São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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NATAÇÃO

Ex-velocista influencia e lapida campeão olímpico

Australiano Brett Hawkee é técnico de César Cielo há apenas um ano

Brasileiro, que recebeu propostas para treinar na Austrália e na Itália, diz que treinador sabe caminhos para levá-lo ao seu limite


MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

Brett Hawkee vestiu uma capa e se sentou à beira da piscina da Vila Olímpica. César Cielo olhou a cena, vestiu uma capa também e foi se sentar ao lado do treinador. Ao chegar lá, perguntou se ele estava com frio.
O australiano, 33, respondeu que não. Apenas queria influenciar o comportamento do pupilo. Como ele parecia estar com frio, Cielo o copiou.
"Eu consegui fazer parecer que estava com frio e consegui te influenciar. Você também pode parecer o que quiser. Você tem de parecer um campeão", afirmou o ex-velocista.
Cielo entendeu o recado. Apesar do nervosismo confesso, entrou para os 50 m livre esbanjando confiança. Fez seu ritual de toda prova e largou para ser o primeiro campeão olímpico da natação brasileira.
O episódio é apenas um exemplo da relação intensa criada entre o ex-nadador e o campeão olímpico.
Os dois trabalham juntos há cerca de um ano na Universidade de Auburn e, apesar do pouco tempo juntos, o dedo de Hawke já pode ser visto no jeito de nadar de Cielo.
"O Albertinho [Alberto Pinto, técnico do Pinheiros] lapidou minha parte técnica, o Brett cuidou da velocidade. Em menos de um ano ele já descobriu os caminhos para me levar ao limite. Se eu tiver de ficar mais três ou quatro anos em Auburn, eu fico, vou procurar o que é melhor para mim", afirma o nadador, que tem propostas de Austrália e Itália.
Quando conquistou o bronze nos 100 m livre empatado com o americano Jason Lezak, Cielo chorou copiosamente ao encontrar o treinador.
Anteontem, ao sair do pódio com a medalha de ouro, foi recebido pelo australiano, enrolado em uma bandeira do Brasil. Ele foi incorporado à seleção para acompanhar o nadador na preparação olímpica.
O técnico não era unanimidade, já que em Sydney-2000 o Brasil teve uma experiência fracassada com treinadores estrangeiros na equipe. Mas conquistou seu espaço.
Em toda a caminhada de Cielo em Pequim, poucas vezes o nadador deu ouvidos às previsões do treinador.
"Ele falou que eu tinha chance nos 100 m livre. Eu pensei: "Não tenho nenhuma, vou largar na raia oito". Não tem jeito, velocista não ouve o que os outros falam. Quando ganhei a medalha, ele veio me perguntar o que havia me dito. Mas ele também era velocista, ele entende", afirma o brasileiro.
Nem sempre. Os dois têm temperamento explosivo. As brigas são comuns.
"A gente brigou tanto neste ano que nem sei como estamos juntos até agora", brinca Cielo. "Somos bem parecidos. Mas nos entendemos bem só de nos olharmos", completa.
O ex-nadador disputou duas Olimpíadas, mas não conseguiu chegar ao pódio. Hawke disputou os Jogos de Atenas-2004 e terminou apenas na sexta colocação nos 50 m livre.
"É muito bom ter alguém para realizar esse sonho por mim. Mas, no fundo, eu estou aqui por causa dele, para vê-lo atingir seus objetivos", afirma o treinador australiano.


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