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"Não quero ser lembrado pela lesão"
Maikon Leite diz que busca reconhecimento por seu futebol, e não pela contusão que o afastou dos campos por 8 meses
Hoje, contra o Goiás, na Vila, atacante do Santos pode ser titular pela 1ª vez desde que rompeu os ligamentos do joelho, no ano passado
Fernando Santos/Folha Imagem
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Maikon Leite cobre a cicatriz com o meião em treino; ao lado, o momento da séria contusão sofrida em 2008
RICARDO VIEL
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS
Há exatos nove meses, o atacante Maikon Leite, 20, deixava o gramado da Vila Belmiro
em uma maca. Havia rompido
todos os ligamentos do joelho
direito em um choque com o
goleiro Bruno, do Flamengo,
em duelo do Brasileiro-08.
Depois de ter entrado nas
três últimas partidas, o jogador
pode ser titular hoje pela primeira vez desde a lesão -pode
substituir Neymar contra o
Goiás, às 16h, em Santos.
À Folha o atacante contou
sobre a recuperação de uma lesão inédita no futebol e por que
cobre a cicatriz com o meião.
FOLHA - Você teve noção da gravidade da lesão na hora?
MAIKON LEITE - Não tinha noção
de nada. Só sentia dor. Sabia
que alguma coisa tinha acontecido, mas não sabia a gravidade.
FOLHA - A imagem é muito forte.
Você quis vê-la?
MAIKON LEITE - Hoje, vejo. Normal. No começo era ruim. Mas
eu tinha que ver, até para saber
por que aconteceu. Foi um lance normal. Ninguém teve culpa.
FOLHA - Pensou que não voltaria?
MAIKON LEITE - Em um momento você pode até pensar. Mas, se
o médico fala que você vai jogar, acabou. Parei de pensar
nisso e só pensei em me recuperar. Muita gente falou que eu
não voltaria. Se fosse há dez
anos, ou se eu estivesse com 30
anos, ficaria bem difícil.
FOLHA - E voltou bem antes...
MAIKON LEITE - A primeira previsão era de voltar a treinar em
um ano. Voltei a jogar com menos de oito meses. Sinto que
ainda falta ritmo, mas a cada jogo estou me sentindo melhor.
FOLHA - Como foi a recuperação?
MAIKON LEITE - Difícil. Você ganha alguma coisa todo dia, mas
parece que não vai. Tinha dia
que era complicado. Cada dia
era uma dor diferente. Me agarrei na vontade de jogar. Não faltou apoio, mas nada adiantaria
se eu não tivesse vontade. Era
todo dia de manhã e à tarde. Valeu, ganhamos quatro meses.
FOLHA - Ficou com receio de jogar?
MAIKON LEITE - Até pensei que ficaria, mas não. Desde que voltei, não teve nenhuma jogada
em que tirei o pé.
FOLHA - Você voltou na final do
Paulista. O Ronaldo ofuscou isso?
MAIKON LEITE - Acho que sim.
Foi até bom. Perdemos o jogo,
vou ficar me preocupando se
falaram de mim?
FOLHA - O Filé [fisioterapeuta do
Santos] disse que foi a lesão mais
grave que ele já viu...
MAIKON LEITE - Os médicos falaram que foi, disparada, a mais
grave do futebol. Procuraram
no mundo inteiro outros casos
e não acharam. Falaram que é
lesão daqueles loucos que pulam no rúgbi, que esquiam. No
futebol não existe. A previsão
de um ano era de voltar a treinar. Mas não tinham nem parâmetro para comparar.
FOLHA - À época da lesão você estava muito bem na equipe...
MAIKON LEITE - Foi tudo muito
rápido. Quatro meses depois de
virar profissional, eu me tornei
titular no Santo André. Vim para o Santos, já virei titular, estava aparecendo...
FOLHA - Quais seus planos?
MAIKON LEITE - Voltar a ser titular, conquistar um título e ser
reconhecido como o Maikon
Leite, não como aquele cara da
contusão. Quero provar que
não existe mais uma pessoa que
está voltando de contusão, e
sim um jogador de futebol.
FOLHA - Mas é difícil não ligar sua
imagem àquela cena...
MAIKON LEITE - Não tem jeito, fica marcado. Mesmo quando eu
acabar minha carreira, dificilmente vão esquecer. Já coloquei na minha cabeça que vai
ser inevitável, que sempre vou
ter que responder sobre isso.
FOLHA - Por que você começou a
jogar com o meião levantado?
MAIKON LEITE - É pra evitar isso:
mostrar. Não quero mais mostrar minha contusão, quero me
mostrar jogando.
FOLHA - Não quer se lembrar?
MAIKON LEITE - Não é isso, mas o
quanto eu puder evitar...
FOLHA - Tem algum dia que você
não se lembra da lesão?
MAIKON LEITE - Não tem como.
Todo dia estou mexendo nele
[mostra o joelho]. Mas meu
pensamento é que ele está melhor do que antes.
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