São Paulo, sábado, 17 de maio de 2008

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Tribunal derruba veto, e Pistorius pode ir a Pequim

Corte Arbitral refuta proibição da entidade máxima do atletismo para sul-africano, apto agora a correr nos Jogos

Próteses de velocista, que ainda precisa de índice, eram apontadas como vantagem sobre os demais competidores nos 400 m

EDUARDO OHATA
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele tentou manter uma expressão séria. Mas, diante de um grupo de jornalistas, não conseguiu conter o sorriso.
Foi essa a reação do sul-africano Oscar Pistorius, 21, que recebeu ontem o aval da Corte Arbitral do Esporte para tentar a qualificação para Pequim-2008. Nascido sem o perônio -o osso que conecta o joelho ao calcanhar- nas duas pernas, Pistorius teve as duas pernas amputadas sob o joelho quando tinha somente 11 meses de vida.
A Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) o havia proibido de ir aos Jogos por entender que Pistorius é um ""homem biônico", por contar com vantagem mecânica sobre seus rivais, já que compete com próteses.
"Estou extasiado. Quando soube da decisão da corte, fui às lágrimas", festejou Pistorius, cuja prioridade agora, passados meses de batalha jurídica, é obter a marca para ir aos Jogos Olímpicos de Pequim, que ocorrem entre 8 e 24 de agosto.
"Tenho muitas esperanças para a Olimpíada de 2008. O tempo que tenho [para obter a classificação] é muito escasso. Obviamente agora tenho a oportunidade e não vou deixá-la escapar... Mas sei que será muito difícil registrar esse tempo", reconheceu Pistorius.
"Gastei muito tempo nos tribunais. Agora, quando chegar em casa, vou me dedicar ao treinamento. Tenho de pensar em ficar em forma para disputar essas provas", refletiu Pistorius, que já adiantou que, independentemente de sua participação ou não na Olimpíada, disputará a Paraolimpíada.
Se confirmar participação em Pequim, Pistorius terá em sua própria delegação a companhia de outra amputada que já se classificou para os Jogos, Natalie du Toit, que, na China, disputará a maratona aquática.
"Essa é uma batalha que já durou muito tempo. Esse é um grande dia para o esporte, um dia que ficará na história pela igualdade conquistada pelos deficientes físicos", argumenta Pistorius, que é um estudante de administração esportiva na Universidade de Pretória.
Se agora o sul-africano busca esquecer a batalha judicial, foi justamente por causa dela que obteve notoriedade mundial.
A revista americana ""Time" o incluiu na lista das cem pessoas mais influentes do mundo, ao lado da pré-candidata à presidência dos EUA Hillary Clinton e do presidente venezuelano, Hugo Chávez, por exemplo. Encaixou-se na categoria dos "heróis e pioneiros".
Ele é o atual recordista mundial paraolímpico nos 400 m, com a marca de 46s56. Para ir aos Jogos, no entanto, precisa diminuir o tempo para 45s55.
Mas, mesmo que não consiga tal marca individualmente, a Confederação Sul-Africana de Atletismo poderia escalá-lo para compor o revezamento 4 x 400 m, se a equipe se qualificar para a Olimpíada entre as 16 melhores do mundo. Pistorius iria a Pequim como reserva.
"Temos muita esperança de que ele integrará nossa equipe", disse Leonard Chuene, presidente da confederação.
A Iaaf indicou ontem que honrará a decisão da corte.
"Oscar será bem-vindo em qualquer evento que disputar", disse Lamine Diack, presidente da Iaaf, via comunicado oficial. "Ele é um homem inspirador."
A reação teve eco no Comitê Olímpico Internacional. ""Pistorius é um atleta determinado e corajoso que direcionará sua energia à classificação aos Jogos", afirmou um comunicado.


Com agências internacionais

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