São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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FUTEBOL

As ligas e os "notáveis"

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

B revemente, começarão a funcionar as ligas dos grandes clubes. A primeira será a do Rio-São Paulo, presidida pelo Eduardo Farah. Falta apenas a regulamentação do governo. A CBF e as federações serão obrigadas a aceitá-las.
O poder da CBF e das federações será diminuído e transferido para as ligas. A CBF será responsável apenas pela seleção. Dizem que as regras das ligas serão duras e moralizadoras. Dirigentes e clubes que não cumprirem as normas serão severamente punidos.
Tenho muitas dúvidas. Receio que as ligas sejam apenas um acordo comercial, representem o continuísmo e apenas atendam aos interesses dos grandes clubes e da televisão. As necessidades do futebol brasileiro são muito mais amplas. As pessoas que vão comandar as ligas serão as mesmas que dirigiram o futebol brasileiro nos últimos anos.
Foram essas pessoas e os "notáveis" que elaboraram o novo e ruim calendário quadrienal. O Brasileiro será disputado apenas no segundo semestre, com partidas nos meios e finais de semana. No primeiro semestre haverá um grande número de torneios classificatórios. Os times que forem eliminados ficarão sem jogar durante dois ou três meses.
Em vez de criar as ligas, não seria mais simples fazer uma grande mudança na CBF, nas federações e contratar profissionais competentes e independentes para comandá-las? No lugar de as ligas fiscalizarem o futebol, não seria mais simples fortalecer os órgãos já existentes e punir os infratores? A CPI do Futebol (Senado) vai propor uma lei de responsabilidade fiscal.
Será que os pequenos clubes não ficarão marginalizados e desprotegidos com a criação das ligas? Elas vão mudar a estrutura do futebol? Não serão a continuação do Clube dos 13, como questiona a economista Elena Landau?
Sei que as ligas existem em todo o mundo e podem ser um grande avanço para o futebol brasileiro. Tomara! Mas tenho muitas dúvidas e receios.

Grupo dos "notáveis"
Neste momento ruim do futebol brasileiro, falam muito da criação de um "grupo de notáveis" -ou palpiteiros oficiais-, formado principalmente por ex-jogadores, para ajudar o técnico da seleção e o futebol do país.
O fato de alguém ter sido um atleta, mesmo excepcional, não significa que será um bom técnico, coordenador, dirigente etc. Será apenas mais fácil, desde que a pessoa tenha outras qualidades.
Para entender, opinar e executar bem uma outra profissão ligada ao esporte, o ex-atleta precisa se preparar e se dedicar integralmente à nova atividade. Alguns ex-atletas passam uma parte da vida viajando pelo mundo, vendendo suas imagens e depois pousam no Brasil para dar palpites sobre o futebol.
De vez em quando, citam meu nome para um cargo de direção no futebol. Já fui convidado para ser secretário de Esportes do governo de Minas e da Prefeitura de Belo Horizonte. Seria um péssimo dirigente. Não gosto nem me preparei para isso. Tenho outros sonhos. Portanto não me convidem. Posso perder o juízo e a autocrítica e aceitar.
Poderia ajudar num cargo técnico, próximo ao treinador. Após a saída de Luxemburgo, me convidaram para ser o coordenador técnico da seleção. Não aceitei porque era um cargo de confiança do presidente da CBF, investigado pelas CPIs, e porque sabia que seria uma figura decorativa.
Os poderosos técnicos não querem dialogar e muito menos dividir a responsabilidade do planejamento, convocação, escalação e definição da tática da equipe. Os treinadores preferem os auxiliares para executarem suas ordens.
Há muitos "notáveis" mal preparados dirigindo o esporte brasileiro, dentro e fora de campo. É preciso renovar com profissionais independentes e competentes, ex-atletas ou não.

Guerra e paz
Enquanto os EUA procuram um alvo de retaliação, atletas, técnicos e torcedores combatem no futebol. Romário pede paz na camisa e agride os torcedores com gestos obscenos. Parte da torcida retalia e ameaça o jogador. Zagallo e Petkovic brigam no Flamengo. Marcelinho e Luxemburgo trocam ofensas no Corinthians. A violência aumenta na sociedade e nos gramados. Muitos só pensam em matar a jogada, ganhar a guerra, derrubar o inimigo, acertar o alvo e serem matadores.
Em alguns instantes, tenho vontade de sumir. Não sei para onde nem para quê.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br



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