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O peso da Copa
Para médico alemão que examinou Ronaldo, mal-estar está ligado ao estresse da preparação para a
Copa; atacante volta a treinar, diz que tem direito a jogar mal e que "ninguém merece essa pressão"
EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN
Ronaldo foi golpeado por
seus nervos novamente. O mal-estar que o levou ao hospital
anteontem, em Frankfurt, está
ligado ao estresse enfrentado
desde o início da preparação da
seleção brasileira para a Copa.
O diagnóstico foi dado pelo
médico alemão que o atendeu,
segundo pessoas próximas ao
atacante. José Luiz Runco, médico do time nacional, confirmou que uma crise emocional
pode ter causado as tonturas,
um dos sintomas apresentados.
"Não podemos afastar a possibilidade de a sobrecarga de
estresse ser o motivo de uma
pessoa ter um quadro de tonteira", declarou Runco.
"Ninguém merece essa pressão", disse Ronaldo, que, em
público, afirma que seus problemas físicos não têm relação
com o aspecto emocional.
Na Copa de 1998, horas antes
da final contra a França, o jogador teve uma crise nervosa que
quase o tirou da partida.
Agora, o problema estourou
depois da estréia, um dia após o
atacante ter atuação apática na
vitória sobre a Croácia.
Uma combinação de pequenos problemas físicos com o
desgaste causado por uma troca de farpas com o presidente
Lula gerou o abalo emocional.
No hospital, Ronaldo passou
por exames. Fez tomografia,
endoscopia e exame de sangue.
Os resultados não apontaram
nada de anormal, de acordo
com o médico da seleção. Segundo ele, Ronaldo havia sentido tonturas na semana passada. O meia Kaká declarou que o
companheiro se queixou antes
do jogo com a Croácia. Já Sônia,
mãe do atacante, disse que ele
pediu para sair de campo.
"Em medicina, só posso partir para o lado emocional quando fecho todo o meu lado orgânico. E, nesse aspecto, ele não
tem nenhum problema."
Amigos do jogador que estão
na Alemanha afirmam que o
médico alemão detectou uma
crise de ansiedade. Na Espanha, colegas dele disseram que
o atacante está estressado.
Questionado ontem se estava
estressado, reagiu de maneira
ríspida. "Você não ouviu o que
eu falei até agora?", respondeu.
Motivos para ficar tenso ele
tem desde que o Brasil iniciou a
reta final de treinos para a Copa, em Weggis, na Suíça.
Primeiro, sofreu com bolhas
no pé esquerdo, que o obrigaram a deixar o amistoso com a
Nova Zelândia no intervalo.
Depois, teve febre, diagnosticada por Runco como virose.
Em seguida, aconteceu o desentendimento com Lula.
A conturbada preparação
culminou com o fracasso na estréia, quando foi substituído e
vaiado pelos torcedores.
Após o jogo, o atacante saiu
por porta lateral do vestiário e
evitou a imprensa. Enquanto
isso, Kaká pedia mais movimentação do colega. Ronaldo
não gostou da declaração.
No dia seguinte, queixou-se
de tontura e dor de cabeça. Só
dez horas após Ronaldo ter deixado a concentração, a CBF revelou a passagem do jogador
pelo hospital em Frankfurt.
"No dia da folga, me senti
mareado, fiz uma bateria de
exames e nada apareceu. Fui
medicado e agora estou bem",
disse o jogador ontem, minutos
antes de treinar com os colegas.
Pela primeira vez, ele falou
sobre seu desempenho contra a
Croácia. "Não está escrito no
meu manual que eu tenho de
jogar sempre bem."
Com tantos problemas, Ronaldo já tem a vaga no time
ameaçada. Se não se recuperar
até o jogo contra o Japão, o último da primeira fase, na próxima quinta, será tirado por Carlos Alberto Parreira. Domingo,
contra a Austrália, ele joga.
"Não tenho problema em ser
reserva. Nunca fui rebelde."
A pressão sobre Ronaldo já
respinga nas pessoas mais próximas a ele, que procuram evitar o assunto. Fabiano Farah,
empresário e amigo do jogador,
é um dos responsáveis por blindar os parentes do atacante.
O pai e a mãe de Ronaldo, que
são separados, estão com o
agente, em Munique. Na casa
em que estão hospedados, são
evitados os programas de TV
com notícias do Brasil.
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