São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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TOSTÃO

Encantamentos


Há no Brasil vários grandes talentos em atividade, com idades e momentos diferentes em suas carreiras


APESAR DE AS escolinhas produzirem, cada vez mais, jogadores em série para exportação, como se fossem fábricas de parafusos, há, sempre, felizmente, alguns meninos talentosos e transgressores, que, em vez de fazer tudo o que o professor manda, divertem-se com a bola. Serão os craques do futuro.
A infância é o momento de brincar, de desenvolver a habilidade e a criatividade, e não de aprender regras, fundamentos técnicos e estratégias de jogo.
Há, em atividade, vários talentos, com idades e momentos diferentes. Há os que estão perto de terminar suas excepcionais trajetórias, como Ronaldo e Roberto Carlos, os que podem ainda brilhar por muito tempo (Kaká, Robinho e Ronaldinho), e alguns jovens, que têm boas chances de se tornar craques, como Paulo Henrique Ganso, Neymar, Philippe Coutinho e Wellington Silva.
O esplendor técnico e físico de um craque não costuma passar de dez anos. Depois disso, progressivamente, o brilho se apaga. Por terem sido excepcionais, eles, mesmo decadentes, conseguem ainda ser titulares e destaques em grandes equipes.
Kaká tem atuado bem no Real Madri, porém sem o brilho que tinha no Milan, seu time anterior. Os espanhóis criaram uma grande expectativa e estão decepcionados. Isso deve ser passageiro. Eles gostam também muito mais de craques clássicos e/ou fantasistas, como Zidane, Messi e Ronaldinho. Kaká se destaca mais pela técnica, pela força física e pela velocidade. Seu estilo encanta mais os italianos.
Ainda bem que Robinho jogou bem e fez dois gols, um deles belíssimo, no amistoso da seleção brasileira contra a Irlanda. Com isso, pararam de pedir a entrada de Nilmar. Quem poderia substituir Robinho seria Ronaldinho. Há meses, ele joga bem a maioria das partidas. Quando atua mal, e seu time perde para um adversário muito superior, como o Manchester United, falam que Ronaldinho fracassou.
Se Ronaldinho jogasse, hoje, no Barcelona ou no Manchester United, estaria muito melhor. Em parte, Rooney e Messi brilham tanto porque jogam em grandes equipes. Só os apaixonados pelo futebol inglês acham que Rooney, excepcional atacante, é melhor que Messi.
Times e jogadores não podem ser analisados e comparados somente por suas histórias estatísticas. Muito mais importantes são seus encantamentos.
Muitos pedem a convocação de Ganso e Neymar para a Copa deste ano. Ainda é cedo. Eles já estão convocados para 2014. Apesar de Neymar ter mais chance de se tornar mais espetacular, Ganso está, hoje, mais pronto. Para amadurecerem, terão que enfrentar mais fortes adversários, ganhar e perder.
Dizer que o Santos perdeu porque debochou do Palmeiras, ou por um outro único motivo, é uma opinião simplista e reducionista.
Há um ano, escrevi sobre Neymar neste espaço: "Comentarista não deve ser ansioso e apressado em chamar uma promessa de craque. Por outro lado, não pode ter medo de se encantar com um jogador no início de carreira. Assisti, pela primeira vez, a Neymar jogar. Fiquei tão empolgado como quando vi jovens como Ronaldinho, Romário, Ronaldo, Robinho. Kaká foi me encantando aos poucos".
Continuo empolgado. Mais ainda.



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