São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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À francesa

Aos 16, esgrimista brasileira gasta R$ 9.000 por mês para treinar em Paris com melhor técnico do mundo e projeta pódio na Rio-16

Marcos Michael/Folhapress
Amanda, promessa da esgrima brasileira que vive em Paris

MARCEL MERGUIZO
DE SÃO PAULO

Logo após a vitória, uma fã lhe pede para tirar uma foto. Era uma das princesas da Jordânia. Nas competições, já convive com campeões olímpicos e mundiais. No Brasil, porém, é desconhecida.
Essa rotina é contada por Amanda Simeão, 16, que há pouco mais de um ano vive e treina em Paris, na França, com um objetivo: ser a primeira medalhista olímpica do Brasil na esgrima.
A meta da garota, que iniciou na modalidade aos 13 anos, ganhou força há duas semanas, na Jordânia, quando foi a oitava colocada na espada no Mundial cadete.
Esse foi o segundo melhor resultado brasileiro na história do esporte, abaixo do vice mundial conquistado por Élora Pattaro, em 2003, também na categoria até 17 anos.
Élora chegou à Olimpíada de Atenas, um ano depois. Foi eliminada na estreia.
Amanda quer ir além. "Meu técnico me treina para ser a melhor. Me pegou para treinar pensando em medalha em 2016 [nos Jogos do Rio]", diz a curitibana, que morou dos 7 aos 14 anos na Itália, potência na esgrima.
O treinador em questão é peça-chave no rápido desenvolvimento da brasileira.
O francês Daniel Levavasseur tem no currículo de técnico dez medalhas olímpicas (cinco ouros) e 21 em Mundiais adultos (sete ouros).
O encontro entre eles ocorreu em outubro de 2009, no Mundial adulto, na Turquia. Lá, a mãe de Amanda, Ana Letícia Bueno Netto, conversou com o treinador, considerado o melhor do mundo na espada feminina -a esgrima é dividida em três armas: espada, sabre e florete.
No dia anterior, o Rio de Janeiro havia sido escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Segundo Ana Letícia, foi o que despertou o interesse de Levavasseur em treinar uma brasileira.
"Fiquei um mês em Paris, e ele disse que queria me treinar, que eu seria o novo projeto dele", afirma Amanda.
Atualmente, a brasileira é a mais jovem das quatro espadistas que o francês treina. Ele também vai comandar a equipe olímpica chinesa.
O projeto francês, entretanto, não é nada barato. Amanda tem contrato de seis anos com o treinador e paga 500 (cerca de R$ 1.135) por mês a ele. Se um esgrimista deseja passar um mês treinando na academia mantida por Levavasseur, o valor é de 2.000 (mais de R$ 4.500).
O investimento da família para manter Amanda na França é ainda maior, pois a mãe e o irmão Giovanni, 10, moram com ela em Paris. A mãe diz que apenas o aluguel custa 2.400 (R$ 5.500).
"Até o mês passado, ela não tinha qualquer ajuda. Infelizmente, no Brasil, para começar a ter uma ajuda precisa ganhar algo antes. Mas custa caro ganhar", diz a mãe, empresária e designer.
Ana Letícia calcula que os gastos mensais para um atleta treinar como sua filha chegam a 4.000 (mais de R$ 9.000), "sem luxos". Apenas para a disputa do Mundial cadete, com passagens e hospedagem da filha e do técnico, diz ter gasto 5.000.
Em 2010, Amanda pouco visitou o Brasil, pois, segundo seu treinador, era perda de tempo. A cada dia sem treinar precisaria de três para serem recuperados, afirma.
O desempenho rendeu a primeira ajuda. A partir deste mês, Amanda vai receber R$ 1.500 do projeto da Petrobras com a Confederação Brasileira de Esgrima. Passou a ser considerada uma promessa.


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