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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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FUTEBOL

Sob comando do técnico, seleção contraria tendência do Brasileiro e procura controlar a posse de bola para triunfar

Eficácia no passe move Brasil de Parreira

DO ENVIADO A LIMA

O futebol de uma seleção é espelho de como se joga futebol em um país. Nada é mais falso do que isso no time nacional dirigido por Carlos Alberto Parreira.
O Brasil atua hoje como gosta seu técnico, e não como fazem atletas, clubes do país e a própria seleção com outro comando.
Enquanto o passe, tanto em quantidade como qualidade, definha no Campeonato Brasileiro, o time de Parreira toca a bola em uma cadência rara hoje em dia.
Segundo o Datafolha, a seleção com o atual treinador troca, em média, 441 passes. Essa marca é simplesmente 53% maior do que a média geral por equipe no fundamento no Nacional deste ano.
A curva na seleção com Parreira é ascendente, enquanto no maior campeonato do país não pára de cair. Em relação ao que aconteceu na Copa-98, o time da camisa amarela viu um aumento de 20% no número de passes trocados. Já no Brasileiro, considerando também o ano de 1998, as tentativas no fundamento caíram 18%.
Além de insistir na procura de um companheiro antes de tentar uma jogada individual ou um lançamento, os comandados de Parreira são extremamente precisos.
Em 2003, sempre sob a batuta do treinador, a seleção registra a ótima marca de 89% nos passes certos, número bem acima do Brasileiro, em que 81,5% das trocas de bola têm o endereço certo.
Contra o Peru, Parreira quer manter sua filosofia de controlar a posse de bola, para não ser atacado e sofrer ameaça de levar gols.
"Vamos entrar da mesma forma, sempre buscando impor nosso ritmo. Eles vão se surpreender. Estamos ocupando bem os espaços", disse o treinador sobre como quer ver a seleção hoje.
Já uma outra previsão de Parreira parece mais difícil de ser obtida no estádio Monumental.
"O Peru não vai ficar atrás. Vai sair para o jogo, e isso nos dá espaço. Será um jogo aberto, com muitos gols. As duas seleções têm qualidade ofensiva", analisa.
Jogos com muitos gols são raridade com a forma de jogar atual da seleção. O estilo cadenciado não resulta em muitas finalizações. Sem contar a Copa das Confederações, quando teve um time reserva, a seleção tem uma média de conclusões que não chega a 13, situação bem diferente do "estilo pingue-pongue" que hoje infesta o futebol brasileiro.
Com um time que não chega a trocar 300 passes por jogo, o Santos finaliza, em média, mais de 20 vezes no atual Nacional, e dessa forma marca, também em média, mais de dois gols por confronto, praticamente o dobro registrado pela seleção na era Parreira.
Se não é pródigo em balançar as redes rivais, o jogo de paciência da seleção tem o mérito de evitar as jogadas de perigo do adversário, o que torna a previsão de muitos gols do treinador para o jogo em Lima ainda mais improvável.
Contra o Peru, o treinador vai começar a partida com as peças-chaves de seu esquema de muitos toques e pouca penetração. Emerson, Gilberto Silva e Zé Roberto irão formar o meio-campo, onde estão concentrados quase dois terços das trocas de bola.
"Ele é um jogador tático. No futebol, existem várias funções para um time ter sucesso. Ele cumpre bem a dele. Por isso, gosto dele", diz Parreira sobre Emerson, que, apesar das palavras de entusiasmo do técnico, foi sacado na segunda parte (substituído por Juninho Pernambucano ou Renato) de praticamente todos os treinos feitos durante a semana no RJ.
No duelo contra os peruanos, a seleção irá enfrentar um rival que não vai usar marcação individual, o que dá mais espaço para os atletas de Parreira trocarem passes.
"Não gosto de jogar dessa forma. Vamos marcar por zona", diz Paulo Autuori, o técnico do Peru, sobre a forma que pretende neutralizar o ataque brasileiro, em especial Ronaldo. (PAULO COBOS)


NA TV - Peru x Brasil, na Globo, ao vivo, às 19h


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