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São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

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SURFE

Tininha, 13, nascida em uma tribo de Baía da Traição, na Paraíba, vence etapas e vira destaque do Circuito Brasileiro

Indígena doma onda e rouba cena no mar

ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma índia potiguara é a principal revelação do Circuito Brasileiro feminino de surfe, que entra em sua terceira e última etapa neste final de semana. As provas começam amanhã e seguem até o dia 19 de outubro, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Aos 13 anos, a paraibana Diana Cristina de Souza, a Tininha, lidera a competição na categoria mirim (até 16 anos) e aparece com destaque em outras duas classes.
Na fase anterior do circuito, disputada nos dias 29, 30 e 31 de agosto, em Porto de Galinhas (PE), chegou à terceira posição da série Open -concorrendo com atletas de diferentes idades- e à nona colocação da Profissional. Trata-se do primeiro torneio exclusivamente feminino do país.
O Circuito Brasileiro é composto por duas divisões: Super Surfe, a principal, e Super Trials, de acesso, que classifica as oito primeiras colocadas para a etapa superior. A classe profissional do campeonato funciona como uma etapa do Super Trials.
Antes de disputar o evento, Tininha já vinha se destacando em competições regionais. A potiguara venceu o campeonato estadual feminino no ano passado e é a primeira colocada na edição deste ano, colecionando ainda títulos de competições amadoras disputadas no Nordeste.
No último domingo, subiu no lugar mais alto do pódio no Circuito Ecológico de Surfe 2003, na praia de Ponta Negra, em Natal.
A surfista nasceu no dia 10 de julho de 1990, em uma tribo da etnia potiguara na Baía da Traição (80 km de João Pessoa).
Foi nas praias que circundam a baía que Tininha começou a pegar as primeiras ondas. "Aprendi a surfar com o meu primo Tiago, quando tinha dez anos. Ele sempre me levava para os torneios."
Empolgados com o sucesso da garota, os pais e comerciantes Maronildo Eugênio Barbosa e Sandra Maria de Souza agora estimulam o filho mais novo, Maronildo Júnior, 11, a entrar no esporte e participar das provas.
No início, a potiguara participava de campeonatos mistos com a prancha do primo. Foi numa dessas disputas que Tininha conseguiu a base para a primeira prancha, de acordo com sua mãe.
"Ela corria um torneio em João Pessoa, mas não passou para a final. Um jornalista a viu surfando, achou que tinha talento e ajudou, doando material para que ela pudesse esculpir uma prancha. Os amigos auxiliaram na construção. Hoje ela usa uma que ganhou de prêmio", contou a mãe.
Para o administrador regional da Funai (Fundação Nacional do Índio) da Paraíba, Petrônio Machado Cavalcanti Filho, a localização da aldeia ajuda a explicar o destaque de Tininha no surfe.
Cerca de 7.000 potiguares ocupam uma área de 33 mil hectares de terra distribuídos pelos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto.
"Uma reserva indígena à beira-mar já é uma exceção, imagina tendo uma índia surfista? A Funai incentiva o esporte e até promove as Olimpíadas Indígenas, mas são, sobretudo, modalidades típicas. Tininha é um caso único. Surgiu e começou a ganhar todos os torneios", disse Cavalcanti Filho.
Sem patrocínio oficial, a jovem contou com o apoio da Funai para poder participar da etapa final do Circuito Brasileiro. "Conseguimos fazer com que a Secretaria Estadual dos Esportes custeasse as passagens. A estadia no Rio ficou por conta de amigos com os quais temos contatos", afirmou o administrador regional do órgão.

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