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Vale da bola e da pobreza move Equador na Copa
Quatro dos 11 titulares da seleção, que vai ao mata-mata, são de região de 30 mil pessoas
LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Autor do segundo gol do
Equador na vitória sobre a Costa Rica, eleito o melhor em
campo pela Fifa e um dos artilheiros do Mundial com dois
gols, Agustin Delgado confirmou ontem a força boleira de
uma região pobre do Equador.
O centroavante é um dos quatro titulares da seleção equatoriana que saíram de El Chota,
vale que reúne 30 mil habitantes em pequenas cidades e povoados ao norte de Quito.
O centroavante Delgado, o
zagueiro Giovanny Espinoza e
o meio-campista Edison Méndez cresceram em Juncal, uma
dessas pequenas cidades. Perto
dali, em Piquiucho, povoado de
700 habitantes, nasceu o lateral
Ulises de la Cruz.
Habitado por descendentes
de escravos africanos, o vale del
Chota tem na agricultura sua
principal fonte de recursos,
com plantações de tomate e
abacate. Rendem, segundo seus
moradores, menos de R$ 10 por
dia. É uma área pobre de um
país também pobre, que tem
41% de sua população abaixo da
linha de pobreza e está em 82º
no índice de desenvolvimento
humano, o IDH -o Brasil ocupa a 63º posição.
"A vida é difícil por aqui, mas
temos esperança em nossas
crianças", afirmou à agência
Reuters Arturo Delgado, pai do
atacante e que ainda vive em
Juncal, em uma casa de dois
quartos cheia de fotos do filho.
Apesar das dificuldades, El
Chota "exporta" jogadores de
futebol há 20 anos. O pioneiro
foi Arnulfo Palacios, contratado pelo Aucas, equipe de Quito
que está na primeira divisão.
Seus passos foram seguidos e,
já na seleção que foi ao Mundial
de 2002, havia sete jogadores
nascidos no vale.
"Hoje todas as equipes estão
atentas a El Chota. O exemplo
de sucesso de jogadores como
Delgado e a tentativa de escapar da pobreza são as chaves do
fenômeno da região", analisa
José Navarro, editor da revista
de futebol "Estadio". Há atletas
de El Chota nos principais clubes do país e no exterior -Delgado joga na LDU, e De la Cruz,
no inglês Aston Villa.
Na América do Sul, o time do
Equador é o mais "nacional": 18
dos 23 atletas jogam no país,
que já está garantido na segunda fase da Copa da Alemanha.
O centroavante equatoriano
é um dos responsáveis pelo êxito do vale. Criou em Juncal a
Fundação Agustin Delgado,
que ensina futebol a cerca de
300 crianças da região. Mas a
estrutura é precária: não há estádio nem gramado para treinamento. Uniformizados, todos aprendem os fundamentos
da bola em um campo de terra
batida, ao lado de um viaduto.
As aulas são diárias, coordenadas por Martín Delgado, primo do jogador. "Acho que aqui
se nasce para jogar futebol",
disse Luis García, um dos professores da fundação, ao semanário hispânico "Excelsior".
Opinião mais racional tem o
ex-técnico da seleção equatoriana Ernesto Guerra, que crê
que o biótipo dos jovens da região, altos e fortes, faz com que
eles levem vantagem em relação ao resto do país. Mais uma
vez, Delgado é o exemplo, com
1,87 m e 83 kg. Como ele fez, os
garotos de El Chota jogam em
ligas e torneios regionais para
tentar atrair os olheiros das
equipes profissionais.
Outro a voltar suas atenções
a El Chota foi De la Cruz, que
criou centro médico e odontológico em Piquiucho. Sua fundação atende gratuitamente estudantes e cobra pouco mais de
R$ 1 de idosos por consulta.
Com agências internacionais
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