São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

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TOSTÃO

Ainda poucos gols


Os técnicos, excessivamente pragmáticos, tomaram o futebol dos jogadores


COM A EXCEÇÃO do bom futebol coletivo da Alemanha e dos belos lances individuais de Messi contra a Nigéria, as partidas têm sido fracas. Na primeira rodada, é a menor média de gols de todas as Copas (1,56 por jogo). A segunda menor foi na Copa de 1986 (2). Em 2006, a média foi de 2,44.
É a Copa do futebol tático. Quando um time está com a bola, o outro recua, fecha os espaços na defesa e inicia a marcação no meio-campo. Ao recuperar a bola, todos os jogadores estão longe do outro gol. Dá tempo para a outra equipe voltar e esperar.
Quem tem a bola toca para o lado. É o passe seguro e certo. Ninguém quer perder a posse de bola. Domina e passa. É o futebol de dois toques. Agora, entendo por que os técnicos fazem tanto esse tipo de treino.
É raro ver um volante dar um passe mais longo e para a frente. Gilberto Silva demora anos para dominar a bola e tocar para o lado.
Os dribles são cada dia menos frequentes. A Espanha, que tem uma ótima troca de passes, pouco dribla. Faltou o drible contra a Suíça. A Espanha, mal escalada, com apenas um atacante (Fernando Torres entrou na metade do segundo tempo), três volantes e Xavi fora da posição, atuando mais à frente, de meia, não conseguiu vencer o ferrolho suíço. E ainda perdeu o jogo.
Mesmo assim, a Espanha, como o Brasil, continua forte candidata ao título. Aumentaram as chances de as duas seleções se enfrentarem nas oitavas de final.
Nenhuma seleção marca por pressão. O Brasil não tomou uma bola no campo da Coreia do Norte. Seria fácil fazer isso, já que os norte-coreanos não têm habilidade para sair de uma marcação.
Como vi nos últimos anos quase somente jogos pela televisão, estou com a impressão, após ter visto no estádio alguns jogos da Copa, que o mesmo jogo é melhor na TV que no campo. Na TV, fica mais vibrante. Ou é o narrador que narra outro jogo?
O futebol atual lembra o dos anos 1980. Um time esperava o outro, e nada acontecia. Empate era bom. A Fifa mudou a regra a partir da Copa de 1994, e a vitória passou a valer três pontos. Isso levantou o futebol. Se os jogos desta Copa continuarem fracos até o final, a Fifa terá novamente que fazer alguma coisa.
Os técnicos, excessivamente pragmáticos, tomaram o futebol dos jogadores. É o bom espetáculo que mantém o prestígio do esporte.


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