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SURFE
Tininha, 13, nascida em uma tribo de Baía da Traição, na Paraíba, vence etapas e vira destaque do Circuito Brasileiro
Indígena doma onda e rouba cena no mar
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma índia potiguara é a principal revelação do Circuito Brasileiro feminino de surfe, que entra
em sua terceira e última etapa
neste final de semana. As provas
começam amanhã e seguem até o
dia 19 de outubro, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Aos 13 anos, a paraibana Diana
Cristina de Souza, a Tininha, lidera a competição na categoria mirim (até 16 anos) e aparece com
destaque em outras duas classes.
Na fase anterior do circuito, disputada nos dias 29, 30 e 31 de
agosto, em Porto de Galinhas
(PE), chegou à terceira posição da
série Open -concorrendo com
atletas de diferentes idades- e à
nona colocação da Profissional.
Trata-se do primeiro torneio exclusivamente feminino do país.
O Circuito Brasileiro é composto por duas divisões: Super Surfe,
a principal, e Super Trials, de
acesso, que classifica as oito primeiras colocadas para a etapa superior. A classe profissional do
campeonato funciona como uma
etapa do Super Trials.
Antes de disputar o evento, Tininha já vinha se destacando em
competições regionais. A potiguara venceu o campeonato estadual feminino no ano passado e é
a primeira colocada na edição
deste ano, colecionando ainda títulos de competições amadoras
disputadas no Nordeste.
No último domingo, subiu no
lugar mais alto do pódio no Circuito Ecológico de Surfe 2003, na
praia de Ponta Negra, em Natal.
A surfista nasceu no dia 10 de julho de 1990, em uma tribo da etnia
potiguara na Baía da Traição (80
km de João Pessoa).
Foi nas praias que circundam a
baía que Tininha começou a pegar as primeiras ondas. "Aprendi
a surfar com o meu primo Tiago,
quando tinha dez anos. Ele sempre me levava para os torneios."
Empolgados com o sucesso da
garota, os pais e comerciantes
Maronildo Eugênio Barbosa e
Sandra Maria de Souza agora estimulam o filho mais novo, Maronildo Júnior, 11, a entrar no esporte e participar das provas.
No início, a potiguara participava de campeonatos mistos com a
prancha do primo. Foi numa dessas disputas que Tininha conseguiu a base para a primeira prancha, de acordo com sua mãe.
"Ela corria um torneio em João
Pessoa, mas não passou para a final. Um jornalista a viu surfando,
achou que tinha talento e ajudou,
doando material para que ela pudesse esculpir uma prancha. Os
amigos auxiliaram na construção.
Hoje ela usa uma que ganhou de
prêmio", contou a mãe.
Para o administrador regional
da Funai (Fundação Nacional do
Índio) da Paraíba, Petrônio Machado Cavalcanti Filho, a localização da aldeia ajuda a explicar o
destaque de Tininha no surfe.
Cerca de 7.000 potiguares ocupam uma área de 33 mil hectares
de terra distribuídos pelos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto.
"Uma reserva indígena à beira-mar já é uma exceção, imagina
tendo uma índia surfista? A Funai
incentiva o esporte e até promove
as Olimpíadas Indígenas, mas
são, sobretudo, modalidades típicas. Tininha é um caso único. Surgiu e começou a ganhar todos os
torneios", disse Cavalcanti Filho.
Sem patrocínio oficial, a jovem
contou com o apoio da Funai para
poder participar da etapa final do
Circuito Brasileiro. "Conseguimos fazer com que a Secretaria
Estadual dos Esportes custeasse
as passagens. A estadia no Rio ficou por conta de amigos com os
quais temos contatos", afirmou o
administrador regional do órgão.
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