São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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JUCA KFOURI

Gilmar e Tarso


Um era goleiro, dos bons e, na verdade, tem um y no nome. O outro foi jornalista e era, também, gaúcho

GYLMAR dos Santos Neves pegava até pensamento na minha cabeça de criança. Quando não pegava, espanava os ombros e mandava seus companheiros à forra com a garantia de que no gol dele a bola não entraria mais.
Pela seleção brasileira sagrou-se bicampeão mundial, em 1958/62, no sentido que bicampeão tinha até então, dois campeonatos consecutivos, coisa que o tri avacalhou, como se pode verificar em nossos melhores dicionários. E bicampeão mundial só existe um goleiro no mundo, ele mesmo, Gylmar, responsável por uma geração de xarás, alguns goleiros de boas passagens, outros anônimos -e muitas vezes o melhor é ficar anônimo, pois não.
O nosso Gylmar jogou no Corinthians e no Santos e está na seleção de todos os tempos de ambos, além de estar, também, na brasileira.
Não bastasse isso tudo para ser um ídolo perfeito, além de homem bonito, elegante, extremamente educado e gentil, um dia, depois de uma crise de peritonite, visitou este colunista ainda em projeto, com 9 anos de idade, no Samaritano, levado pelo cirurgião que me operara, o saudoso dr. Athiê.
Tudo porque, vizinhos, o médico disse ao jogador que havia um fã dele em estado grave no hospital.
Deste Gylmar eu jamais me esqueço ou esquecerei -e o curioso é que tenho uma história semelhante com outro grande goleiro, Carlos Castilho, do Fluminense, reserva de Gylmar nas duas Copas, da Suécia e do Chile, mas que fica para uma outra vez.
Gylmar, que adotou o y só depois que parou de jogar, é paulista de Santos. Sofreu um derrame e segue em frente com o carinho de todos. Já o jornalista Tarso de Castro
também era bonito, além de galanteador, extremamente criativo e anárquico. Um vulcão em permanente erupção no eixo Rio-São Paulo e adjacências.
Fundador e afundador do Pasquim, tinha uma coluna na Ilustrada como tem a Mônica Bergamo.
E, quando não tinha notícia, inventava. De maneira a não prejudicar ninguém com suas loucuras. Este colunista, por exemplo, era uma de suas vítimas preferenciais.
Chamava-me de "gatável", seja lá o que isso for, e adorava contar que Thomaz Souto Corrêa, vice-presidente da editora Abril e, então, meu chefe, brigara comigo por causa da Doris Day...
Mais non sense impossível, embora o dono da editora vira e mexe perguntasse a um ou a outro o que estava acontecendo entre nós...
Esse gaúcho de Passo Fundo morreu cedo, aos 50 anos, e deixou um filho também muito talentoso.
Tinha mil defeitos, como todos, mas jamais usou as palavras para esconder o pensamento, ao contrário.
Não foi, certamente, pensando nele que o humorista imaginou a figura de Rolando Lero, imortalizada pelo ator Rogério Cardoso.
Gylmar e Tarso devem ter se cruzado pela vida, mas não sei de nenhum encontro entre ambos e, agora, não há como saber.
Mas, com certeza, fariam uma dupla maravilhosa.
Eram, entretanto, outros tempos, muito mais românticos, muito menos pragmáticos e cínicos.
Protógenes só sei deste. Que errou aqui ou ali, mas só merece respeito.

blogdojuca@uol.com.br


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