São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Vale da bola e da pobreza move Equador na Copa

Quatro dos 11 titulares da seleção, que vai ao mata-mata, são de região de 30 mil pessoas

LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Autor do segundo gol do Equador na vitória sobre a Costa Rica, eleito o melhor em campo pela Fifa e um dos artilheiros do Mundial com dois gols, Agustin Delgado confirmou ontem a força boleira de uma região pobre do Equador. O centroavante é um dos quatro titulares da seleção equatoriana que saíram de El Chota, vale que reúne 30 mil habitantes em pequenas cidades e povoados ao norte de Quito.
O centroavante Delgado, o zagueiro Giovanny Espinoza e o meio-campista Edison Méndez cresceram em Juncal, uma dessas pequenas cidades. Perto dali, em Piquiucho, povoado de 700 habitantes, nasceu o lateral Ulises de la Cruz.
Habitado por descendentes de escravos africanos, o vale del Chota tem na agricultura sua principal fonte de recursos, com plantações de tomate e abacate. Rendem, segundo seus moradores, menos de R$ 10 por dia. É uma área pobre de um país também pobre, que tem 41% de sua população abaixo da linha de pobreza e está em 82º no índice de desenvolvimento humano, o IDH -o Brasil ocupa a 63º posição.
"A vida é difícil por aqui, mas temos esperança em nossas crianças", afirmou à agência Reuters Arturo Delgado, pai do atacante e que ainda vive em Juncal, em uma casa de dois quartos cheia de fotos do filho.
Apesar das dificuldades, El Chota "exporta" jogadores de futebol há 20 anos. O pioneiro foi Arnulfo Palacios, contratado pelo Aucas, equipe de Quito que está na primeira divisão. Seus passos foram seguidos e, já na seleção que foi ao Mundial de 2002, havia sete jogadores nascidos no vale.
"Hoje todas as equipes estão atentas a El Chota. O exemplo de sucesso de jogadores como Delgado e a tentativa de escapar da pobreza são as chaves do fenômeno da região", analisa José Navarro, editor da revista de futebol "Estadio". Há atletas de El Chota nos principais clubes do país e no exterior -Delgado joga na LDU, e De la Cruz, no inglês Aston Villa.
Na América do Sul, o time do Equador é o mais "nacional": 18 dos 23 atletas jogam no país, que já está garantido na segunda fase da Copa da Alemanha.
O centroavante equatoriano é um dos responsáveis pelo êxito do vale. Criou em Juncal a Fundação Agustin Delgado, que ensina futebol a cerca de 300 crianças da região. Mas a estrutura é precária: não há estádio nem gramado para treinamento. Uniformizados, todos aprendem os fundamentos da bola em um campo de terra batida, ao lado de um viaduto.
As aulas são diárias, coordenadas por Martín Delgado, primo do jogador. "Acho que aqui se nasce para jogar futebol", disse Luis García, um dos professores da fundação, ao semanário hispânico "Excelsior".
Opinião mais racional tem o ex-técnico da seleção equatoriana Ernesto Guerra, que crê que o biótipo dos jovens da região, altos e fortes, faz com que eles levem vantagem em relação ao resto do país. Mais uma vez, Delgado é o exemplo, com 1,87 m e 83 kg. Como ele fez, os garotos de El Chota jogam em ligas e torneios regionais para tentar atrair os olheiros das equipes profissionais.
Outro a voltar suas atenções a El Chota foi De la Cruz, que criou centro médico e odontológico em Piquiucho. Sua fundação atende gratuitamente estudantes e cobra pouco mais de R$ 1 de idosos por consulta.


Com agências internacionais


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