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Vulnerável, jovem pena para estudar e rever a família
Distância dos pais deixa adolescentes mais dependentes de empresários, que ajudam a pagar viagens e telefonemas
"Abandono" é uma das principais preocupações do MPT, que também aponta falhas no acesso à escola e nas condições de moradia
DA REPORTAGEM LOCAL
DO PAINEL FC
Longe de casa, sozinhos, submetidos a um regime intenso
de treinamentos, pressionados
por resultados, os adolescentes
que tentam vingar no futebol se
tornam vulneráveis.
Essa é uma das principais
preocupações na investigação
do Ministério Público do Trabalho que verifica as relações
entre jovens atletas e clubes.
Nesse cenário, empresários
que surgem como "salvadores"
ganham cada vez mais espaço.
Muitas vezes, os pais confiam a
carreira dos filhos a desconhecidos que conquistam sua confiança com agrados aos garotos.
Funcionários dos clubes, que
nem sempre conhecem os familiares, tornam-se referência.
A pedofilia também preocupa.
"As preocupações são inúmeras. Como o fato de eles estarem longe da família no momento em que mais precisam",
diz Mariza Mazotti de Moraes,
coordenadora nacional de
combate à exploração do trabalho da criança e do adolescente.
Alguns dos garotos chegam a
ficar mais de um ano sem ver os
pais. Muitos não têm dinheiro
nem para telefonar para eles.
Se não recebem ajuda de custo
ou se ela é pequena, a dependência é ainda maior.
A relação entre os clubes e os
adolescentes, muitas vezes,
também nem é registrada.
"Há times que treinam os
atletas como se eles não existissem. E isso pode dar problemas
no futuro, como falta de ajuda
previdenciária", diz Cristiane
Lopes, promotora do Ministério Público do Trabalho do PR.
O acesso à educação também
é precário. A mudança constante gera perdas no prazo de inscrição na escola. Quem está
matriculado, por causa de treinos e trânsito, muitas vezes,
chega atrasado. E cansado demais para prestar atenção.
Essa foi uma das principais
lacunas apontadas em Minas
Gerais, além de quartos quentes e apinhados. No Vila Nova,
por exemplo, inspetores encontraram "banheiros fétidos".
Em São Paulo, a Folha levantou junto a clubes alguns problemas vistos nas inspeções.
O Corinthians precisou levar
garotos do alojamento no Parque São Jorge para Itaquera.
Havia meninos de diferentes
idades no mesmo quarto.
As condições dos alojamentos também não eram adequadas. Uma reforma já começou.
No Palmeiras, faltava restaurante e havia jovens fora da escola, como na Portuguesa.
Um jogador do clube do Canindé disse que, em 2006, não
havia faxineira no alojamento.
Os meninos limpavam o local.
Preocupada com a distância
dos garotos dos pais, a assistente social palmeirense criou um
programa para aproximá-los
da família, incentivando telefonemas regulares.
O São Paulo foi o clube que
teve menos problemas.
Existem casos de atletas que
nem ficavam no clube. Um palmeirense passou cerca de quatro meses sozinho em pensão
em São Paulo, paga pelo pai, à
espera de vaga. Tinha 13 anos.
Além de jogadores e dirigentes, o Ministério Público do
Trabalho planeja ouvir também psicólogos e médicos. O
órgão não sabe como cartolas
podem ser punidos. O tema é
tão novo para os procuradores
que há comissão de estudo para
definir como será ele tratado e
como será classificada a relação clube-adolescente.
(MARIANA LAJOLO E RICARDO PERRONE)
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