São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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Medida tumultua de vez calendário do futebol; só o Sul terá jogo à noite

Racionamento condena esporte à sessão da tarde

Euclides Scalco, coordenador do "ministério do apagão", afirma que iluminação para jogos em estádios e ginásios é um gasto supérfluo

DA REPORTAGEM LOCAL

E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal determinou ontem a suspensão de jogos de futebol e de outras atividades esportivas à noite na maior parte do Brasil por conta da crise energética que o país atravessa.
A medida praticamente põe abaixo o já tumultuado calendário do futebol para o segundo semestre, afetado por disputas comerciais entre a Globo e a Traffic e pelo acúmulo de competições como a Copa dos Campeões, o Brasileiro e a Copa Mercosul.
A resolução da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, o chamado "ministério do apagão", será publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União. As concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviços públicos de distribuição de energia elétrica estão proibidas de fornecer eletricidade para realização de eventos esportivos noturnos.
A medida afeta as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do país. Sul e Norte, por enquanto, estão livres da proibição.
A resolução do governo é mais um baque no esporte mais popular do país, investigado por duas CPIs no Congresso.
O presidente do Clube dos 13, o gaúcho Fábio Koff, resumiu a opinião dos dirigentes ligados ao esporte ouvidos pela Folha.
"É o caos. Cada dia a gente recebe uma notícia, e todas são ruins. Não há o que fazer. Temos que cumprir a determinação do governo sem reclamar. Mas o impacto dessa medida será enorme", disse Koff, que não soube afirmar com precisão qual será o prejuízo dos clubes.
O empresário J. Hawilla, proprietário da Traffic, agência que detém os direitos da Libertadores e da Mercosul, criticou o governo por não ter dado tempo para que os organizadores pudessem agir.
"É ruim o Corinthians ter que alterar o jogo [de hoje" em cima da hora, quando ingressos já foram vendidos. É claro que o impacto é ruim, que vai haver prejuízo, mas não somos o único segmento que vai sofrer com o racionamento de energia. Vamos ter que sentar e discutir alternativas."
Como os grandes estádios brasileiros não têm gerador próprio, as partidas de meio de semana serão marcadas para a tarde.
Uma nova reunião entre representantes do Clube dos 13, CBF, Globo Esportes e Traffic deve acontecer até o início da próxima semana. A entidade que dirige o futebol no país já informou que a tabela do Brasileiro-2001, anunciada na última semana, sofrerá alterações (leia texto abaixo).
Outro que deve participar da reunião é o ministro dos Esportes e Turismo, Carlos Melles, que reagiu com surpresa ontem à tarde ao ser informado da medida.
"O ministro Pedro Parente não me avisou. Fiquei sabendo agora. Mas o macro é a grande prioridade", disse Melles durante uma exposição de fotos no Congresso.
Questionado sobre o calendário do Brasileiro, Melles reconheceu que haverá problemas, mas afirmou que "eles serão resolvidos".
"Nós vamos tentar adaptar o esporte à realidade da energia no Brasil. Eu me submeto ao macro. O programa nacional é muito mais importante", disse.
Melles deixou a exposição de fotos antes do previsto para se encontrar com o "ministro do apagão", Pedro Parente.
Usar geradores, transferir os jogos para o dia e concentrar as competições nos finais de semana foram alternativas apresentadas preliminarmente por Melles.
Depois da reunião com Parente, Melles disse que os horários dos jogos à tarde serão transferidos das 16h para as 15h e que, sempre que possível, geradores serão usados nos eventos à noite.
Em entrevista ao site "UOL News", o coordenador do Plano de Redução de Consumo de Energia Elétrica, Euclides Scalco, disse que as medidas "podem evitar os apagões nas residências".
Além do fim dos jogos noturnos, o governo determinou a diminuição de 35% da iluminação pública até 30 de junho, a suspensão de fornecimento de energia para "fins ornamentais", de propaganda e para abastecer shows, circos, parques de diversão etc.
"Não é melhor cortar o supérfluo à energia das residências?", questionou Scalco.
Não há ainda uma estimativa de quanto será economizado com a suspensão dos jogos noturnos.
Segundo o engenheiro Walter Follador, gerente de manutenção do Morumbi, cada partida consome 3.500 kWh, o equivalente a consumo de sete residências de porte médio durante um mês.
No Maracanã, no Rio, o consumo por jogo é de 3.600 kWh.
Outras modalidades também estudam alternativas para levar seus jogos para os fins de semana ou para o período da tarde.


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