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Jogo de cintura
Leandro obtém o bronze, primeira medalha do país, e honra a tradição de duas décadas
EDGARD ALVES
FÁBIO SEIXAS
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS
As dores no quadril incomodam. Aborrecem. Atrapalham.
Ele as supera. Assim como vence uma fratura na mão esquerda.
Assim como ganha de seis adversários nos tatames de Atenas.
Leandro Marques Guilheiro, 21,
colocou ontem o Brasil no quadro
de medalhas da 28ª Olimpíada da
Era Moderna. Ganhou o bronze
entre os leves (até 73 kg). O ouro
foi para o sul-coreano Lee Won
Hee, a prata, para o russo Vitaliy
Makarov, e o outro
bronze, para o americano James Pedro.
Foi a 67ª medalha
olímpica do país. A
11ª do judô. Desde
Los Angeles-84, os
judocas voltam para
o Brasil com ao menos um pódio.
Para manter a tradição, Guilheiro precisou vencer as dores.
Tem lesão no quadril idêntica à de
Gustavo Kuerten. Não foi operado ainda por causa dos Jogos.
"A lesão é a mesma. Ele vai operar, mas vamos usar uma técnica
diferente, porque vimos que o
Guga teve seqüelas fortes, perdeu
a estabilidade", diz Wagner Castropil, médico da equipe do judô.
Não será a única cirurgia. Guilheiro também será submetido a
uma intervenção para reparar
uma fissura na mão, sofrida durante as seletivas olímpicas. Por
isso a bandagem usada ontem.
Bandagem que colocou no ginásio Ano Liossa. Para estrear diante do japonês naturalizado espanhol Kiyoshi Uematsu. Ganhou
no "golden score", a morte súbita.
Na seqüência, eliminou o haitiano Ernst Laraque e o polonês
Krzysztof Wilkomirski (bronze
no Mundial-01). E perdeu para o
francês Daniel Fernandes (vice no
Mundial-03), ficando sem chances de batalhar pelo ouro.
Um resultado que gerou protestos de alguém que não parava de
gritar das arquibancadas: seu técnico Rogério Sampaio, ouro em
Barcelona-92. "Ele foi prejudicado pela arbitragem", disse ele.
"Fui punido por falta de combatividade, mas a luta ainda estava
muito no começo", disse Guilheiro. "Não entendi o motivo."
Na repescagem, ganhou do israelense Yoel Razvozov (vice europeu) e do georgiano David Kevkhishvili (bronze no Europeu).
Na decisão do terceiro, dominou
o moldávio Victor Bivol. "Ele tinha mais força, e eu, mais gás. A
partir da metade da luta, mudei a
tática e tomei conta do combate",
disse, explicando que deixou de
tentar pegar na gola do rival, passando a segurá-lo pela manga.
Bivol já havia recebido três advertências quando levou o golpe,
que decidiu a luta. Caído no tatame, fez cara de dor. De pé, vitorioso, braços abertos, Guilheiro esqueceu das suas. Sorria.
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