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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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FUTEBOL

A perfeição quase existe

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Em uma das colunas anteriores, escrevi que o técnico ideal seria o que tivesse a calma, a sensatez, a racionalidade e os conhecimentos científicos do Parreira e a ousadia, a imprevisibilidade, a emotividade e a capacidade de incendiar e unir os atletas do Felipão. Esse supertécnico existe: é o Bernardinho.
Numa ocasião, assistia a um show do João Gilberto, que não parava de reclamar da qualidade do som da casa. Um espectador, lá de trás, perguntou: "João, existe a perfeição?". Ele respondeu: "Não, mas a imperfeição me incomoda muito". Assim são os grandes vencedores, como Bernardinho. Sabem que a perfeição não existe, mas a procura, insistentemente. Nunca estão satisfeitos. Sofrem e comemoram os títulos.
No programa "Arena Sportv", Cleber Machado citou uma entrevista do Bernardinho, em que o técnico dizia: "No vôlei, um atleta pior e que treina mais se torna muito melhor do que um mais talentoso e que treina menos".
Isso parece evidente em qualquer esporte, porém é muito mais verdadeiro e marcante no vôlei do que no futebol. O vôlei é um esporte muito mais de técnica e de jogadas ensaiadas do que de habilidade. Os lances são mais previsíveis. Talvez o levantador seja exceção. A técnica pode ser muito mais aprimorada com treinos do que a habilidade e a criatividade.
A técnica, em qualquer esporte, não é somente a execução dos fundamentos básicos. É também a capacidade de vencer e superar obstáculos. Isso envolve outros fatores, como a preparação física e emocional, o planejamento fora e dentro de campo, a disciplina tática, a garra, a atenção, a consciência das virtudes e das deficiências, a competência da comissão técnica e muitas outras qualidades.
Resumindo, além de talento, é preciso ter profissionalismo, como acontece no vôlei brasileiro, dentro e fora da quadra.

Passado e presente
No futebol do passado, predominava muito mais a habilidade, a fantasia e a criatividade do que a técnica e a tática. Era mais lúdico, uma gostosa brincadeira, uma pelada organizada. Os craques repetiam nos gramados o que faziam na infância, nos campos de terra.
Hoje, há em cada esquina uma escolinha de futebol e de negócios, tentando ensinar os fundamentos técnicos aos garotos. Não é momento para isso. A criança precisa se divertir com a bola, sem regras e professores. Nessa fase é que se descobrem e desenvolvem a habilidade e a criatividade. Isso acontece brincando.
Além disso, o menino não tem adequado desenvolvimento psicomotor para aprender os fundamentos técnicos, as regras e as posições em campo. Isso deve ser feito nas categorias de base dos clubes.
A seleção brasileira de 70, ao mesmo tempo em que encantou o mundo pela fantasia, foi o início do futebol mais técnico, tático e disciplinado. Houve uma grande preparação científica para o Mundial no México.
Não é verdade que a seleção de 70 só se preocupava em atacar, que cada um fazia o que queria em campo e que não precisava de treinador. A equipe unia o talento individual com o coletivo. Atacava com muitos jogadores, e todos recuavam quando perdia a bola. É o que fazem hoje as grandes equipes.
A partir daí, houve uma supervalorização progressiva da tática, do preparo físico, da marcação e do cientificismo no futebol.
O esporte ficou menos vistoso e mais competitivo. Há hoje uma tendência ao equilíbrio. A beleza e a eficiência são fundamentais.

Sem surpresas
Não há surpresas na posição das equipes do Rio de Janeiro no Campeonato Brasileiro.
O time do Fluminense é individualmente fraco.
O Flamengo poderia fazer uma campanha melhor, pela qualidade de alguns jogadores, mas não houve planejamento administrativo e técnico para isso. A equipe é também muito irregular.
O Botafogo está se organizando, dentro e fora de campo. A equipe de Caio Martins fez uma longa e boa preparação. Para a Série B, o time individualmente é bom e merece a liderança.
O Vasco fez uma opção totalmente equivocada, ao contratar jogadores veteranos, em decadência. Se o Léo Lima e o Souza jogassem em equipes organizadas e fossem mais bem orientados, teriam grandes chances de se destacar.

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