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FUTEBOL
O afeto que se encerra
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Romário adora uma encrenca. Disse que o treinador Alexandre Gama, teoricamente seu
comandante no Fluminense, "só
fala besteira". Só porque Gama
ousou dizer que Ronaldo pode vir
a ser o melhor jogador brasileiro
depois da era Pelé, suplantando o
próprio Romário.
Para o atacante, a declaração
do técnico foi um "desrespeito".
Não é à toa que Romário sempre
se deu bem com gente como Ricardo Teixeira e Eurico Miranda.
A prepotência é a mesma.
Ao longo da semana, diversos
leitores entraram no debate sobre
quem foi melhor, Zico ou Romário. A disputa é acirrada, embora
numa enquete veiculada no UOL
Zico esteja vencendo de goleada.
Calma, pessoal. Não vou repisar
esse tema, sobre o qual já me declarei em cima do muro.
O que me interessa discutir aqui
são as razões que nos levam a gostar mais de um jogador do que
dos outros.
Claro que há os fatores objetivos: o domínio dos fundamentos,
a quantidade de gols marcados,
os títulos conquistados, as atuações decisivas pelos clubes e pela
seleção.
"Objetivos", eu disse? Mas, com
exceção do número de gols e de títulos, não há nada de mensurável
ou quantificável nos critérios acima. Quem poderá dizer com segurança, por exemplo, se Zico
amortecia melhor a bola que Romário, ou vice-versa?
E o que é uma "atuação decisiva"? Os próprios títulos são um
critério discutível, uma vez que o
futebol é um esporte coletivo e
ninguém ganha ou perde taça sozinho. O fato é que há pouco de
objetivo e muito de pessoal nessas
escolhas. É difícil saber por que algum jogador nos encanta, entusiasma ou emociona, enquanto
outro, talvez considerado melhor
por muita gente, nos deixa indiferentes.
Nos últimos anos tenho ouvido
e lido as mais diversas opiniões de
leitores a respeito de certos jogadores. Romário, Alex, Rivaldo,
Robinho, Diego, Zidane e Maradona são os que mais costumam
despertar paixões contraditórias.
Ronaldo, Kaká e Ronaldinho já
foram muito discutidos, mas agora parecem ter vencido quase todas as resistências.
A própria subjetividade, porém,
tem seus parâmetros. Quer dizer,
não é do nada que extraímos nossas preferências. Se um atleta fracassa com a camisa do nosso time
de coração, antipatizaremos com
ele até o fim dos tempos, mesmo
que brilhe em outros clubes.
Se a fase áurea de determinado
craque coincide com uma época
da vida pela qual temos nostalgia, é provável que o guardemos
como ídolo para sempre. Pelé me
lembra a infância; Rivellino, a
adolescência; Sócrates e Zico, os
tempos de universidade e militância política. Para outros torcedores, os sentidos serão outros.
Por tudo isso, acho até engraçado quando alguém bate a mão no
tampo da mesa e brada: "Fulano
é o maior, não resta dúvida".
O futebol é vivido - ou seja,
praticado e visto- por gente de
carne e osso. E existe coisa mais
ambígua, contraditória e insondável do que gente?
Ir ou ficar
Se é verdade que o Santos recusou uma oferta de 20 milhões
do PSV por Robinho, a diretoria do clube merece aplausos
por ter conseguido a façanha de
segurar o jogador. Não sei qual
é a ginástica financeira da diretoria santista, mas ofertas muito menores do que essa por Kaká e Luis Fabiano foram consideradas "irrecusáveis" pelo São
Paulo. Nos três casos, foi decisiva a vontade dos jogadores de
sair ou de ficar.
Bloco do eu sozinho
Foi enervante a impotência
mostrada pelo Brasil diante da
Colômbia. Tudo bem que estávamos desfalcados de Kaká e
Juninho, mas não custava ter
jogado um pouco mais pelos lados e sem tanto individualismo
estéril. Todo mundo quer ser
eleito o melhor do mundo?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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