São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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RODRIGO BUENO

Título gostoso ou orgulhoso?


Conquista do Barça seria bem diferente da do Inter, mas é difícil alguma delas igualar em emoção a do Estudiantes


SER CAMPEÃO é algo sempre legal, mas existem duas formas, basicamente, de saborear uma conquista. A decisão do Mundial amanhã expõe bem essas duas doces faces da moeda. Ou será um título muito gostoso ou muito orgulhoso.
O Barcelona já ganhou a aura de melhor pelo futebol vistoso. Se ratificar seu primeiro título mundial, só colocará uma cereja em seu delicioso bolo. O fato de ter aplicado no América a maior goleada em Mundiais interclubes desde o Santos de Pelé amplia a imagem de ""Dream Team" da equipe (a mídia espanhola põe Ronaldinho, Deco e cia. como ""Dream Team 2" e, lembro, o primeiro sonho perdeu o Mundial).
Ganhar taça com sobras, de forma incontestável, estabelecer marcas e encantar todos não só marca na história como enche de orgulho qualquer torcedor. Não há discussão sobre quem é melhor, algo que cai como luva para o Barça. Mas também fica na história quem subverte a ordem, ganha mesmo sem ser o mais forte, conquista o impossível. O Inter entra em campo amanhã nessa condição. Quanto maior o gigante a derrubar, mais gostoso é o título.
Me arrisco a dizer que a maioria dos torcedores até prefere o título sofrido, improvável (isso explicaria no Brasil a resistência aos pontos corridos). E aqui chego, talvez, ao mais legal dos títulos que vi na vida.
Ponha-se agora no lugar de um seguidor do Estudiantes de La Plata. Imagine que seu time não ganhe um título desde 1983. Que seja prejudicado de forma vil pelo arqui-rival, que facilita para seu poderoso concorrente ao troféu. Imagine que os matemáticos tirem todas as esperanças da equipe. E que a história recente não apresente a possibilidade de jogo-extra ou tira-teima final porque nos pontos corridos (Apertura e Clausura) quase sempre o melhor leva.
Imagine que o técnico do concorrente (Ricardo La Volpe) já tenha se proclamado campeão. Que os jogadores do adversário sejam metidos (Gago), mascarados (Palacio) e marrentos (Palermo). Imagine que a fanática ""metade mais um" de seu país já tenha preparado uma enorme festa do título. Imagine que você tenha em seu time um técnico até certo ponto desacreditado porque dá seus primeiros passos na profissão (Simeone). E que o único ""craque" de sua equipe está totalmente desacreditado (Verón). Imagine que seu time milagrosamente ganhe a chance de fazer um ""jogo da vida" pelo título no final. Imagine que ele tenha saído atrás no placar nesse duelo. E que seu time vire no final com um gol em que o arqueiro é chapelado e que um adversário entra no gol desesperado tentando em vão não deixar a bola balançar as redes.
Imagine você, ""hincha" ou não do Estudiantes, o sentim(i)ento após tudo isso. Na época em que era o mais sujo dos times, o Estudiantes ganhou até Mundial. O que houve na quarta, porém, é algo que Barcelona e Inter não têm muito como igualar amanhã. Gostoso, orgulhoso...

GOSTOSA E ORGULHOSA
Copa dos Campeões. Coitado do Reina, goleiro do Liverpool e torcedor do Barça. Coitado do Porto, ex-time de José Mourinho, técnico do Chelsea. Sorte de novo do Milan, que nem jogaria o torneio, lembra?

GOSTOSA
Libertadores. É quarta-feira, é quarta-feira, é... o decisivo sorteio.

ORGULHOSA
Recopa Sul-Americana. A Conmebol está aparentemente satisfeita com o inédito título do Pachuca na Copa-Sul-Americana, o primeiro de um time da Concacaf em um de seus torneios. A equipe mexicana poderá pegar o Inter na Recopa do ano que vem -o veto aos mexicanos é só para Mundial de Clubes.

???OSA
Copa-2014 no Brasil. Como será?

rbueno@folhasp.com.br


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