São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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Pelo pódio

Cansado de ficar em quarto lugar, nadador Thiago Pereira testa no Mundial de Xangai sua opção pelo exílio de três anos nos EUA

MARIANA LAJOLO
DE SÃO PAULO

Quarto lugar. A lembrança incômoda acompanha Thiago Pereira, 25, todos os dias na piscina. E seu técnico faz questão de que seja assim.
Por isso, bate sempre na mesma tecla. Para que ele nunca se esqueça do sabor de ficar fora do pódio. Para que se lembre sempre do motivo que o levou a deixar seu país, sua família e seus amigos e se mudar para os EUA.
"Eu o lembro constantemente de seus desapontamentos por ter ficado em quarto lugar. Acho que ele captou a mensagem", afirmou à Folha Dave Salo, técnico do Trojan Swim Club, na Califórnia, nova casa do nadador brasileiro desde 2009.
Thiago foi para os EUA após o Mundial de Roma. De novo, em sua especialidade, os 200 m medley, havia ficado a um degrau do pódio. No mesmo quarto lugar da Olimpíada de Pequim-2008.
"Claro que incomoda [a sina de ficar em quarto]. Estar com a medalha na boca e pum!... Em Roma, foi praticamente na batida de mão", afirmou o nadador. "Foi um misto de sentimentos. Melhorei minha marca em dois segundos, fiquei feliz, mas não consegui a medalha."
Thiago havia tomado a decisão de ir para os EUA antes mesmo de não subir ao pódio na Itália. Queria ter a tranquilidade de saber que tentou tudo o que podia para obter uma medalha olímpica.
A partir da noite de sábado, terá o primeiro grande teste de sua aposta no Mundial de Xangai, na China.
"Passei por duas Olimpíadas treinando no Brasil. Agora, programei três anos fora, até 2012. Não queria ficar com aquela sensação de "e se...'", afirmou o nadador.
"Se eu for quarto de novo, não vou poder falar que não tentei de tudo. Já pensei que ser quinto podia ser melhor do que ser quarto. Tem dois na sua frente... Mas fico tranquilo, faz parte do esporte."
Thiago já havia tentado a sorte no exterior. Em 2006, já um dos mais promissores nadadores do país, foi para a Flórida. Treinaria ao lado de um de seus maiores rivais, o americano Ryan Lochte.
O brasileiro, no entanto, não se adaptou aos treinos e teve problemas de comportamento. Decidiu voltar.
No Minas, sob a batuta de Fernando Vanzella, ganhou seis ouros, uma prata e um bronze no Rio-2007 e se tornou o grande nome do Pan.
Thiago amealhou patrocínios, participou de programas de TV, gravou comerciais, fez muito sucesso.
Mas, em 2008, falhou na busca pela medalha olímpica. Em Pequim, foi a vez de Cesar Cielo brilhar com o inédito ouro nos 50 m livre.
"Faz parte. Cada um tem a sua hora. Quanto mais nadadores de alto nível tivermos, melhor. Chama mais gente para a natação", afirmou.
"Fiz um grande Pan, mas tinha começado antes com o Kaio [Márcio] quebrando recorde mundial em 2005 [dos 50 m borboleta em piscina de 25 m]. Depois veio o Cielo. Foi um ciclo perfeito", afirmou.
Para brilhar também neste novo ciclo, Thiago passou por uma transformação em seu programa de treinos.
A carga de musculação foi dobrada -faz duas horas por dia, três vezes por semana. E os treinos o surpreenderam.
"Dave [Salo] tem um estilo bem diferente. Todos os treinos são fortes. Ele quer você nadando sempre rápido. Eu não estava acostumado. No começo, ficava bem cansado", declarou Thiago.
Salo também não escreve na lousa o que quer ver os pupilos fazerem na piscina, como fazem outros técnicos. Os treinos são sempre surpresa.
"Ele passava uma série, eu achava que era a mais forte e depois descobria que ele estava preparando algo pior", brincou o nadador brasileiro.
No ano passado, Thiago não ficou satisfeito com seus resultados, mesmo tendo obtido duas medalhas de bronze no Pan Pacífico, principal evento do ano. Desde janeiro, porém, tem se surpreendido com seu desempenho e até bateu Lochte no GP de Santa Clara, em junho.
"Tenho feito boas provas de medley, com resultados que me impressionaram pela época do ano", afirmou.
"No GP de Santa Clara, fiz uma grande prova, o crawl foi um dos meus melhores tempos. Pensei: "Finalmente fechei essa prova direito"."
Salo acredita que os últimos resultados ajudaram a aumentar a confiança do pupilo para a Xangai. "Ele sabe que nadou daquele jeito sem estar descansado. Ele ainda pode nadar seu melhor."


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