São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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Candidatura com falhas claras não tirou Copa da África do Sul

Fifa apontou erros no orçamento africano; rombo foi coberto por governo

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A seis meses de lançar oficialmente a candidatura brasileira à Copa de 2014 e pressionados pela Fifa, a CBF e o governo federal têm motivos para se tranqüilizar se levarem em conta o processo de escolha da África do Sul para 2010.
Mas, caso se repita o caso africano, os cofres públicos brasileiros terão de ser abertos.
Em 2004, a África do Sul apresentou proposta definitiva com lacunas no planejamento financeiro do Mundial. Esses erros foram apontados pelo grupo de inspeção da Fifa, que, mesmo assim, classificou como "excelente" a candidatura.
Os buracos no orçamento estão sendo cobertos com dinheiro público. O governo tem aumentado seus gastos.
"Os planos não são suficientes e precisam de mais detalhes. É preciso revisá-los antes da escolha", afirmou o relatório do grupo de inspetores da Fifa. "Não foi possível entender como o orçamento foi obtido."
No total, o comitê de candidatura da África do Sul previa gastar US$ 476 milhões (R$ 1 bilhão), com infra-estrutura, estádios, segurança, hotelaria, entre outros.
E havia a estimativa de renda de US$ 541 milhões (R$ 1,2 bilhão), a maior parte com ingressos. Isso permitiria um superávit da competição, o que não aconteceu em Mundiais.
Só que havia problemas nas estimativas das receitas e das despesas declaradas. O grupo de inspeção, por exemplo, apontava que "não recebeu informações de como os estádios seriam financiados".
Só no início deste ano o governo da África do Sul informou que destinaria US$ 1,1 bilhão (R$ 2,2 bilhões) para o Mundial. Cerca de US$ 700 milhões (R$ 1,5 bilhão) serão só com estádios. A candidatura africana de 2004 previa gastos de um sexto deste valor.
Mesmo assim, foi cortado o número de estádios do Mundial, de 13 para 10, com o objetivo de reduzir custos.
Na sua inspeção, a Fifa identificava só três estádios prontos para a Copa. Cinco precisavam ser reformados. E outros teriam de ser construídos. Agora, os organizadores terão de fazer cinco novas praças.
A Fifa ainda criticou a política do país para ingressos: entendiam que os preços estipulados eram altos. Assim, a receita do Mundial era superestimada, diziam os inspetores.
Os inspetores da Fifa ainda apontaram a falta de segurança do país. Dizem que a polícia tinha plano de impedir violência só nos lugares com eventos.
As estruturas de hotelaria, transporte e telefonia foram elogiadas pela Fifa. Mesmo assim, todos tiveram investimentos posteriores do governo.
Em 2004, apenas 15 dias após as críticas dos inspetores, o Comitê Executivo da Fifa escolheu a África do Sul para sediar o Mundial de 2010.


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