lembrar, para não ser injusto, que não foi Dunga quem mudou o estilo brasileiro.
Houve, durante décadas, uma progressiva transformação em nossa maneira de jogar. O Brasil exportou a fantasia e a habilidade e importou a força física, o pragmatismo e a disciplina tática.
Os europeus levaram vantagem na troca. Ficou quase tudo igual.
Há ainda os que apoiam o discurso estreito e nacionalista de Dunga e suas costumeiras palavras, como patriotismo, comprometimento, doação, superação, e os que detestam essa postura e expressões como "temos de sangrar e sofrer", "se não gostam de mim, que gostem do Brasil" e tantas outras bobagens.
As diferentes coberturas da imprensa despertam também variadas preferências. Um dos lemas da TV Globo é "nosso esporte é torcer pelo Brasil". Parece discurso de Dunga. Deve aumentar a audiência.
Como todo treinador da seleção, logo depois da convocação para o Mundial, e todo presidente, depois de ser eleito, Dunga, com uma camisa verde, e outra amarela, foi ao "Jornal Nacional" para ser entrevistado ao vivo. Faz parte.
Outros preferem assistir, ler e acompanhar a cobertura em uma imprensa mais crítica, que não vai para torcer, e sim para informar e analisar com independência.
Há os que dizem que a mídia mais otimista, mais tolerante e menos crítica faz parte da imprensa oficial. Já outros falam que a mídia mais crítica é muito pessimista, mal-humorada, derrotista, que só vê o lado ruim e que torce contra a seleção brasileira.
Imagino que há muitas semelhanças entre os que apoiam as escolhas e os discursos de Dunga com os que preferem acompanhar o Mundial em uma imprensa mais otimista e tolerante. Da mesma forma, devem ser parecidos os que detestam as preferências e ufanismos de Dunga com os que gostam de uma mídia mais crítica.
Existem também os que misturam suas escolhas. Gostam do técnico Dunga, mas não gostam do cidadão Dunga, ou vice-versa. Assistem a todos os tipos de cobertura da imprensa para fazer suas escolhas. Gostam e criticam todas.
Há ainda os que não têm nenhuma ideologia. Decidem pelo hábito, pelo prestígio, pela propaganda e pelo que outros disseram. Não escolhem. São escolhidos. Talvez sejam a maioria.
Alguém já disse que o futebol é a verdadeira linguagem universal do mundo, uma metáfora da vida, do comportamento e da dualidade humana. Menos, menos.


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