São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2011

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TOSTÃO

Lógica da incerteza


Os craques, com poucas exceções, só brilham quando atuam em equipes com ótimo conjunto

O Botafogo venceu e foi superior ao Corinthians, que jogou muito bem e ganhou do Atlético-GO, que deu um baile no Botafogo. É a dança das vitórias e das derrotas.
Mudam pouco as posições na tabela. É a lógica da incerteza, o caos organizado.
Na coluna anterior, escrevi que, além do equilíbrio, uma das causas de tanta irregularidade é a ausência de um futebol coletivo consistente, constante, e que a maioria das partidas é decidida em lances isolados, erros de árbitros, expulsões e pelo acaso -situações comuns, frequentes, que acontecem a favor e contra todas as equipes.
O Botafogo mereceu a vitória sobre o Corinthians, mas o imponderável também entrou em campo. No primeiro gol, após um belo contra-ataque, a bola bateu no defensor e caiu na cabeça de Loco Abreu, livre. No segundo, a bola desviou no zagueiro antes de entrar.
Quanto mais o acaso aparece, mais os operatórios o desprezam. O ser humano, prepotente e racional, vê o acaso como uma afronta ao conhecimento.
Como não sou torcedor nem comentarista de melhores momentos e gosto do futebol coletivo, bem jogado, organizado, com troca de passes, não posso achar que o Brasileirão é ótimo. Há equilíbrio, emoção, boas partidas, bons jogadores, mas não há um ótimo time.
A seleção carece também de um bom futebol coletivo. Os gols saem de lances isolados, às vezes belíssimos, como os dois contra o México. Isso não dá nenhuma segurança, ainda mais que falta mais qualidade no meio-campo e no ataque.
Só se forma uma grande equipe com craques e ótimo conjunto. Os grandes talentos, com poucas exceções, brilham apenas em times organizados. Enganam-se os que acham que eles não precisam ter funções definidas em campo. É o contrário. Sentem-se mais seguros. Na Copa de 1970, até Pelé tinha obrigações táticas. E as cumpria. Para ser um craque, é necessário, além de talento individual, ter talento coletivo. É a capacidade de ver o que está em volta, saber o que é bom para o time e fazer coisas para ajudar o companheiro. O craque pensa nele e nos outros. Faz isso porque sabe que precisa da equipe para ter sucesso e não porque seja desambicioso, um franciscano. A ambição é característica dos grandes talentos.
Renato, do Botafogo, tem muito talento coletivo. Dos que vi jogar, Gerson foi o que mais tinha essa qualidade. Jogava como se estivesse vendo a partida da arquibancada. Enxergava até o que ainda não tinha ocorrido.


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