São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2004

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FUTEBOL

Jogadores imitam discurso do técnico e dizem que derrota não os abalou

Seleção leva chacoalhada e adota "Parreirês" após revés

FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A AREQUIPA

Enquanto os paraguaios comemoravam a vitória sobre o Brasil ainda no gramado em Arequipa, Luis Fabiano, mão na cabeça, fazia o gesto que simbolizou o desespero do time de Carlos Alberto Parreira com o inesperado revés na Copa América-2004.
No vestiário, segundo relatos de membros da comissão técnica, os jogadores pouco falaram. Pareciam abalados com o fim da série invicta de 16 jogos da seleção.
A preocupação era grande também por causa dos problemas de logística. Com o segundo lugar, o time terá que viajar 2.000 km para enfrentar o México, pelas quartas-de-final, no domingo, às 22h30. Com um empate, o deslocamento seria menor: 300 km, até Tacna.
Em meio ao clima de tristeza, o coordenador Zagallo interveio. "Bola para a frente. Perdemos no momento em que podíamos. Era ou México ou Uruguai. Agora é pensar no México. Não mudou rigorosamente nada."
Simultaneamente, o técnico Parreira dava o mesmo recado, só que aos jornalistas. "Não tem que administrar nada. Só mudaram local e adversário. Não tem impacto negativo. A derrota surgiu numa hora em que podíamos perder. Não atrapalhou em nada os planos de chegar à final."
Estava acionado o discurso anticrise na seleção em Arequipa.
No corredor que dá acesso ao ônibus, ainda na noite de anteontem (madrugada no Brasil), os jogadores tentavam dar explicações sobre a derrota de 2 a 1. Ninguém quis nomear culpados, mas o vilão da vez foi a bola aérea. "Não é o nosso forte, todo mundo sabe", afirmou Parreira, que comanda no Peru uma equipe em média 3 cm mais alta que aquela que começou a vitoriosa campanha do pentacampeonato na Ásia.
Na entrevista coletiva que concedeu, Parreira usou outra metáfora para minimizar a derrota, que fará o Brasil viajar 2.000 km até Piura, no norte peruano.
"Foi um sinal de alerta. É bom para aprender a não falhar em bolas bobas, a ter essa concentração permanente. Daqui para a frente, errou está fora, vai para casa mais cedo", declarou o treinador.
Nos dez minutos em que falou com jornalistas, Parreira usou a palavra "alerta" pelo menos cinco vezes. Zagallo, que apareceu em seguida no saguão, outras quatro.
De "cabisbaixos" na madrugada de ontem, na definição de Luis Fabiano sobre o sentimento do grupo, os jogadores adotaram o discurso de que a autoconfiança não foi quebrada. Em uníssono, os atletas passaram a falar o "Parreirês" e o "Zagalês" para comentar o revés e o futuro do time.
O porta-voz do novo discurso foi o capitão Alex, que ficou fora até do banco contra o Paraguai. "Existem derrotas que não mudam muita coisa, a não ser adversário e o local. Agora, com qualquer errinho, qualquer escorregão, a gente vai embora."
Um a um, os atletas repetiam frases da comissão técnica. "A única coisa que mudou é que não é mais o Uruguai, é o México. Serve de alerta porque, se errarmos, vamos sair do campeonato", repetiu Luis Fabiano, que disse que o ânimo dos companheiros estava melhor ontem. "O povo estava triste, cabisbaixo, mas o Zagallo deu uma palavra de incentivo, nos ajudou. Agora todos estão de cabeça erguida, sabendo que temos condições de ganhar do México."


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