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FUTEBOL
Para entidade, beleza é requisito básico na seleção de atletas para a competição feminina que começa em outubro
FPF institui jogadora-objeto no Paulista
EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
No lugar dos cabelos ralos, longos rabos-de-cavalo. Dos calções
masculinos, shorts minúsculos.
Da cara limpa, a maquiagem. Em
seu campeonato feminino, que
começará em 7 de outubro, a Federação Paulista de Futebol vê a
beleza como requisito fundamental para selecionar as meninas que
disputarão a competição.
No projeto, elaborado em conjunto com a Pelé Sports & Marketing, ao qual a Folha teve acesso, o
embelezamento das atletas está
entre os "objetivos principais" para o "sucesso do torneio".
"Desenvolver ações que enalteçam a beleza e a sensualidade da
jogadora para atrair o público
masculino", diz um dos pontos.
Num outro, o documento ressalta a importância de "desenvolver ações de consultoria de imagem, estilo pessoal e treinamento
de mídia com as jogadoras".
Em seu discurso, no lançamento da competição em um hotel de
São Paulo, na última quinta-feira,
o próprio presidente da FPF,
Eduardo José Farah, admitiu a
"necessidade" na mudança do
atual perfil das atletas da modalidade no Brasil.
"Temos que mostrar uma nova
roupagem no futebol feminino,
que está reprimido por causa do
machismo. Temos que tentar unir
a imagem do futebol à feminilidade", disse o dirigente.
"Vamos ter um campeonato
tecnicamente bom e bonito."
Conforme as regras do Paulista,
a meia Sissi, principal jogadora da
história do futebol feminino brasileiro, não teria vez no torneio.
Sissi, que atualmente defende o
Bay Area CyberRays, campeão da
primeira edição da WUSA (Liga
norte-americana de futebol), tem
os cabelos raspados.
"Aqui, com cabelo raspado não
joga. Está no regulamento", disse
o vice-presidente da FPF Renato
Duprat, o responsável pela organização do torneio paulista.
O dirigente, entretanto, nega
que a questão estética prevalecerá
sobre o aspecto técnico no processo de seleção das atletas.
"Se tivermos de escolher uma
menina feia que jogue bem ou
uma bonita que jogue mais ou
menos, escolheremos a feia. Pode
ter certeza", declarou.
Desde a última terça-feira, a FPF
está aceitando inscrições de meninas entre 16 e 23 anos de idade para disputar o torneio.
A expectativa de Duprat é que
700 jogadoras se inscrevam para a
seletiva, que acontecerá nos dias
20 e 21 deste mês.
Cerca de 210 meninas serão selecionadas por uma comissão técnica formada pela FPF e se juntarão a outras 30 atletas federadas.
Após a seletiva, todas as jogadoras serão distribuídas, de acordo
com o critério técnico, para as 12
equipes que disputarão o Paulista.
Participarão do torneio Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Lusa, Juventus, Nacional,
Guarani, Ponte Preta, Matonense,
São Bento e Taubaté. Cada equipe
deve receber 20 atletas.
Clubes como Juventus, Lusa e
Guarani, que possuem equipes
em atividade, devem manter seus
times-base.
"O nosso objetivo é fazer um
campeonato equilibrado", disse
Duprat. "Cada equipe, por exemplo, só pode ter uma jogadora da
seleção brasileira."
Tábata Viana, 18, atacante do
Juventus, acredita que a mudança
estética facilitará o desenvolvimento do futebol feminino.
"Agora a mídia vai querer comprar o futebol feminino. A TV vai
mostrar que há mulheres jogando", disse ela.
A meia Silvia Melo, 20, do Juventus, acha que a "imagem das
velhas jogadoras trouxe preconceito à modalidade".
"Agora, a mulher poderá provar
que não precisa ser masculina para jogar", declarou.
O Paulista feminino será bancado pela FPF, que deve desembolsar cerca de R$ 2 milhões. Os cinco clubes considerados grandes
receberão cotas de R$ 40 mil por
partida. Os demais, R$ 20 mil. O
teto salarial das atletas é de R$
2.000, e o piso de R$ 300.
O torneio também deverá ter
confrontos mostrados ao vivo na
TV. A Rede TV! deve adquirir os
direitos de transmissão.
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