São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ai!

Achim Scheidemann/Efe
Maradona vibra com a vitória


Argentina 6 X 0 Sérvia e M.

Argentina dá show, impõe a maior goleada sul-americana sobre um europeu em 52 anos, classifica-se ao lado da Holanda no 'grupo da morte' e põe mundo do futebol em alerta

GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A GELSENKIRCHEN

Ilija Petkovic se encolheu no banco. Olhos fechados, cabeça baixa. Parecia querer sumir.
Sua defesa, a melhor da Europa nas eliminatórias, acabara de assistir atônita a uma troca de 24 passes. Sorín, Saviola, Riquelme, Crespo. Um toque de calcanhar. Gol de Cambiasso.
Jogada magnífica, daquelas que dificilmente se repetem num mesmo jogo de futebol.
Para azar do treinador de Sérvia e Montenegro, porém, a Argentina construiu outras cinco, também temperadas com precisas trocas de bola ou arroubos individuais. No final, um 6 a 0 histórico, a maior goleada de um país sul-americano sobre um europeu em Mundiais desde 1954, na Suíça.
"É claro que o mundo vai ver a gente de outra forma depois de um jogo como esses", disse o lateral Sorín após o duelo.
Não é para menos. A chave era considerada a mais equilibrada da Copa, e a Argentina sobrou. Deixou para trás o trauma de 2002, quando caiu ainda na fase inaugural, e já assegurou lugar nos mata-matas.
Como a Holanda passou ontem pela Costa do Marfim, as seleções entram em campo no dia 21 para decidir quem fica com o primeiro posto no grupo batizado de "da morte".
Morte, aliás, entoada pela torcida para simbolizar a queda de uma seleção que não justificou a fama de contar com uma superdefesa -havia tomado um só gol no qualificatório para a Copa. "Um minuto, um minuto de silêncio para a Sérvia, que morreu", diziam os argentinos.
Era o epílogo de um enredo que começou a ser escrito antes do apito inicial. Diego Maradona cumpriu seu juramento, encontrou o time antes do jogo, deu conselhos aos atletas e vestiu a camisa celeste para mais uma vez se esgoelar nas arquibancadas -já havia torcido como um fanático nos 2 a 1 contra a Costa do Marfim, na estréia.
O placar de ontem foi construído com Maxi Rodríguez (duas vezes) e Cambiasso na etapa inicial. Depois, o técnico José Pekerman decidiu exibir o arsenal que guarda no banco.
Tevez entrou, fez o seu e deu passe para gol de Messi, outro que estava entre os reservas. Este também atuou como "garçom" e serviu o atacante Crespo, que balançou as redes pela segunda vez no certame.
Ao final de um massacre assim -o time só havia cravado um 6 a 0 em Copas em 1978, em casa, sobre o Peru, em jogo polêmico que causou a eliminação do Brasil-, os argentinos bem que poderiam ter deixado o estádio em Gelsenkirchen exultantes. Preferiram, porém, caminhar por outra vereda. Na conversa com jornalistas, sentenças como "temos que ser humildes" e "ainda temos muito para melhorar" perpassavam todos os discursos.
"Tudo bem que fizemos um grande jogo, mas ainda estamos na primeira fase, e não na final. Não ganhamos o título. Nada muda", avisa Riquelme.
Sorín deu mais pistas sobre o estratagema de seleção campeã em 1978 e 1986. Ao ser questionado sobre quem são os favoritos ao título, respondeu: "Brasil, Alemanha e Inglaterra". Mas não vale pôr a Argentina no grupo? "De jeito nenhum. Vamos caminhar em silêncio."


Texto Anterior: Gol a gol na Copa
Próximo Texto: Espetáculo versus resultado divide atletas da seleção
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.