São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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TOSTÃO

Ciência e futebol


Contra o Equador, a maior qualidade coletiva foi a troca de posições entre os três atletas da frente


O NEUROCIENTISTA brasileiro Miguel Nicolelis, importante pesquisador, radicado nos EUA, utilizou, em um dos capítulos de seu livro "Muito Além do Nosso Eu", o quarto gol do Brasil contra a Itália, na final da Copa de 1970, como exemplo para discutir a plasticidade e a interação dos neurônios e dos circuitos cerebrais.
O pesquisador contou em detalhes, tão bem quanto os melhores narradores e comentaristas esportivos, como oito jogadores trocaram passes, durante 30 segundos, sem interrupção.
Ele disse, e concordo, que nenhum dos oito atletas tinha a ideia sobre o que seria o resultado final de sua interação com os companheiros, além de ser impossível planejar o lance.
Já os reducionistas, lembrou o neurocientista, tentariam explicar a complexidade da jogada estudando as características de cada jogador e separando as ações de cada um no momento da jogada.
O conjunto não é apenas a soma das partes. Quando partes se juntam, pode ocorrer algo novo, inimaginável. O time encaixa, como diz o chavão do futebol. Os técnicos aproveitam para falar que tudo foi planejado.
Paradoxalmente, quanto mais os jogadores estão preparados para ocupar vários setores do campo, em uma mesma partida, mais eles são compartimentados, pela visão reducionista dos técnicos, a atuar pelos lados ou pelo centro, pela direita ou pela esquerda, de volante ou de meia, de primeiro ou de segundo volante, de primeiro ou de segundo atacante.
O sonho dos técnicos é transformar o futebol em um jogo mais previsível, onde tudo pode ser planejado e ensaiado.
A principal deficiência da seleção brasileira é não ter um armador de grande talento, desses que os comentaristas não sabem se é volante ou meia.
Contra o Equador, a principal qualidade coletiva do Brasil foi a troca de posições entre Robinho, Neymar e Pato. Por outro lado, os três e mais Ganso estavam sempre no campo do adversário. Lucas e Ramires ficaram sozinhos na marcação.
O Equador tocou a bola com facilidade no meio, pelos lados e nas costas dos volantes. Hoje, contra o Paraguai, um time bem melhor, isso poderá ser um problema.
A solução não é escalar Jadson no lugar de Robinho. Jadson também joga no campo do outro time. Se entrar Elano, melhora a marcação, mas o time perde um jogador na frente. O que fazer? É um problema para Mano resolver, para outra coluna, para uma discussão acadêmica ou para uma boa conversa em um botequim.


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