São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010

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Ex-rebelde, Nunes tenta reviver dia perfeito

Apontado como promessa em 2003, quando venceu a Copinha, atacante do Santo André busca redenção na reta final do Paulista

RENAN CACIOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A história de Nunes como jogador começou de um jeito que nem o boleiro mais otimista poderia imaginar. Imagine quatro dias após você ter completado 21 anos ganhar o título da Copa São Paulo de juniores pela manhã, em cima do Palmeiras, com direito a uma irreverente imitação de porco no melhor estilo Viola.
Horas mais tarde, você é chamado para defender o time principal contra o atual campeão do país. Aí, você entra no decorrer do jogo, passa ao lado de Robinho e de Diego, e ainda marca o gol de empate para a sua equipe contra o Santos.
Tudo isso aconteceu para Nunes em 25 de janeiro de 2003. Um dia "mágico", "inesquecível", e tantos outros adjetivos que ele usa para descrevê-lo. Foi, porém, único, mas no sentido negativo da palavra.
Faltou uma chance -ou maturidade- para o atacante do Santo André deixar de ser apenas uma promessa.
"Conheço o Nunes desde moleque. A qualidade dele não se discute, mas, quando garoto, ele era mais avoado. Depois, amadureceu. Hoje, ele está pronto para jogar em qualquer clube grande", afirma o treinador do time, Sérgio Soares.
"Eu era rebelde. Só enxerguei que estava errado quando meus filhos nasceram. Aí, eu tinha uma família para cuidar", diz Nunes, cujas salvações atendem pelos nomes de Ana Clara, 4, e Lucas, sete meses.
Na verdade, naquele mesmo dia em que o futebol lhe foi tão generoso, Nunes começou a se deparar com problemas.
A imitação de porco, que, segundo ele, foi uma provocação feita a um tio palmeirense, obrigou o "bad boy" a sair do Pacaembu, palco da final, deitado no assoalho da perua que levou o time de volta para o ABC. "A torcida queria me pegar."
No fim de 2003, ele deixou o clube após entrar na Justiça e só conseguiu voltar a jogar um ano depois, com uma liminar.
A partir daí, pôs a mochila nas costas e rodou por Coritiba, Emirados Árabes, Rio Branco, Fortaleza, Juventus, Gama, América-RN, Arábia Saudita, Bragantino até, no segundo semestre do ano passado, retornar para o Santo André.
No ano passado, diz Nunes, o Santos chegou a procurá-lo. Também conversou com o Palmeiras. "Já escutei de muita gente que eu só não fui para o Palmeiras por causa da imitação do porco", lamenta-se.
De volta para casa, ele tenta resgatar sua essência. Busca, sete anos depois, viver um novo dia perfeito. Se possível, três, caso a equipe chegue à inédita final do Campeonato Paulista.
"Quero terminar o campeonato bem, e ver com a diretoria o que vai ser feito", afirma Nunes, que amanhã enfrentará o Grêmio Prudente pela semifinal do Campeonato Paulista.
"A personalidade forte o atrapalhou em alguns momentos", sentencia Sérgio Soares. Nunes só quer jogar em paz.


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