São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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O peso da Copa

Para médico alemão que examinou Ronaldo, mal-estar está ligado ao estresse da preparação para a Copa; atacante volta a treinar, diz que tem direito a jogar mal e que "ninguém merece essa pressão"

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN

Ronaldo foi golpeado por seus nervos novamente. O mal-estar que o levou ao hospital anteontem, em Frankfurt, está ligado ao estresse enfrentado desde o início da preparação da seleção brasileira para a Copa.
O diagnóstico foi dado pelo médico alemão que o atendeu, segundo pessoas próximas ao atacante. José Luiz Runco, médico do time nacional, confirmou que uma crise emocional pode ter causado as tonturas, um dos sintomas apresentados.
"Não podemos afastar a possibilidade de a sobrecarga de estresse ser o motivo de uma pessoa ter um quadro de tonteira", declarou Runco.
"Ninguém merece essa pressão", disse Ronaldo, que, em público, afirma que seus problemas físicos não têm relação com o aspecto emocional.
Na Copa de 1998, horas antes da final contra a França, o jogador teve uma crise nervosa que quase o tirou da partida.
Agora, o problema estourou depois da estréia, um dia após o atacante ter atuação apática na vitória sobre a Croácia.
Uma combinação de pequenos problemas físicos com o desgaste causado por uma troca de farpas com o presidente Lula gerou o abalo emocional.
No hospital, Ronaldo passou por exames. Fez tomografia, endoscopia e exame de sangue. Os resultados não apontaram nada de anormal, de acordo com o médico da seleção. Segundo ele, Ronaldo havia sentido tonturas na semana passada. O meia Kaká declarou que o companheiro se queixou antes do jogo com a Croácia. Já Sônia, mãe do atacante, disse que ele pediu para sair de campo.
"Em medicina, só posso partir para o lado emocional quando fecho todo o meu lado orgânico. E, nesse aspecto, ele não tem nenhum problema."
Amigos do jogador que estão na Alemanha afirmam que o médico alemão detectou uma crise de ansiedade. Na Espanha, colegas dele disseram que o atacante está estressado.
Questionado ontem se estava estressado, reagiu de maneira ríspida. "Você não ouviu o que eu falei até agora?", respondeu.
Motivos para ficar tenso ele tem desde que o Brasil iniciou a reta final de treinos para a Copa, em Weggis, na Suíça.
Primeiro, sofreu com bolhas no pé esquerdo, que o obrigaram a deixar o amistoso com a Nova Zelândia no intervalo.
Depois, teve febre, diagnosticada por Runco como virose. Em seguida, aconteceu o desentendimento com Lula.
A conturbada preparação culminou com o fracasso na estréia, quando foi substituído e vaiado pelos torcedores.
Após o jogo, o atacante saiu por porta lateral do vestiário e evitou a imprensa. Enquanto isso, Kaká pedia mais movimentação do colega. Ronaldo não gostou da declaração.
No dia seguinte, queixou-se de tontura e dor de cabeça. Só dez horas após Ronaldo ter deixado a concentração, a CBF revelou a passagem do jogador pelo hospital em Frankfurt.
"No dia da folga, me senti mareado, fiz uma bateria de exames e nada apareceu. Fui medicado e agora estou bem", disse o jogador ontem, minutos antes de treinar com os colegas.
Pela primeira vez, ele falou sobre seu desempenho contra a Croácia. "Não está escrito no meu manual que eu tenho de jogar sempre bem."
Com tantos problemas, Ronaldo já tem a vaga no time ameaçada. Se não se recuperar até o jogo contra o Japão, o último da primeira fase, na próxima quinta, será tirado por Carlos Alberto Parreira. Domingo, contra a Austrália, ele joga. "Não tenho problema em ser reserva. Nunca fui rebelde."
A pressão sobre Ronaldo já respinga nas pessoas mais próximas a ele, que procuram evitar o assunto. Fabiano Farah, empresário e amigo do jogador, é um dos responsáveis por blindar os parentes do atacante.
O pai e a mãe de Ronaldo, que são separados, estão com o agente, em Munique. Na casa em que estão hospedados, são evitados os programas de TV com notícias do Brasil.


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