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"Não esperava a reação", diz Muricy
Técnico diz que persistência e oscilação dos rivais o ajudaram a superar pressão no São Paulo e vê tri como "grande feito'
Treinador afirma que seu custo/benefício é bom, que valorização deve vir com os títulos e que, para criticá-lo,
é preciso conhecer o esporte
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele vive e respira futebol. Em
casa, mesmo longe do trabalho,
é no futebol que Muricy Ramalho concentra suas atenções.
Persistente, estudioso e carrancudo, o treinador vive hoje
às 17h, contra o Figueirense, no
Morumbi, mais um capítulo na
escalada que trava neste final
de Brasileiro para obter seu terceiro título seguido no torneio.
Na iminência de se tornar o
segundo treinador a ser legitimamente tricampeão nacional
-o primeiro foi Rubens Minelli
entre 1975 e 1977-, Muricy, em
entrevista à Folha, fala da
pressão que passou no cargo,
da obstinação que teve em recuperar a equipe em meio à
desconfiança da diretoria do
clube e da disciplina que ele
impõe para ter seus comandados sob rédea curta.
FOLHA - Você disse que nem nas
horas vagas se desliga do futebol.
Como é sua rotina fora do clube?
MURICY RAMALHO - Eu vivo futebol, respiro futebol. Vejo todos
os programas para saber de tudo. Vejo basquete e vôlei e tiro
lições para o futebol. Você tem
que saber tudo para passar confiança aos jogadores. Eu me ligo
tanto que nem sei quantas horas eu perco com futebol.
FOLHA - Em campo, os jogadores
têm que ter tudo na cabeça sobre
cada situação de jogo?
MURICY - O que eu sou é organizado. Se tem uma falta contra a
gente, o Rogério não tem que ficar sofrendo para formar a barreira. Os jogadores são numerados. Não dá para ter um escanteio e ninguém saber onde
vai ficar na área. Tudo isso é
treinado. E eu cobro muito.
FOLHA - Como o São Paulo conseguiu essa reação no Brasileiro?
MURICY - Olha, se eu disser que
esperava essa reação, vou estar
mentindo. O que eu fiz foi não
desistir. E contamos com a oscilação dos outros times.
FOLHA - Você foi muito contestado
internamente quando o time estava
mal. O que pensa das cobranças?
MURICY - Não ligo para os críticos. Para falar de futebol comigo, tem de entender muito.
FOLHA - Mas e em relação às críticas de diretores?
MURICY - É a mesma coisa. Tem
diretor que fala e não sabe nada. Por isso é que gosto do Juvenal [Juvêncio, presidente do
São Paulo]. Não se empolga se
tudo está bem e não dá ouvidos
quando falam de pressão.
FOLHA - Em 2009, a prioridade volta a ser a Libertadores?
MURICY - Era para ser neste
ano. Mas infelizmente não deu.
Não abri mão de nada.
FOLHA - Você pode levar o São Paulo ao terceiro título brasileiro seguido. É hora de falar em aumento?
MURICY - Acho que a valorização tem que acontecer para os
dois lados. Eu revelo jogadores,
não gasto muito, trabalho com
quem mandam. O meu custo/
benefício é muito bom. E já recebi propostas mirabolantes e
não saí do São Paulo.
FOLHA - Qual seria a importância
de um tri brasileiro?
MURICY - Olho para trás e vejo a
dificuldade que foi ganhar dois
Brasileiros. Ganhar outro, então, é mais ainda. Acho muito
difícil acontecer de novo uma
seqüência dessa de três títulos
brasileiros seguidos.
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