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Recordista corre prova milionária "por prazer"
Haile Gebrselassie, dono de melhor marca da maratona, desdenha prêmio de US$ 1 mi, mas quer quebrar seu recorde em Dubai
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O prêmio é milionário, mas
Haile Gebrselassie diz que corre a Maratona de Dubai, à 1h de
amanhã, quase como amador.
"Minha motivação continua
alta. Não corro pelo dinheiro,
mas pelo prazer que o atletismo
me dá", afirmou à Folha o etíope, que pretende bater seu recorde mundial (2h04min26s).
"Tentarei superar essa marca em Dubai. Acho que ainda
posso correr em 2h03min. No
futuro, creio que os atletas poderão cumprir a distância em
duas horas. Talvez menos."
Se atingir a façanha, levará
uma premiação total de US$
1,25 milhão (R$ 2,2 milhões).
Em setembro, Haile trucidou, em Berlim, o recorde da
maratona, então em poder de
Paul Tergat. Ao atingir a linha
de chegada havia cumprido os
42,195 km em 2h04min26s,
um tempo 29 segundos mais
baixo do que a marca anterior.
O sonho esportivo de Haile
começou na infância. Ele se encantou com a Olimpíada ao ver
um compatriota, Miruts Yifter,
triunfar nos 10.000 m nos Jogos de Moscou-80. Aos 34 e
consagrado, Haile rememora
sua trajetória e diz que nenhuma barreira é insuperável.
Aos 9 anos, ele já tinha que
superar 10 km, carregando livros e cadernos, para ir à escola. "Me lembro bem disso. Depois precisava correr mais 10
km para voltar para casa."
De uma família de nove irmãos, Haile escondeu o gosto
pelas corridas dos olhos vigilantes do pai, Bekele, um pequeno agricultor. "Meus irmãos faziam meu serviço no
campo para eu poder treinar."
Aos 15, a pretexto de visitar
Tekeye, um dos irmãos, na capital Adis Abeba, aproveitou
para correr a Maratona Abebe
Bikila. Fez 2h48min. Nada mal.
Ao saber da aventura, Bekele
ficou irritadíssimo. Nem quando Haile tornou-se campeão
mundial juvenil nos 5.000 m e
10.000 m, em Seul-92, o pai
acreditou que aquele poderia
ser um caminho. "Nosso país
precisa de agricultores, médicos, professores... Não necessita de corredores", sentenciou.
Só se rendeu quando Haile
triunfou nos 10.000 m no
Mundial de Stuttgart-93. Foi o
primeiro de quatro títulos. Em
Olimpíadas, arrebatou o bi em
Atlanta-96 e Sydney-00.
Em Atenas-04 foi superado
por Kenenisa Bekele, seu pupilo. Com dores no tendão-de-aquiles, Haile ficou para trás,
terminando num melancólico
quinto lugar. "Kenenisa está
seguindo meus passos. Mas,
claro, tentarei fazer com que
esses passos sejam os mais difíceis possíveis", afirma ele, que
aponta outro sucessor na rua.
"Tenho muita esperança no
Deriba Merga. Em 2007, ele
correu sua segunda maratona
em 2h06min [em Fukuoka]".
Após o fiasco em Atenas,
Haile passou por cirurgia. Parecia o ocaso. Em 2005, porém,
reinventou-se. Centrou esforços na rua. Fez a Maratona de
Amsterdã-05 em 2h06min20s,
melhor marca da temporada.
Em 2005, bateu ainda o recorde da meia-maratona
(58min55s). E, em 2007, obteve a melhor marca na maratona. O próximo passo é a Olimpíada. "Não correrei mais nenhuma maratona no primeiro
semestre. Farei longa preparação para Pequim. A prioridade
serão os treinos de velocidade."
Para isso, Haile deve correr a
Meia-Maratona de Lisboa, daqui a dois meses, e os 10.000 m
do GP de Hengelo (Holanda),
em maio. "Fiz programa especial para ajustar minha preparação às condições de Pequim",
afirma ele, em alusão aos problemas ambientais da cidade.
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