São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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FUTEBOL

Para entidade, beleza é requisito básico na seleção de atletas para a competição feminina que começa em outubro

FPF institui jogadora-objeto no Paulista

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

No lugar dos cabelos ralos, longos rabos-de-cavalo. Dos calções masculinos, shorts minúsculos. Da cara limpa, a maquiagem. Em seu campeonato feminino, que começará em 7 de outubro, a Federação Paulista de Futebol vê a beleza como requisito fundamental para selecionar as meninas que disputarão a competição.
No projeto, elaborado em conjunto com a Pelé Sports & Marketing, ao qual a Folha teve acesso, o embelezamento das atletas está entre os "objetivos principais" para o "sucesso do torneio".
"Desenvolver ações que enalteçam a beleza e a sensualidade da jogadora para atrair o público masculino", diz um dos pontos.
Num outro, o documento ressalta a importância de "desenvolver ações de consultoria de imagem, estilo pessoal e treinamento de mídia com as jogadoras".
Em seu discurso, no lançamento da competição em um hotel de São Paulo, na última quinta-feira, o próprio presidente da FPF, Eduardo José Farah, admitiu a "necessidade" na mudança do atual perfil das atletas da modalidade no Brasil.
"Temos que mostrar uma nova roupagem no futebol feminino, que está reprimido por causa do machismo. Temos que tentar unir a imagem do futebol à feminilidade", disse o dirigente.
"Vamos ter um campeonato tecnicamente bom e bonito."
Conforme as regras do Paulista, a meia Sissi, principal jogadora da história do futebol feminino brasileiro, não teria vez no torneio.
Sissi, que atualmente defende o Bay Area CyberRays, campeão da primeira edição da WUSA (Liga norte-americana de futebol), tem os cabelos raspados.
"Aqui, com cabelo raspado não joga. Está no regulamento", disse o vice-presidente da FPF Renato Duprat, o responsável pela organização do torneio paulista.
O dirigente, entretanto, nega que a questão estética prevalecerá sobre o aspecto técnico no processo de seleção das atletas.
"Se tivermos de escolher uma menina feia que jogue bem ou uma bonita que jogue mais ou menos, escolheremos a feia. Pode ter certeza", declarou.
Desde a última terça-feira, a FPF está aceitando inscrições de meninas entre 16 e 23 anos de idade para disputar o torneio.
A expectativa de Duprat é que 700 jogadoras se inscrevam para a seletiva, que acontecerá nos dias 20 e 21 deste mês.
Cerca de 210 meninas serão selecionadas por uma comissão técnica formada pela FPF e se juntarão a outras 30 atletas federadas.
Após a seletiva, todas as jogadoras serão distribuídas, de acordo com o critério técnico, para as 12 equipes que disputarão o Paulista.
Participarão do torneio Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Lusa, Juventus, Nacional, Guarani, Ponte Preta, Matonense, São Bento e Taubaté. Cada equipe deve receber 20 atletas.
Clubes como Juventus, Lusa e Guarani, que possuem equipes em atividade, devem manter seus times-base.
"O nosso objetivo é fazer um campeonato equilibrado", disse Duprat. "Cada equipe, por exemplo, só pode ter uma jogadora da seleção brasileira."
Tábata Viana, 18, atacante do Juventus, acredita que a mudança estética facilitará o desenvolvimento do futebol feminino.
"Agora a mídia vai querer comprar o futebol feminino. A TV vai mostrar que há mulheres jogando", disse ela.
A meia Silvia Melo, 20, do Juventus, acha que a "imagem das velhas jogadoras trouxe preconceito à modalidade".
"Agora, a mulher poderá provar que não precisa ser masculina para jogar", declarou.
O Paulista feminino será bancado pela FPF, que deve desembolsar cerca de R$ 2 milhões. Os cinco clubes considerados grandes receberão cotas de R$ 40 mil por partida. Os demais, R$ 20 mil. O teto salarial das atletas é de R$ 2.000, e o piso de R$ 300.
O torneio também deverá ter confrontos mostrados ao vivo na TV. A Rede TV! deve adquirir os direitos de transmissão.



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