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FUTEBOL
As ligas e os "notáveis"
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
B revemente, começarão a
funcionar as ligas dos grandes clubes. A primeira será a do
Rio-São Paulo, presidida pelo
Eduardo Farah. Falta apenas a
regulamentação do governo. A
CBF e as federações serão obrigadas a aceitá-las.
O poder da CBF e das federações será diminuído e transferido
para as ligas. A CBF será responsável apenas pela seleção. Dizem
que as regras das ligas serão duras e moralizadoras. Dirigentes e
clubes que não cumprirem as normas serão severamente punidos.
Tenho muitas dúvidas. Receio
que as ligas sejam apenas um
acordo comercial, representem o
continuísmo e apenas atendam
aos interesses dos grandes clubes e
da televisão. As necessidades do
futebol brasileiro são muito mais
amplas. As pessoas que vão comandar as ligas serão as mesmas
que dirigiram o futebol brasileiro
nos últimos anos.
Foram essas pessoas e os "notáveis" que elaboraram o novo e
ruim calendário quadrienal. O
Brasileiro será disputado apenas
no segundo semestre, com partidas nos meios e finais de semana.
No primeiro semestre haverá um
grande número de torneios classificatórios. Os times que forem eliminados ficarão sem jogar durante dois ou três meses.
Em vez de criar as ligas, não seria mais simples fazer uma grande mudança na CBF, nas federações e contratar profissionais
competentes e independentes para comandá-las? No lugar de as
ligas fiscalizarem o futebol, não
seria mais simples fortalecer os
órgãos já existentes e punir os infratores? A CPI do Futebol (Senado) vai propor uma lei de responsabilidade fiscal.
Será que os pequenos clubes não
ficarão marginalizados e desprotegidos com a criação das ligas?
Elas vão mudar a estrutura do futebol? Não serão a continuação
do Clube dos 13, como questiona
a economista Elena Landau?
Sei que as ligas existem em todo
o mundo e podem ser um grande
avanço para o futebol brasileiro.
Tomara! Mas tenho muitas dúvidas e receios.
Grupo dos "notáveis"
Neste momento ruim do futebol
brasileiro, falam muito da criação de um "grupo de notáveis"
-ou palpiteiros oficiais-, formado principalmente por ex-jogadores, para ajudar o técnico da
seleção e o futebol do país.
O fato de alguém ter sido um
atleta, mesmo excepcional, não
significa que será um bom técnico, coordenador, dirigente etc. Será apenas mais fácil, desde que a
pessoa tenha outras qualidades.
Para entender, opinar e executar bem uma outra profissão ligada ao esporte, o ex-atleta precisa
se preparar e se dedicar integralmente à nova atividade. Alguns
ex-atletas passam uma parte da
vida viajando pelo mundo, vendendo suas imagens e depois pousam no Brasil para dar palpites
sobre o futebol.
De vez em quando, citam meu
nome para um cargo de direção
no futebol. Já fui convidado para
ser secretário de Esportes do governo de Minas e da Prefeitura de
Belo Horizonte. Seria um péssimo
dirigente. Não gosto nem me preparei para isso. Tenho outros sonhos. Portanto não me convidem.
Posso perder o juízo e a autocrítica e aceitar.
Poderia ajudar num cargo técnico, próximo ao treinador. Após
a saída de Luxemburgo, me convidaram para ser o coordenador
técnico da seleção. Não aceitei
porque era um cargo de confiança do presidente da CBF, investigado pelas CPIs, e porque sabia
que seria uma figura decorativa.
Os poderosos técnicos não querem dialogar e muito menos dividir a responsabilidade do planejamento, convocação, escalação e
definição da tática da equipe. Os
treinadores preferem os auxiliares para executarem suas ordens.
Há muitos "notáveis" mal preparados dirigindo o esporte brasileiro, dentro e fora de campo. É
preciso renovar com profissionais
independentes e competentes, ex-atletas ou não.
Guerra e paz
Enquanto os EUA procuram
um alvo de retaliação, atletas,
técnicos e torcedores combatem
no futebol. Romário pede paz na
camisa e agride os torcedores com
gestos obscenos. Parte da torcida
retalia e ameaça o jogador. Zagallo e Petkovic brigam no Flamengo. Marcelinho e Luxemburgo
trocam ofensas no Corinthians. A
violência aumenta na sociedade e
nos gramados. Muitos só pensam
em matar a jogada, ganhar a
guerra, derrubar o inimigo, acertar o alvo e serem matadores.
Em alguns instantes, tenho vontade de sumir. Não sei para onde
nem para quê.
E-mail:
tostao.folha@uol.com.br
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