São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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Recordista corre prova milionária "por prazer"

Haile Gebrselassie, dono de melhor marca da maratona, desdenha prêmio de US$ 1 mi, mas quer quebrar seu recorde em Dubai

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O prêmio é milionário, mas Haile Gebrselassie diz que corre a Maratona de Dubai, à 1h de amanhã, quase como amador.
"Minha motivação continua alta. Não corro pelo dinheiro, mas pelo prazer que o atletismo me dá", afirmou à Folha o etíope, que pretende bater seu recorde mundial (2h04min26s).
"Tentarei superar essa marca em Dubai. Acho que ainda posso correr em 2h03min. No futuro, creio que os atletas poderão cumprir a distância em duas horas. Talvez menos."
Se atingir a façanha, levará uma premiação total de US$ 1,25 milhão (R$ 2,2 milhões).
Em setembro, Haile trucidou, em Berlim, o recorde da maratona, então em poder de Paul Tergat. Ao atingir a linha de chegada havia cumprido os 42,195 km em 2h04min26s, um tempo 29 segundos mais baixo do que a marca anterior.
O sonho esportivo de Haile começou na infância. Ele se encantou com a Olimpíada ao ver um compatriota, Miruts Yifter, triunfar nos 10.000 m nos Jogos de Moscou-80. Aos 34 e consagrado, Haile rememora sua trajetória e diz que nenhuma barreira é insuperável.
Aos 9 anos, ele já tinha que superar 10 km, carregando livros e cadernos, para ir à escola. "Me lembro bem disso. Depois precisava correr mais 10 km para voltar para casa."
De uma família de nove irmãos, Haile escondeu o gosto pelas corridas dos olhos vigilantes do pai, Bekele, um pequeno agricultor. "Meus irmãos faziam meu serviço no campo para eu poder treinar."
Aos 15, a pretexto de visitar Tekeye, um dos irmãos, na capital Adis Abeba, aproveitou para correr a Maratona Abebe Bikila. Fez 2h48min. Nada mal.
Ao saber da aventura, Bekele ficou irritadíssimo. Nem quando Haile tornou-se campeão mundial juvenil nos 5.000 m e 10.000 m, em Seul-92, o pai acreditou que aquele poderia ser um caminho. "Nosso país precisa de agricultores, médicos, professores... Não necessita de corredores", sentenciou.
Só se rendeu quando Haile triunfou nos 10.000 m no Mundial de Stuttgart-93. Foi o primeiro de quatro títulos. Em Olimpíadas, arrebatou o bi em Atlanta-96 e Sydney-00.
Em Atenas-04 foi superado por Kenenisa Bekele, seu pupilo. Com dores no tendão-de-aquiles, Haile ficou para trás, terminando num melancólico quinto lugar. "Kenenisa está seguindo meus passos. Mas, claro, tentarei fazer com que esses passos sejam os mais difíceis possíveis", afirma ele, que aponta outro sucessor na rua.
"Tenho muita esperança no Deriba Merga. Em 2007, ele correu sua segunda maratona em 2h06min [em Fukuoka]".
Após o fiasco em Atenas, Haile passou por cirurgia. Parecia o ocaso. Em 2005, porém, reinventou-se. Centrou esforços na rua. Fez a Maratona de Amsterdã-05 em 2h06min20s, melhor marca da temporada.
Em 2005, bateu ainda o recorde da meia-maratona (58min55s). E, em 2007, obteve a melhor marca na maratona. O próximo passo é a Olimpíada. "Não correrei mais nenhuma maratona no primeiro semestre. Farei longa preparação para Pequim. A prioridade serão os treinos de velocidade."
Para isso, Haile deve correr a Meia-Maratona de Lisboa, daqui a dois meses, e os 10.000 m do GP de Hengelo (Holanda), em maio. "Fiz programa especial para ajustar minha preparação às condições de Pequim", afirma ele, em alusão aos problemas ambientais da cidade.


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