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Medida tumultua de vez calendário do futebol; só o Sul terá jogo à noite
Racionamento condena esporte à sessão da tarde
Euclides Scalco, coordenador do "ministério do apagão", afirma que
iluminação para jogos em estádios e ginásios é um gasto supérfluo
DA REPORTAGEM LOCAL
E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal determinou
ontem a suspensão de jogos de futebol e de outras atividades esportivas à noite na maior parte do
Brasil por conta da crise energética que o país atravessa.
A medida praticamente põe
abaixo o já tumultuado calendário do futebol para o segundo semestre, afetado por disputas comerciais entre a Globo e a Traffic e
pelo acúmulo de competições como a Copa dos Campeões, o Brasileiro e a Copa Mercosul.
A resolução da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, o
chamado "ministério do apagão",
será publicada na edição de hoje
do Diário Oficial da União. As
concessionárias, permissionárias
e autorizadas de serviços públicos
de distribuição de energia elétrica
estão proibidas de fornecer eletricidade para realização de eventos
esportivos noturnos.
A medida afeta as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do
país. Sul e Norte, por enquanto,
estão livres da proibição.
A resolução do governo é mais
um baque no esporte mais popular do país, investigado por duas
CPIs no Congresso.
O presidente do Clube dos 13, o
gaúcho Fábio Koff, resumiu a opinião dos dirigentes ligados ao esporte ouvidos pela Folha.
"É o caos. Cada dia a gente recebe uma notícia, e todas são ruins.
Não há o que fazer. Temos que
cumprir a determinação do governo sem reclamar. Mas o impacto dessa medida será enorme", disse Koff, que não soube
afirmar com precisão qual será o
prejuízo dos clubes.
O empresário J. Hawilla, proprietário da Traffic, agência que
detém os direitos da Libertadores
e da Mercosul, criticou o governo
por não ter dado tempo para que
os organizadores pudessem agir.
"É ruim o Corinthians ter que
alterar o jogo [de hoje" em cima
da hora, quando ingressos já foram vendidos. É claro que o impacto é ruim, que vai haver prejuízo, mas não somos o único segmento que vai sofrer com o racionamento de energia. Vamos ter
que sentar e discutir alternativas."
Como os grandes estádios brasileiros não têm gerador próprio,
as partidas de meio de semana serão marcadas para a tarde.
Uma nova reunião entre representantes do Clube dos 13, CBF,
Globo Esportes e Traffic deve
acontecer até o início da próxima
semana. A entidade que dirige o
futebol no país já informou que a
tabela do Brasileiro-2001, anunciada na última semana, sofrerá
alterações (leia texto abaixo).
Outro que deve participar da
reunião é o ministro dos Esportes
e Turismo, Carlos Melles, que reagiu com surpresa ontem à tarde
ao ser informado da medida.
"O ministro Pedro Parente não
me avisou. Fiquei sabendo agora.
Mas o macro é a grande prioridade", disse Melles durante uma exposição de fotos no Congresso.
Questionado sobre o calendário
do Brasileiro, Melles reconheceu
que haverá problemas, mas afirmou que "eles serão resolvidos".
"Nós vamos tentar adaptar o esporte à realidade da energia no
Brasil. Eu me submeto ao macro.
O programa nacional é muito
mais importante", disse.
Melles deixou a exposição de fotos antes do previsto para se encontrar com o "ministro do apagão", Pedro Parente.
Usar geradores, transferir os jogos para o dia e concentrar as
competições nos finais de semana
foram alternativas apresentadas
preliminarmente por Melles.
Depois da reunião com Parente,
Melles disse que os horários dos
jogos à tarde serão transferidos
das 16h para as 15h e que, sempre
que possível, geradores serão usados nos eventos à noite.
Em entrevista ao site "UOL
News", o coordenador do Plano
de Redução de Consumo de Energia Elétrica, Euclides Scalco, disse
que as medidas "podem evitar os
apagões nas residências".
Além do fim dos jogos noturnos, o governo determinou a diminuição de 35% da iluminação
pública até 30 de junho, a suspensão de fornecimento de energia
para "fins ornamentais", de propaganda e para abastecer shows,
circos, parques de diversão etc.
"Não é melhor cortar o supérfluo à energia das residências?",
questionou Scalco.
Não há ainda uma estimativa de
quanto será economizado com a
suspensão dos jogos noturnos.
Segundo o engenheiro Walter
Follador, gerente de manutenção
do Morumbi, cada partida consome 3.500 kWh, o equivalente a
consumo de sete residências de
porte médio durante um mês.
No Maracanã, no Rio, o consumo por jogo é de 3.600 kWh.
Outras modalidades também
estudam alternativas para levar
seus jogos para os fins de semana
ou para o período da tarde.
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