São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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POLÍTICA

Pela primeira vez, COB contrata advogados para coibir o uso sem autorização, e sem pagamento, de seus símbolos olímpicos em propagandas

Senhor dos anéis vai à justiça

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Nos estádios, ginásios e piscinas atenienses, 246 brasileiros colocam à prova o sonho olímpico. Querem medalhas. Dentro de gabinetes e em corredores de fóruns, engravatados formam outro exército do Comitê Olímpico Brasileiro. Defendem anéis.
Os cinco círculos que representam a união dos povos, marca do maior evento esportivo do planeta, geraram corrida do COB à Justiça comum. Pelo menos 60 empresas que não adquiriram os direitos sobre a Olimpíada-2004 foram notificadas para deixar de usar símbolos ligados aos Jogos sob pena de multa e indenização.
Para garantir a exclusividade de seus parceiros e evitar o chamado "marketing de emboscada", o comitê contratou um escritório especializado em marcas e patentes. O escolhido para defender os anéis do COB foi a Bhering Advogados, que faz trabalho semelhante no Brasil para a Fifa em Copas.
É a primeira vez que a entidade dirigida por Carlos Arthur Nuzman se associa a um escritório especializado para combater a "pirataria de marcas".
De acordo com a Lei Pelé, o COB é o único dono dos direitos e do uso das bandeiras, hinos, símbolos olímpicos e das denominações dos Jogos. Para sempre.
Para "emprestar" suas marcas a parceiros, o COB cobrou um total de R$ 12,9 milhões, segundo a Olympo, sua agência de marketing oficial -quase um quarto do que recebeu de investimento público, via Lei Piva (cerca de R$ 48 milhões em 2003). Apenas seus patrocinadores oficiais e os do Comitê Olímpico Internacional podem usar expressões como Atenas-2004 em comerciais.
"Às vezes nem há má intenção, só desconhecimento da lei. Mas o grande perigo é o marketing de emboscada, em que o consumidor é induzido a achar que aquela empresa apóia o evento, quando na verdade só quer se valer de sua imagem, sem nada pagar por isso", afirma Leonardo Gryner, diretor da Olympo.
O leque de empresas que faz alusão à competição para fazer propaganda é variado. Engloba de gigantes da indústria alimentícia a universidades, de academia de ginástica a pastelaria.
O COB tem evitado divulgar o nome das empresas que intimou. Tanto o departamento jurídico do comitê como a Bhering se recusaram a dar detalhes sobre a investida pelos anéis. O objetivo é claro: algumas delas são parceiras em potencial, uma vez que já tornaram pública sua vontade de ligar suas marcas ao esporte.
Entre as gigantes que foram notificadas pela Bhering está a Pepsico, dona da marca Pepsi e maior concorrente da Coca-Cola, parceira do COB e do COI.
A Pepsico é ré num processo movido pelo COB por conta do lançamento de embalagens do Toddynho que "homenageiam" a Olimpíada. Para a multinacional de refrigerantes, não há irregularidade porque os Jogos são parte da cultura mundial. A guerra deve se arrastar na Justiça.
O boom do uso indevido dos símbolos ocorreu a partir da passagem da tocha olímpica pelo Rio, em junho. Além das referências aos Jogos-04, o COB também age contra empresas que fazem referências ao Pan-07, no Brasil.
Foi o caso de uma empresa de engenharia e manutenção que presta serviço no aeroporto do Galeão e no Riocentro. Após vestir 600 funcionários com uniformes com a logomarca do Pan-07 e a inscrição "Nós apoiamos", a empresa foi notificada há dez dias pelo COB e teve 48 horas para "apagar" a homenagem com um pano. O prejuízo, R$ 5.000.


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