São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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"Não quero ser lembrado pela lesão"

Maikon Leite diz que busca reconhecimento por seu futebol, e não pela contusão que o afastou dos campos por 8 meses

Hoje, contra o Goiás, na Vila, atacante do Santos pode ser titular pela 1ª vez desde que rompeu os ligamentos do joelho, no ano passado

Fernando Santos/Folha Imagem
Maikon Leite cobre a cicatriz com o meião em treino; ao lado, o momento da séria contusão sofrida em 2008

RICARDO VIEL
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Há exatos nove meses, o atacante Maikon Leite, 20, deixava o gramado da Vila Belmiro em uma maca. Havia rompido todos os ligamentos do joelho direito em um choque com o goleiro Bruno, do Flamengo, em duelo do Brasileiro-08. Depois de ter entrado nas três últimas partidas, o jogador pode ser titular hoje pela primeira vez desde a lesão -pode substituir Neymar contra o Goiás, às 16h, em Santos. À Folha o atacante contou sobre a recuperação de uma lesão inédita no futebol e por que cobre a cicatriz com o meião.

 

FOLHA - Você teve noção da gravidade da lesão na hora?
MAIKON LEITE
- Não tinha noção de nada. Só sentia dor. Sabia que alguma coisa tinha acontecido, mas não sabia a gravidade.

FOLHA - A imagem é muito forte. Você quis vê-la?
MAIKON LEITE
- Hoje, vejo. Normal. No começo era ruim. Mas eu tinha que ver, até para saber por que aconteceu. Foi um lance normal. Ninguém teve culpa.

FOLHA - Pensou que não voltaria?
MAIKON LEITE
- Em um momento você pode até pensar. Mas, se o médico fala que você vai jogar, acabou. Parei de pensar nisso e só pensei em me recuperar. Muita gente falou que eu não voltaria. Se fosse há dez anos, ou se eu estivesse com 30 anos, ficaria bem difícil.

FOLHA - E voltou bem antes...
MAIKON LEITE
- A primeira previsão era de voltar a treinar em um ano. Voltei a jogar com menos de oito meses. Sinto que ainda falta ritmo, mas a cada jogo estou me sentindo melhor.

FOLHA - Como foi a recuperação?
MAIKON LEITE
- Difícil. Você ganha alguma coisa todo dia, mas parece que não vai. Tinha dia que era complicado. Cada dia era uma dor diferente. Me agarrei na vontade de jogar. Não faltou apoio, mas nada adiantaria se eu não tivesse vontade. Era todo dia de manhã e à tarde. Valeu, ganhamos quatro meses.

FOLHA - Ficou com receio de jogar?
MAIKON LEITE
- Até pensei que ficaria, mas não. Desde que voltei, não teve nenhuma jogada em que tirei o pé.

FOLHA - Você voltou na final do Paulista. O Ronaldo ofuscou isso?
MAIKON LEITE
- Acho que sim. Foi até bom. Perdemos o jogo, vou ficar me preocupando se falaram de mim?

FOLHA - O Filé [fisioterapeuta do Santos] disse que foi a lesão mais grave que ele já viu...
MAIKON LEITE
- Os médicos falaram que foi, disparada, a mais grave do futebol. Procuraram no mundo inteiro outros casos e não acharam. Falaram que é lesão daqueles loucos que pulam no rúgbi, que esquiam. No futebol não existe. A previsão de um ano era de voltar a treinar. Mas não tinham nem parâmetro para comparar.

FOLHA - À época da lesão você estava muito bem na equipe...
MAIKON LEITE
- Foi tudo muito rápido. Quatro meses depois de virar profissional, eu me tornei titular no Santo André. Vim para o Santos, já virei titular, estava aparecendo...

FOLHA - Quais seus planos?
MAIKON LEITE
- Voltar a ser titular, conquistar um título e ser reconhecido como o Maikon Leite, não como aquele cara da contusão. Quero provar que não existe mais uma pessoa que está voltando de contusão, e sim um jogador de futebol.

FOLHA - Mas é difícil não ligar sua imagem àquela cena...
MAIKON LEITE
- Não tem jeito, fica marcado. Mesmo quando eu acabar minha carreira, dificilmente vão esquecer. Já coloquei na minha cabeça que vai ser inevitável, que sempre vou ter que responder sobre isso.

FOLHA - Por que você começou a jogar com o meião levantado?
MAIKON LEITE
- É pra evitar isso: mostrar. Não quero mais mostrar minha contusão, quero me mostrar jogando.

FOLHA - Não quer se lembrar?
MAIKON LEITE
- Não é isso, mas o quanto eu puder evitar...

FOLHA - Tem algum dia que você não se lembra da lesão?
MAIKON LEITE
- Não tem como. Todo dia estou mexendo nele [mostra o joelho]. Mas meu pensamento é que ele está melhor do que antes.


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