São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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Jogo de cintura

Leandro obtém o bronze, primeira medalha do país, e honra a tradição de duas décadas

EDGARD ALVES
FÁBIO SEIXAS
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS

As dores no quadril incomodam. Aborrecem. Atrapalham.
Ele as supera. Assim como vence uma fratura na mão esquerda. Assim como ganha de seis adversários nos tatames de Atenas.
Leandro Marques Guilheiro, 21, colocou ontem o Brasil no quadro de medalhas da 28ª Olimpíada da Era Moderna. Ganhou o bronze entre os leves (até 73 kg). O ouro foi para o sul-coreano Lee Won Hee, a prata, para o russo Vitaliy Makarov, e o outro bronze, para o americano James Pedro.
Foi a 67ª medalha olímpica do país. A 11ª do judô. Desde Los Angeles-84, os judocas voltam para o Brasil com ao menos um pódio.
Para manter a tradição, Guilheiro precisou vencer as dores. Tem lesão no quadril idêntica à de Gustavo Kuerten. Não foi operado ainda por causa dos Jogos.
"A lesão é a mesma. Ele vai operar, mas vamos usar uma técnica diferente, porque vimos que o Guga teve seqüelas fortes, perdeu a estabilidade", diz Wagner Castropil, médico da equipe do judô.
Não será a única cirurgia. Guilheiro também será submetido a uma intervenção para reparar uma fissura na mão, sofrida durante as seletivas olímpicas. Por isso a bandagem usada ontem.
Bandagem que colocou no ginásio Ano Liossa. Para estrear diante do japonês naturalizado espanhol Kiyoshi Uematsu. Ganhou no "golden score", a morte súbita.
Na seqüência, eliminou o haitiano Ernst Laraque e o polonês Krzysztof Wilkomirski (bronze no Mundial-01). E perdeu para o francês Daniel Fernandes (vice no Mundial-03), ficando sem chances de batalhar pelo ouro.
Um resultado que gerou protestos de alguém que não parava de gritar das arquibancadas: seu técnico Rogério Sampaio, ouro em Barcelona-92. "Ele foi prejudicado pela arbitragem", disse ele.
"Fui punido por falta de combatividade, mas a luta ainda estava muito no começo", disse Guilheiro. "Não entendi o motivo."
Na repescagem, ganhou do israelense Yoel Razvozov (vice europeu) e do georgiano David Kevkhishvili (bronze no Europeu). Na decisão do terceiro, dominou o moldávio Victor Bivol. "Ele tinha mais força, e eu, mais gás. A partir da metade da luta, mudei a tática e tomei conta do combate", disse, explicando que deixou de tentar pegar na gola do rival, passando a segurá-lo pela manga.
Bivol já havia recebido três advertências quando levou o golpe, que decidiu a luta. Caído no tatame, fez cara de dor. De pé, vitorioso, braços abertos, Guilheiro esqueceu das suas. Sorria.


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