São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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Buenos Aires vibra e dá fim à humildade

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

"Esperamos por vocês na final", lançou, desafiante e transformado, Alcides Nuñez, 37, o até então tímido porteiro do meu prédio, minutos depois da goleada.
Nas ruas, buzinaço, chuva de papel picado, festa no Obelisco, o cartão postal de Buenos Aires. Os argentinos, como Alcides, esqueceram a humildade que usavam até agora para falar da Copa: que venha o Brasil, repetiam.
Na alegria ou na tristeza, Pelé e o time de Ronaldinho são as obsessões: "Hay que saltar, hay que saltar y quien no salta es de Brasil" ou "Maradona es más grande que Pelé", cantavam no centro portenho para comemorar. O hino contra o adversário aceitava uma variação: quem não salta é inglês, o outro rival histórico do país vizinho.
"Foi como tem que ser. Temos duas equipes e ficamos ainda melhores quando entram Tevez e Messi. E da Holanda vamos ganhar também, 2 a 1", apostou Javier Sanchez, 29. "Será que o Brasil passa da primeira fase? Vocês estão frouxos."
Tremerá o quarteto fantástico brasileiro diante dos hermanos? "De verdade? Não é para tanto. Somos parelhos", disse Sanchez.
O temor, agora, é o salto alto. "Os brasileiros festejam, nós exageramos, estufamos o peito. Há que ter cuidado", disse Juan Negri, 21.
No meio da festa, um casal brasileiro. "Jogaram bonito, não foi o jogo violento, tipo o do Simeone [ex-jogador da seleção argentina]", disse a carioca Beth Rangel, 39, na Argentina a trabalho.
Os cafés da cidade se encheram de torcedores, a maioria das escolas transmitiu o jogo ou suspendeu as aulas pela manhã. "Nosso diretor é um velho amargo e não deixou ver o jogo nem suspendeu a aula. Mas fomos para minha casa", disse Juan Rodriguez, 14, fazendo festa com um grupo de 20 amigos na avenida Santa Fé, uma das principais da cidade. "Tevez é o melhor do mundo", falou Damian Arze, 18, que assistiu à partida na TV de uma loja.
O presidente Néstor Kirchner, informou a agência oficial, comemorou "alvoraçadamente" a vitória, vista num telão na Casa Rosada. E não descarta ir à Alemanha para ver o próximo jogo. A presença do presidente pode causar apreensão nos mais supersticiosos. É que Carlos Menem foi à Itália em 1990 e assistiu da tribuna à queda na final.


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