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Pacaembu, mais caro, expõe mazelas
Estádio, palco da final da Copa do Brasil e com ingressos que chegam a R$ 250, oferece serviços precários ao torcedor
Para ver Ronaldo em ação,
o consumidor tem de lidar com cambistas, flanelinhas, engarrafamento, sujeira e sensação de insegurança
EDUARDO OHATA
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o torcedor chegar
hoje ao Pacaembu para acompanhar Corinthians x Inter, a
final da Copa do Brasil, encontrará o cenário típico dos estádios brasileiros. Distante daquele que o país terá que apresentar, em cinco anos, quando
abrigará um Mundial da Fifa.
O torcedor de hoje enfrentará flanelinhas, cambistas, desrespeito a lugares marcados,
banheiros em péssimas condições de higiene. Na saída, engarrafamento, tumulto, insegurança e o risco até de encontrar
seu veículo incendiado, como
ocorreu há duas semanas.
Nada muito diferente do que
o torcedor está acostumado,
apenas mais caro. Do início do
ano até maio, o ingresso corintiano mais barato no estádio
aumentou 50%, contra uma inflação de 1,8% no período.
Cartolas corintianos justificam a majoração dos preços à
presença de Ronaldo. De fato,
só isso mudou, conforme constatado pela Folha nos últimos
três jogos do Corinthians pela
Copa do Brasil no Pacaembu.
As práticas ilegais e a precariedade dos serviços pipocam
no estádio e em seu entorno.
No jogo ante o Vasco, pela semifinal, a situação saiu do controle. Vascaínos que haviam
acabado de deixar briga generalizada com corintianos na
marginal Tietê entraram no estádio sem problema. Mais tarde, um ônibus da torcida carioca foi incendiado em rua na lateral do estádio. O crime ocorreu próximo de um carro da
PM. Três veículos parados perto também foram destruídos.
Em dia de jogo, a proximidade da polícia parece não intimidar. É comum ver flanelinhas
pedindo "caixinhas" para cuidar dos carros a poucos metros
de PMs e de fiscais da Companhia de Engenharia de Tráfego.
Quem passou atrás do tobogã antes de Corinthians x Fluminense viu ambulantes clandestinos escalarem as paredes
externas do estádio. A Secretaria Municipal de Esportes reconhece que o problema existe,
mas diz que a presença dos ambulantes é "cada vez menor".
Passa batido também o trabalho dos cambistas, mesmo
próximo de carros de polícia.
Concorridos, os últimos jogos
do Corinthians da Copa do
Brasil lotaram. E quem chegou
ao estádio sem ingresso, em
contraste às filas ciclópicas de
quem ficou nas bilheterias na
véspera, comprou até com desconto. "Área VIP é R$ 250. Comigo sai por R$ 200", oferta
um deles à reportagem. "É esquema", diz como explicação.
Onde não há ilegalidade, encontra-se precariedade. No setor dos visitantes, uma "bilheteria móvel" é instalada. Duas
funcionárias retiram ingressos
e colocam o dinheiro em uma
caixa de papelão, exposta, ou
dentro de um saco plástico.
Solução improvisada para
evitar que corintianos intimidem torcedores rivais nos guichês das bilheterias. "É melhor
comprar aqui. Às vezes, tem corintiano do seu lado na bilheteria...", diz Beatriz Bueno, torcedora do Atlético-PR, enquanto
milhares de corintianos, no tobogã, cuja saída fica a cerca de
50 metros daquela dos visitantes, gritam: ""A, e, i, o, u! Quero
ver sair do Pacaembu".
Desconforto que segue nas
arquibancadas, cuja numeração parece uma piada, singelos
números pintados no concreto,
como se houvesse alguma
chance de o lugar ser marcado.
Por falta de lixeiras, há lixo
acumulado por toda a parte.
Em alguns banheiros, só há
retretes turcas, onde o torcedor tem que ficar de cócoras. Já
no intervalo, impraticáveis.
Após o jogo, filas duplas de
ônibus, torcedores caminhando no meio das ruas, trânsito
intenso. Segundo a CET, ""não
dá para controlar o povo", que,
pelo horário de início do jogo
(22h), fica sem muitas alternativas de transporte -a estação
de metrô mais próxima fecha
por volta da meia-noite.
Segundo a Federação Paulista de Futebol, provavelmente
pela mudança quantitativa e
qualitativa do público, o número de queixas sobre preço de ingressos e desrespeitos à numeração dos assentos cresce.
Para o promotor de Justiça
do Consumidor Eduardo Ferreira Valério, o torcedor tem de
se organizar para fazer valer
seus direitos. Entretanto, para
ele, não há solução para o aumento do preço dos ingressos.
"Não há como fugir da regra
de mercado. Se há muita procura e assentos limitados, o
preço do ingresso vai subir."
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