São Paulo, terça, 17 de junho de 1997.



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Os companheiros lembraram-se do futebol

MATINAS SUZUKI JR.
do Conselho Editorial

Meus amigos, meus inimigos, a agenda dos eventos futebolísticos andou tão lotada e tão tumultuada no Brasil que abandonei um pouco, aqui na coluna, o mundinho da relação entre os livros e o futebol.
Um mundinho no bom sentido, pois, além do seu interesse intrínseco, publica-se cada vez mais livros sobre o futebol.
Agorinha mesmo, toda a polêmica causada pelo filme "O Que É Isso, Companheiro?", do Bruno Barreto, baseado no livro do Fernando Gabeira, resvalou no universo do futebol.
A sequência final do filme mostrava que o então embaixador americano Charles Burke Elbrick foi libertado do sequestro em um domingo, em frente ao Maracanã, durante um clássico entre o Flamengo e o Vasco (se não me engano).
Certo ou errado, a libertação em frente ao Maraca, em dia de jogo do Mais Querido, permite dar ao filme um sabor mais local, um pouco de sal da terra que ajudará na carreira internacional de "O Que É Isso, Companheiro?".
O livro de Alberto Berquó ("O Sequestro - Dia a Dia", Editora Nova Fronteira) conta que, na verdade, o jogo de domingo, 7 de setembro de 1969, era entre o Fluminense, campeão carioca (jogaria sem Félix, que no ano seguinte seria campeão do mundo no México, e Denílson, que jogou na seleção brasileira de 66), e o grande Cruzeiro de Raul, Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e do agora comentarista Tostão.
O livro de Berquó, pontuado pelo noticiário de imprensa daquele ano, além de reavivar nossa memória política, é também um relicário de preciosidades futebolísticas.
No sábado à noite, véspera da libertação de Elbrich, parte dos guerrilheiros ficou ouvindo à transmissão do empate em zero a zero entre o Flamengo (Sidney; Murilo, Manicera, Tinho e Paulo Henrique; Rodrigues Neto e Liminha; Doval, Bianchini -que estreava no lugar de Fio Maravilha, machucado-, Dionísio e Arilson) e a Portuguesa (Orlando; Zé Maria, Guaraci, Marinho Pérez e Américo; Pais e Lorico; Ratinho, Leivinha, Basílio e Valdomiro -vi esse time no jogo e no vestiário, um ou dois anos antes, com os alunos do Ginásio Vocacional de Barretos, em estudo do meio em São Paulo, hóspedes que éramos do estádio do Pacaembu).
O livro abre rememorando que o Brasil estava em festa pela classificação para a Copa do México (feras do Saldanha: Félix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu), lembra que Didi, na coluna de Jacinto de Thormes, na "Última Hora", comparava as duas seleções e achava a de 58 melhor, e que esportistas como Juan Manuel Fangio e Alfredo Di Stefano, por coincidência dois argentinos, foram sequestrados por organizações revolucionárias de esquerda.
Mas a nota mais lírica que une esses livros ao futebol não tem nada a ver com celebridades e está no livro do Gabeira, quando ele vê 50 gatos pingados fazendo uma passeata se lembra de sua terra:
"O Guarani Futebol Clube batido mais uma vez, pelo mesmo adversário, irrompendo na rua Vitorino Braga com sua bandeira azul e branca, cantando 'Em Juiz de Fora quem manda sou eu"'.


Matinas Suzuki Jr. escreve às terças, quintas e sábados



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