São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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Noves fora

Esquema de Parreira e lugar cativo de Ronaldo no time impedem seleção de ter gols de Adriano e Luis Fabiano

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A DUBLIN

Um brilha a peso de ouro no duro Campeonato Italiano, o outro é o maior artilheiro no pouco estrelado futebol nacional. Mas, na seleção brasileira, os atacantes Adriano, 22, da Inter de Milão, e Luis Fabiano, 23, do São Paulo, não passam de reservas de luxo.
A ótima fase dos dois esbarra em Ronaldo, também brilhando no clube (Real Madrid) e dono absoluto da camisa nove amarela.
Em Dublin, onde amanhã, às 16h30, o Brasil faz amistoso com a Irlanda, o trio de goleadores está reunido pela primeira vez.
Mas, ao que tudo indica, só fora de campo. Pela cartilha do técnico Carlos Alberto Parreira, na seleção só há espaço para um atacante fixo na área -o treinador já indicou ontem, no hotel em que a seleção está hospedada, que vai usar Ronaldinho e Kaká como companheiros de Ronaldo.
Assim, Adriano, que hoje faz aniversário, e Luis Fabiano estão condenados a serem apenas opções para o segundo tempo.
Apesar de viverem uma situação rara -poucas vezes na história a seleção teve no banco reservas tão eficientes-, os dois parecem conformados.
"É muito difícil ganhar uma posição quando você tem o Ronaldo como concorrente. Nenhum reserva na seleção tem uma missão tão dura como essa", diz, conformado, Adriano. "O Ronaldo é o melhor atacante do mundo", afirma Luis Fabiano.
Para Adriano (que na Itália adotou o número dez, apesar de ser um centroavante nato, o típico camisa nove), existe a possibilidade de fazer uma parceria com o astro do Real Madrid.
Ele está disposto até a mudar seu posicionamento original pelo sonho de atuar com o ídolo. "Posso fazer como na Inter, em que saio da área para dar mais espaço ao Vieri", diz sobre a dupla que forma hoje com o ex-companheiro de Ronaldo no clube italiano.
Revelado no Flamengo, Adriano foi convocado à seleção pela primeira vez quando ainda era uma promessa, em 2001, por Leão. No time nacional ele não se firmou, mas ganhou projeção suficiente para conseguir uma transferência para o futebol italiano, onde vai muito bem.
Nas últimas duas temporadas ele alcançou uma média de gols extraordinária. Em 41 jogos, marcou 25 vezes. Nenhum brasileiro que atua no Italiano, o campeonato europeu com marcação mais dura, balançou as redes tantas vezes no período. "Eu estou muito bem, mas meu time precisa melhorar", diz Adriano sobre seu momento na Itália, em que marca muitos gols, mas vê a Inter fora da Copa da Itália e cada vez mais longe dos líderes no Nacional.
Único dos três que não atua no futebol europeu, Luis Fabiano quer uma chance no jogo contra a Irlanda para ter uma vitrine que possa beneficiá-lo no futuro. "É uma oportunidade para todo mundo conhecer meu futebol", diz o jogador do São Paulo.
Realmente, Luis Fabiano, que já ultrapassou a marca dos cem gols pelo clube do Morumbi, é separado por um abismo em termos financeiros dos outros concorrentes à camisa nove da seleção.
Ronaldo é o atleta brasileiro mais bem pago, com um faturamento anual que supera os US$ 10 milhões. Valorizado pelos gols marcados pelo Parma, Adriano acaba de trocar essa agremiação pela Inter, que pagou 20 milhões pela transferência.
Não é só o currículo com muitos gols que credencia Adriano e Luis Fabiano. Os dois recebem muitos elogios de Parreira.
O treinador continua a apostar no são-paulino mesmo reprovando seus seguidos atos de indisciplina em campo pelo clube -no final do ano passado, criticou Luis Fabiano por brigas e expulsões em dois jogos seguidos.
Adriano, que esteve em quase todas as convocações do treinador, agrada por seu porte físico, bom cabeceio e forte chute.
Mas os gols que fazem os reservas e os elogios de Parreira a eles ainda estão longe de ameaçar Ronaldo, que é o artilheiro do Campeonato Espanhol.
O máximo goleador do Mundial-02 reina absoluto na seleção.
Em Dublin, ele dá início amanhã à temporada em que completa dez anos servindo ao time nacional. E, para desilusão de Adriano e Luis Fabiano, promete disputar no mínimo mais uma Copa.


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