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Os companheiros lembraram-se do futebol
MATINAS SUZUKI JR.
do Conselho Editorial
Meus amigos, meus inimigos,
a agenda dos eventos futebolísticos andou tão lotada e tão
tumultuada no Brasil que
abandonei um pouco, aqui na
coluna, o mundinho da relação entre os livros e o futebol.
Um mundinho no bom sentido, pois, além do seu interesse
intrínseco, publica-se cada vez
mais livros sobre o futebol.
Agorinha mesmo, toda a polêmica causada pelo filme "O
Que É Isso, Companheiro?", do
Bruno Barreto, baseado no livro do Fernando Gabeira, resvalou no universo do futebol.
A sequência final do filme
mostrava que o então embaixador americano Charles Burke Elbrick foi libertado do sequestro em um domingo, em
frente ao Maracanã, durante
um clássico entre o Flamengo e
o Vasco (se não me engano).
Certo ou errado, a libertação
em frente ao Maraca, em dia
de jogo do Mais Querido, permite dar ao filme um sabor
mais local, um pouco de sal da
terra que ajudará na carreira
internacional de "O Que É Isso, Companheiro?".
O livro de Alberto Berquó
("O Sequestro - Dia a Dia",
Editora Nova Fronteira) conta
que, na verdade, o jogo de domingo, 7 de setembro de 1969,
era entre o Fluminense, campeão carioca (jogaria sem Félix, que no ano seguinte seria
campeão do mundo no México, e Denílson, que jogou na
seleção brasileira de 66), e o
grande Cruzeiro de Raul, Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e
do agora comentarista Tostão.
O livro de Berquó, pontuado
pelo noticiário de imprensa
daquele ano, além de reavivar
nossa memória política, é também um relicário de preciosidades futebolísticas.
No sábado à noite, véspera
da libertação de Elbrich, parte
dos guerrilheiros ficou ouvindo à transmissão do empate
em zero a zero entre o Flamengo (Sidney; Murilo, Manicera,
Tinho e Paulo Henrique; Rodrigues Neto e Liminha; Doval, Bianchini -que estreava
no lugar de Fio Maravilha,
machucado-, Dionísio e Arilson) e a Portuguesa (Orlando;
Zé Maria, Guaraci, Marinho
Pérez e Américo; Pais e Lorico;
Ratinho, Leivinha, Basílio e
Valdomiro -vi esse time no
jogo e no vestiário, um ou dois
anos antes, com os alunos do
Ginásio Vocacional de Barretos, em estudo do meio em São
Paulo, hóspedes que éramos do
estádio do Pacaembu).
O livro abre rememorando
que o Brasil estava em festa
pela classificação para a Copa
do México (feras do Saldanha:
Félix, Carlos Alberto, Djalma
Dias, Joel e Rildo; Piazza e
Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé
e Edu), lembra que Didi, na
coluna de Jacinto de Thormes,
na "Última Hora", comparava
as duas seleções e achava a de
58 melhor, e que esportistas como Juan Manuel Fangio e Alfredo Di Stefano, por coincidência dois argentinos, foram
sequestrados por organizações
revolucionárias de esquerda.
Mas a nota mais lírica que
une esses livros ao futebol não
tem nada a ver com celebridades e está no livro do Gabeira,
quando ele vê 50 gatos pingados fazendo uma passeata se
lembra de sua terra:
"O Guarani Futebol Clube
batido mais uma vez, pelo
mesmo adversário, irrompendo na rua Vitorino Braga com
sua bandeira azul e branca,
cantando 'Em Juiz de Fora
quem manda sou eu"'.
Matinas Suzuki Jr. escreve às terças, quintas e
sábados
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