São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010

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JOSÉ GERALDO COUTO

A hora e a vez de Neymar


O futebol esplendoroso do santista, louvado por mestres como Tostão e Zico, credencia o rapaz à seleção


ENGROSSO A partir de agora o coro que pede Neymar na seleção. Não que antes eu não quisesse a convocação do jovem craque santista. É que, como sou de entusiasmos fáceis, contive a empolgação e fiquei à espera de opiniões mais abalizadas e equilibradas.
Elas vieram. Tostão, guru supremo, vem destacando há várias semanas em seu espaço as qualidades raras de Neymar em campo. Nesta semana foi a vez de Zico, outro ex-jogador fenomenal e profundo conhecedor do futebol, defender em uma Sabatina Folha a convocação.
Mas o argumento decisivo para minha adesão quem trouxe foi o próprio Neymar, com seus cinco golaços e sua atuação de gala na goleada de 8 a 1 que o Santos aplicou no Guarani na quarta-feira.
Como se Dunga estivesse na arquibancada, o garoto exibiu naquela noite todo o seu repertório de maravilhas. De acordo com a necessidade de cada jogada, mostrou habilidade, sutileza, força, imaginação, serenidade, malandragem, fome de gol, espírito de equipe. Foi, em suma, um craque completo.
Quando acabou o massacre, que acompanhei pela televisão, dei-me conta de que estava com os olhos molhados. O futebol, em raros momentos, tem essa capacidade de nos colocar sem anteparos diante da beleza selvagem da vida. Primeiro vem a emoção. Só depois a razão entra em cena para tentar entender e organizar o caos.
Deixar de lado a noite na Vila para pensar na seleção de Dunga é como trocar o princípio do prazer pelo princípio da realidade. Mas é necessário, então vamos lá.
Pensando friamente, é provável que a principal figura desse Santos deslumbrante que temos visto seja Paulo Henrique Ganso, organizador e criador de jogadas, dono de toque refinado e de ampla visão de jogo. Em termos táticos, ele seria até mais útil à nossa opaca seleção do que propriamente Neymar.
Diga-se entre parênteses que Ronaldinho, se estivesse em sua melhor forma, cumpriria os dois papéis (de Ganso e Neymar), arco e flecha letais contra a meta adversária. Mas "futebol é momento", como se diz, e hoje o próprio Ronaldinho parece ter desistido da Copa.
Voltemos então aos dois santistas. A seleção precisa urgentemente de um Ganso, para dar criatividade ao meio de campo. Mas é difícil imaginar Dunga tirando Júlio Batista, Elano ou Josué de seu "grupo fechado" para colocar o rapaz, que além de tudo é discreto, dentro e fora de campo. Talvez seja por isso que não existe uma campanha pela sua convocação.
Mas, se Ganso carece de carisma e de apelo junto às massas, Neymar os tem de sobra. Caiu nas graças dos amantes do futebol em geral, não só dos santistas. Com seu jeito moleque e seu cabelo esquisito, caiu também nas graças da mídia.
No futebol de nosso tempo, não devemos subestimar o poder da pressão popular quando chega com força à mídia. É só lembrar que foi "o povo" que praticamente convocou Romário para a Copa-94, contra a relutância de Parreira.
Para ajudar, Neymar atua em uma posição (atacante) em que as vagas ainda estão um pouco confusas. Sinto que há esperança.
Por isso brado: Neymar já.

jgcouto@uol.com.br


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