São Paulo, sábado, 16 de julho de 2011

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O trono de espinhos


Maicon deveria sentir-se no banco de reservas como se estivesse sentado sobre um ouriço-do-mar


RESERVISTA LEITOR, reservada leitora, o banco de reservas é um dos assentos mais indesejados do planeta. A cadeira da presidência do Banco Central da Itália deve estar desconfortável por estes dias, e ninguém quer colocar seus glúteos nas cadeiras elétricas da Flórida; mas o banco de reservas é pior.
Ele possui pontiagudas agulhas filosóficas e dá choques psicológicos incuráveis. Sentar ali é como sentar num seco, duro e áspero cacto. Que o diga Maicon, que nem dava entrevistas no começo da Copa América, tamanho era seu incômodo por estar na reserva, ainda mais sabendo que poderia ser o melhor jogador da seleção, como realmente o foi no jogo contra o Equador.
Sem reservas podemos dizer que, na última partida, o lateral foi de importância central. Ele driblou mais que Neymar, passou mais que Ganso, atacou mais que Robinho e defendeu mais que todos. Maicon passava por seus marcadores como se fossem juvenis, como se ele fosse um adulto num jogo de crianças na rua.
Não é à toa que ele estava tão triste em ser um reles suplente. Há jogadores que não gostam do banco porque sabem que dali mandarão menos reservas ao seu banco suíço, e há outros que o odeiam por vaidade, pois são poucos os flashes que iluminam as trevas da reserva.
No caso de Maicon, desconfio que se tratava mais de um desejo de justiça. Ele sabia que estava em perfeita forma, que poderia transformar a seleção em algo melhor.
Depois de sua bela partida, certamente Daniel Alves é quem irá para o purgatório da reserva. Não será fácil. Ele é uma das maiores estrelas do maior time do mundo e sentará no banco como se ele fosse uma frigideira cheia de óleo fervente.
Há outros jogadores que devem sentar naquelas macias cadeiras como se fossem tronos de gelo.
Por exemplo, Vítor deve olhar para Júlio César e dizer para si mesmo: "Eu não levaria aqueles dois frangos". Elias deve ver Ramires e Lucas jogando burocraticamente e pensar: "Deixe-me entrar em campo que farei melhor". E Arouca, que nem está no banco físico, mas no metafísico, sussurra em frente à tevê: "Eu é quem devia estar com aquela camisa número 5".
Hoje em dia, com a frescurização do futebol, só nos pequenos estádios o banco de reservas ainda é de madeira. Em qualquer campinho decente, ele foi trocado por um conjunto de aconchegantes poltronas. Porém, nem que sejam forradas de veludo alemão e estofadas com penas de pavão branco, elas serão confortáveis.
O banco de reservas tem espinhos invisíveis.


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