São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2009

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Pacaembu, mais caro, expõe mazelas

Estádio, palco da final da Copa do Brasil e com ingressos que chegam a R$ 250, oferece serviços precários ao torcedor

Para ver Ronaldo em ação, o consumidor tem de lidar com cambistas, flanelinhas, engarrafamento, sujeira e sensação de insegurança


EDUARDO OHATA
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o torcedor chegar hoje ao Pacaembu para acompanhar Corinthians x Inter, a final da Copa do Brasil, encontrará o cenário típico dos estádios brasileiros. Distante daquele que o país terá que apresentar, em cinco anos, quando abrigará um Mundial da Fifa.
O torcedor de hoje enfrentará flanelinhas, cambistas, desrespeito a lugares marcados, banheiros em péssimas condições de higiene. Na saída, engarrafamento, tumulto, insegurança e o risco até de encontrar seu veículo incendiado, como ocorreu há duas semanas.
Nada muito diferente do que o torcedor está acostumado, apenas mais caro. Do início do ano até maio, o ingresso corintiano mais barato no estádio aumentou 50%, contra uma inflação de 1,8% no período.
Cartolas corintianos justificam a majoração dos preços à presença de Ronaldo. De fato, só isso mudou, conforme constatado pela Folha nos últimos três jogos do Corinthians pela Copa do Brasil no Pacaembu.
As práticas ilegais e a precariedade dos serviços pipocam no estádio e em seu entorno.
No jogo ante o Vasco, pela semifinal, a situação saiu do controle. Vascaínos que haviam acabado de deixar briga generalizada com corintianos na marginal Tietê entraram no estádio sem problema. Mais tarde, um ônibus da torcida carioca foi incendiado em rua na lateral do estádio. O crime ocorreu próximo de um carro da PM. Três veículos parados perto também foram destruídos.
Em dia de jogo, a proximidade da polícia parece não intimidar. É comum ver flanelinhas pedindo "caixinhas" para cuidar dos carros a poucos metros de PMs e de fiscais da Companhia de Engenharia de Tráfego.
Quem passou atrás do tobogã antes de Corinthians x Fluminense viu ambulantes clandestinos escalarem as paredes externas do estádio. A Secretaria Municipal de Esportes reconhece que o problema existe, mas diz que a presença dos ambulantes é "cada vez menor".
Passa batido também o trabalho dos cambistas, mesmo próximo de carros de polícia. Concorridos, os últimos jogos do Corinthians da Copa do Brasil lotaram. E quem chegou ao estádio sem ingresso, em contraste às filas ciclópicas de quem ficou nas bilheterias na véspera, comprou até com desconto. "Área VIP é R$ 250. Comigo sai por R$ 200", oferta um deles à reportagem. "É esquema", diz como explicação.
Onde não há ilegalidade, encontra-se precariedade. No setor dos visitantes, uma "bilheteria móvel" é instalada. Duas funcionárias retiram ingressos e colocam o dinheiro em uma caixa de papelão, exposta, ou dentro de um saco plástico.
Solução improvisada para evitar que corintianos intimidem torcedores rivais nos guichês das bilheterias. "É melhor comprar aqui. Às vezes, tem corintiano do seu lado na bilheteria...", diz Beatriz Bueno, torcedora do Atlético-PR, enquanto milhares de corintianos, no tobogã, cuja saída fica a cerca de 50 metros daquela dos visitantes, gritam: ""A, e, i, o, u! Quero ver sair do Pacaembu".
Desconforto que segue nas arquibancadas, cuja numeração parece uma piada, singelos números pintados no concreto, como se houvesse alguma chance de o lugar ser marcado. Por falta de lixeiras, há lixo acumulado por toda a parte.
Em alguns banheiros, só há retretes turcas, onde o torcedor tem que ficar de cócoras. Já no intervalo, impraticáveis.
Após o jogo, filas duplas de ônibus, torcedores caminhando no meio das ruas, trânsito intenso. Segundo a CET, ""não dá para controlar o povo", que, pelo horário de início do jogo (22h), fica sem muitas alternativas de transporte -a estação de metrô mais próxima fecha por volta da meia-noite.
Segundo a Federação Paulista de Futebol, provavelmente pela mudança quantitativa e qualitativa do público, o número de queixas sobre preço de ingressos e desrespeitos à numeração dos assentos cresce.
Para o promotor de Justiça do Consumidor Eduardo Ferreira Valério, o torcedor tem de se organizar para fazer valer seus direitos. Entretanto, para ele, não há solução para o aumento do preço dos ingressos.
"Não há como fugir da regra de mercado. Se há muita procura e assentos limitados, o preço do ingresso vai subir."


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