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POLÍTICA
Pela primeira vez, COB contrata advogados para coibir o uso sem autorização, e sem pagamento, de seus símbolos olímpicos em propagandas
Senhor dos anéis vai à justiça
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
Nos estádios, ginásios e piscinas
atenienses, 246 brasileiros colocam à prova o sonho olímpico.
Querem medalhas. Dentro de gabinetes e em corredores de fóruns, engravatados formam outro
exército do Comitê Olímpico Brasileiro. Defendem anéis.
Os cinco círculos que representam a união dos povos, marca do
maior evento esportivo do planeta, geraram corrida do COB à Justiça comum. Pelo menos 60 empresas que não adquiriram os direitos sobre a Olimpíada-2004 foram notificadas para deixar de
usar símbolos ligados aos Jogos
sob pena de multa e indenização.
Para garantir a exclusividade de
seus parceiros e evitar o chamado
"marketing de emboscada", o comitê contratou um escritório especializado em marcas e patentes.
O escolhido para defender os
anéis do COB foi a Bhering Advogados, que faz trabalho semelhante no Brasil para a Fifa em Copas.
É a primeira vez que a entidade
dirigida por Carlos Arthur Nuzman se associa a um escritório especializado para combater a "pirataria de marcas".
De acordo com a Lei Pelé, o
COB é o único dono dos direitos e
do uso das bandeiras, hinos, símbolos olímpicos e das denominações dos Jogos. Para sempre.
Para "emprestar" suas marcas a
parceiros, o COB cobrou um total
de R$ 12,9 milhões, segundo a
Olympo, sua agência de marketing oficial -quase um quarto do
que recebeu de investimento público, via Lei Piva (cerca de R$ 48
milhões em 2003). Apenas seus
patrocinadores oficiais e os do
Comitê Olímpico Internacional
podem usar expressões como
Atenas-2004 em comerciais.
"Às vezes nem há má intenção,
só desconhecimento da lei. Mas o
grande perigo é o marketing de
emboscada, em que o consumidor é induzido a achar que aquela
empresa apóia o evento, quando
na verdade só quer se valer de sua
imagem, sem nada pagar por isso", afirma Leonardo Gryner, diretor da Olympo.
O leque de empresas que faz
alusão à competição para fazer
propaganda é variado. Engloba
de gigantes da indústria alimentícia a universidades, de academia
de ginástica a pastelaria.
O COB tem evitado divulgar o
nome das empresas que intimou.
Tanto o departamento jurídico do
comitê como a Bhering se recusaram a dar detalhes sobre a investida pelos anéis. O objetivo é claro:
algumas delas são parceiras em
potencial, uma vez que já tornaram pública sua vontade de ligar
suas marcas ao esporte.
Entre as gigantes que foram notificadas pela Bhering está a Pepsico, dona da marca Pepsi e maior
concorrente da Coca-Cola, parceira do COB e do COI.
A Pepsico é ré num processo
movido pelo COB por conta do
lançamento de embalagens do
Toddynho que "homenageiam" a
Olimpíada. Para a multinacional
de refrigerantes, não há irregularidade porque os Jogos são parte
da cultura mundial. A guerra deve
se arrastar na Justiça.
O boom do uso indevido dos
símbolos ocorreu a partir da passagem da tocha olímpica pelo Rio,
em junho. Além das referências
aos Jogos-04, o COB também age
contra empresas que fazem referências ao Pan-07, no Brasil.
Foi o caso de uma empresa de
engenharia e manutenção que
presta serviço no aeroporto do
Galeão e no Riocentro. Após vestir 600 funcionários com uniformes com a logomarca do Pan-07 e
a inscrição "Nós apoiamos", a
empresa foi notificada há dez dias
pelo COB e teve 48 horas para
"apagar" a homenagem com um
pano. O prejuízo, R$ 5.000.
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