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FUTEBOL
Jogadores imitam discurso do técnico e dizem que derrota não os abalou
Seleção leva chacoalhada e adota "Parreirês" após revés
FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A AREQUIPA
Enquanto os paraguaios comemoravam a vitória sobre o Brasil
ainda no gramado em Arequipa,
Luis Fabiano, mão na cabeça, fazia o gesto que simbolizou o desespero do time de Carlos Alberto
Parreira com o inesperado revés
na Copa América-2004.
No vestiário, segundo relatos de
membros da comissão técnica, os
jogadores pouco falaram. Pareciam abalados com o fim da série
invicta de 16 jogos da seleção.
A preocupação era grande também por causa dos problemas de
logística. Com o segundo lugar, o
time terá que viajar 2.000 km para
enfrentar o México, pelas quartas-de-final, no domingo, às 22h30.
Com um empate, o deslocamento
seria menor: 300 km, até Tacna.
Em meio ao clima de tristeza, o
coordenador Zagallo interveio.
"Bola para a frente. Perdemos no
momento em que podíamos. Era
ou México ou Uruguai. Agora é
pensar no México. Não mudou rigorosamente nada."
Simultaneamente, o técnico
Parreira dava o mesmo recado, só
que aos jornalistas. "Não tem que
administrar nada. Só mudaram
local e adversário. Não tem impacto negativo. A derrota surgiu
numa hora em que podíamos
perder. Não atrapalhou em nada
os planos de chegar à final."
Estava acionado o discurso anticrise na seleção em Arequipa.
No corredor que dá acesso ao
ônibus, ainda na noite de anteontem (madrugada no Brasil), os jogadores tentavam dar explicações
sobre a derrota de 2 a 1. Ninguém
quis nomear culpados, mas o vilão da vez foi a bola aérea. "Não é
o nosso forte, todo mundo sabe",
afirmou Parreira, que comanda
no Peru uma equipe em média 3
cm mais alta que aquela que começou a vitoriosa campanha do
pentacampeonato na Ásia.
Na entrevista coletiva que concedeu, Parreira usou outra metáfora para minimizar a derrota,
que fará o Brasil viajar 2.000 km
até Piura, no norte peruano.
"Foi um sinal de alerta. É bom
para aprender a não falhar em bolas bobas, a ter essa concentração
permanente. Daqui para a frente,
errou está fora, vai para casa mais
cedo", declarou o treinador.
Nos dez minutos em que falou
com jornalistas, Parreira usou a
palavra "alerta" pelo menos cinco
vezes. Zagallo, que apareceu em
seguida no saguão, outras quatro.
De "cabisbaixos" na madrugada de ontem, na definição de Luis
Fabiano sobre o sentimento do
grupo, os jogadores adotaram o
discurso de que a autoconfiança
não foi quebrada. Em uníssono,
os atletas passaram a falar o "Parreirês" e o "Zagalês" para comentar o revés e o futuro do time.
O porta-voz do novo discurso
foi o capitão Alex, que ficou fora
até do banco contra o Paraguai.
"Existem derrotas que não mudam muita coisa, a não ser adversário e o local. Agora, com qualquer errinho, qualquer escorregão, a gente vai embora."
Um a um, os atletas repetiam
frases da comissão técnica. "A
única coisa que mudou é que não
é mais o Uruguai, é o México. Serve de alerta porque, se errarmos,
vamos sair do campeonato", repetiu Luis Fabiano, que disse que
o ânimo dos companheiros estava
melhor ontem. "O povo estava
triste, cabisbaixo, mas o Zagallo
deu uma palavra de incentivo, nos
ajudou. Agora todos estão de cabeça erguida, sabendo que temos
condições de ganhar do México."
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