|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O nome da festa
Depois de uma visita à simpática Afrodite do museu de Maratona, é a vez de assistir à comemoração da ascensão da Virgem ,dia mais importante para as Marias da Grécia do que o próprio aniversário
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A MARATONA
A peça mais rara do museu de
Maratona é Afrodite. No caso,
nem é tão antiga assim: tem cerca
de 60 anos, sobrenome Richulas,
toma conta do lugar e não sabe
uma palavra em inglês, só grego,
mas adora se comunicar. Vassoura na mão, saia preta abaixo do
joelho, chinelo e blusa branca de
abotoar, ela recebe quem chega
rindo e falando sem parar. Se alguém não entende o que ela diz,
Afrodite aumenta o tom, como se
fosse um problema de audição.
Recém-inaugurado, o museu é
visitado nesse momento apenas
por um casal de ingleses cujo temperamento contrasta fortemente
com o de Afrodite. O advogado
Peter Nixon, 50, tem as bochechas
vermelhas, uma risada nervosa e
o pescoço duro como se tivesse
sofrido um torcicolo; sua mulher,
a contadora Dorothy, 46, veste
uma saia muito ampla em relação
às suas pernas finas, camiseta
amarrotada e arco de plástico na
cabeça. Os dois vieram para
acompanhar a filha, Helen, 15,
que é remadora e gostaria assistir
à competição oficial. "Ela é apenas uma iniciante, mas adora remar", dizem.
Além de mapas da região de
Atica, o acervo do museu possui
objetos do fim do período neolítico, cerâmicas da idade do Bronze,
sepulturas de heróis de guerra e
bustos e estátuas do período de dominação romana. Para quem tem o
British Museum, o de
Maratona parece café
muito pequeno.
"Tudo lá é roubado,
viemos ver o que sobrou", diz Peter, sem
parar de rir nervosamente, referindo-se ao
acervo grego do museu
inglês.
Na altura do km 4, a
rota envereda por um
apêndice à esquerda:
são dois quilômetros
contornando o monumento em homenagem
aos gregos que morreram na batalha contra
os persas em 490 a.C.
Retorno à estrada, estirão de seis quilômetros,
e a maratona chega ao município
de Nea Makai, onde há um pequeno centrinho com lojas de
roupas, cabeleireiro, correio, peixaria e a primeira igreja ortodoxa.
Será que tem casamento grego
por esses dias?
Uma senhorinha que está na
porta põe-se a falar em grego sem
parar. Em vez de aumentar o tom
para se fazer entender, como
Afrodite, ela fala as palavras va-ga-ro-sa-men-te, enquanto arqueia as sobrancelhas, o que é ainda mais divertido.
Nesse momento aparece Eleni
Lagoudaki, 46, uma aeromoça
aposentada, de cabelos avermelhados, unhas grandes e discurso
pródigo.
"Ninguém se casaria hoje, porque é o feriado religioso mais importante da Grécia depois da Páscoa; comemora-se a ascensão ao
céu da Virgem Maria; pela tradição, não se deve casar nos 40 dias
que antecedem a data", explica.
Tem um outro detalhe: "Existe
aqui na Grécia uma superstição
segundo a qual não é bom casar
em ano bissexto", conta.
A festa do dia 15 é, segundo explica Eleni, mais importante para
as Marias e Mários (Panagiotas,
Despinas e Panagiotis, respectivos em grego para o mesmo nome) do que o próprio aniversário:
"As comemorações que contam
para os gregos são as "onomáticas", aquelas que festejam o dia do
nome da pessoa", explica ela, cujo
aniversário do nome é
em 21 de maio.
Mas e se, por exemplo,
a pessoa se chama Sócrates ou qualquer outro
nome que não tenha
santo correspondente?
"Todos esses comemoram no "Anghion Pandon" (espécie de Dia de
Todos os Santos), que é
no dia 6 de junho."
Dois "parakalós" depois, descobre-se que as
únicas igrejas que fazem
o que eles chamam de
"panegiri" (quermesse)
são as que evocam Maria. Há uma em Mati, na
altura do quilômetro 14:
estirão menor até lá.
Agora são 20h, momento em que uma procissão
roda a cidade...
Texto Anterior: Polifonia: Anônimo da NBA vive dia de torcedor Próximo Texto: Perda de potência Índice
|