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Buenos Aires
vibra e dá fim
à humildade
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
"Esperamos por vocês na
final", lançou, desafiante e
transformado, Alcides Nuñez, 37, o até então tímido
porteiro do meu prédio, minutos depois da goleada.
Nas ruas, buzinaço, chuva
de papel picado, festa no
Obelisco, o cartão postal de
Buenos Aires. Os argentinos,
como Alcides, esqueceram a
humildade que usavam até
agora para falar da Copa: que
venha o Brasil, repetiam.
Na alegria ou na tristeza,
Pelé e o time de Ronaldinho
são as obsessões: "Hay que
saltar, hay que saltar y quien
no salta es de Brasil" ou "Maradona es más grande que
Pelé", cantavam no centro
portenho para comemorar.
O hino contra o adversário
aceitava uma variação: quem
não salta é inglês, o outro rival histórico do país vizinho.
"Foi como tem que ser. Temos duas equipes e ficamos
ainda melhores quando entram Tevez e Messi. E da Holanda vamos ganhar também, 2 a 1", apostou Javier
Sanchez, 29. "Será que o Brasil passa da primeira fase?
Vocês estão frouxos."
Tremerá o quarteto fantástico brasileiro diante dos
hermanos? "De verdade?
Não é para tanto. Somos parelhos", disse Sanchez.
O temor, agora, é o salto alto. "Os brasileiros festejam,
nós exageramos, estufamos o
peito. Há que ter cuidado",
disse Juan Negri, 21.
No meio da festa, um casal
brasileiro. "Jogaram bonito,
não foi o jogo violento, tipo o
do Simeone [ex-jogador da
seleção argentina]", disse a
carioca Beth Rangel, 39, na
Argentina a trabalho.
Os cafés da cidade se encheram de torcedores, a
maioria das escolas transmitiu o jogo ou suspendeu as
aulas pela manhã. "Nosso diretor é um velho amargo e
não deixou ver o jogo nem
suspendeu a aula. Mas fomos
para minha casa", disse Juan
Rodriguez, 14, fazendo festa
com um grupo de 20 amigos
na avenida Santa Fé, uma das
principais da cidade. "Tevez
é o melhor do mundo", falou
Damian Arze, 18, que assistiu
à partida na TV de uma loja.
O presidente Néstor
Kirchner, informou a agência oficial, comemorou "alvoraçadamente" a vitória,
vista num telão na Casa Rosada. E não descarta ir à Alemanha para ver o próximo
jogo. A presença do presidente pode causar apreensão
nos mais supersticiosos. É
que Carlos Menem foi à Itália em 1990 e assistiu da tribuna à queda na final.
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