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SONINHA
"Aprendendo com as derrotas?"
Pelo jeito, não... Depois de um jogo horrível, o Brasil se queixou do árbitro e pôs a culpa em alguns "detalhes"
EMBORA fosse jogo para valer,
contando pontos na busca
por uma vaga na Copa do
Mundo, e não apenas algum registro
sem maior importância (tipo ""vitória inédita contra a Irlanda"), o pior
de ontem não foi o fato de o Brasil
ter perdido. O pior foi não ter jogado
nada que prestasse. E, para variar,
não ter admitido isso.
É verdade que as vitórias, às vezes,
escondem alguns erros como reconheceu, com honestidade, o técnico
Paulo Bassul, depois de ter derrotado a Espanha no Pré-Olímpico feminino de basquete em Madri. Em seguida, perdeu para a Belarus, na partida em que Iziane se recusou a voltar para a quadra depois de ter ficado alguns minutos no banco. De novo, foi corajoso ao dizer que a derrota não foi culpa de sua insubordinação, mas resultado de apresentação
ruim do time. O Brasil acabou se
classificando para a Olimpíada...
Não estou dizendo que franqueza
é o segredo para vencer campeonatos; o que funcionou foi o diagnóstico correto, tanto da vitória quanto
da derrota e, ao que tudo indica, nem
para isso serviu o jogo no Paraguai.
Nas entrevistas depois da partida,
os jogadores culparam o árbitro e os
"detalhes" que fizeram com que tomassem dois gols e não fizessem nenhum. Muitas vezes é assim mesmo,
o resultado não reflete o jogo.
Só que não foi o caso. O Paraguai
não fez nada de espetacular, mas
executou com muita competência
duas funções básicas: marcar e atacar, ou melhor, contra-atacar.
Durante a semana, Dunga disse
duvidar que o adversário, líder das
eliminatórias, fosse mesmo para cima do Brasil, como estava prometendo. ""Na hora, vem todo mundo
fechadinho." Cheguei a dizer: ""Tomara mesmo que ele se prepare para
as duas possibilidades, porque a seleção vive se dizendo surpreendida".
Quantas vezes, depois de um mau
resultado, os brasileiros saíram de
campo reclamando da marcação
apertada? Queriam o quê?
Pois é, o Paraguai fez uma marcação sufocante, não deixava nenhum
dos nossos jogadores receber a bola
com espaço e tempo para dominar e
pensar o que fazer com ela.
E ninguém de camisa amarela estava particularmente inspirado para
resolver a situação naquele lance individual irreprimível, que marcador
nenhum é capaz de deter. Até houve
um ou outro bom momento, mas foram meros lampejos em um jogo
muito feio. E os paraguaios ainda tinham o contra-ataque...
Papel da seleção brasileira é se livrar de retrancas, furar bloqueios,
desmontar sistemas defensivos. E,
como hoje somos capazes de admitir (ou não?), identificar os pontos
fortes do adversário para tentar
anulá-los. É tão óbvio que é quase ridículo, mas será que é isso que estamos tentando fazer? Montamos
uma equipe criativa, com muitas jogadas e estratégias, que possa demonstrar por que o futebol brasileiro é tão importante no cenário mundial? Ahn... Não. Construímos, então, um sistema defensivo sólido,
que pode não ser infalível, mas jamais é surpreendido por um Cabañas da vida? Também não! Parece
que nossa grande esperança nas eliminatórias é sempre a Argentina.
Diante dela, vamos nos redimir, jogar tudo o que sabemos. Pode até
ser, mas que uma possível vitória
não esconda nossos muitos erros.
soninha.folha@uol.com.br
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