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NATAÇÃO
Ex-velocista influencia e lapida campeão olímpico
Australiano Brett Hawkee é técnico de César Cielo há apenas um ano
Brasileiro, que recebeu propostas para treinar na Austrália e na Itália, diz que
treinador sabe caminhos para levá-lo ao seu limite
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
Brett Hawkee vestiu uma capa e se sentou à beira da piscina
da Vila Olímpica. César Cielo
olhou a cena, vestiu uma capa
também e foi se sentar ao lado
do treinador. Ao chegar lá, perguntou se ele estava com frio.
O australiano, 33, respondeu
que não. Apenas queria influenciar o comportamento do
pupilo. Como ele parecia estar
com frio, Cielo o copiou.
"Eu consegui fazer parecer
que estava com frio e consegui
te influenciar. Você também
pode parecer o que quiser. Você
tem de parecer um campeão",
afirmou o ex-velocista.
Cielo entendeu o recado.
Apesar do nervosismo confesso, entrou para os 50 m livre esbanjando confiança. Fez seu ritual de toda prova e largou para
ser o primeiro campeão olímpico da natação brasileira.
O episódio é apenas um
exemplo da relação intensa
criada entre o ex-nadador e o
campeão olímpico.
Os dois trabalham juntos há
cerca de um ano na Universidade de Auburn e, apesar do pouco tempo juntos, o dedo de
Hawke já pode ser visto no jeito
de nadar de Cielo.
"O Albertinho [Alberto Pinto, técnico do Pinheiros] lapidou minha parte técnica, o
Brett cuidou da velocidade. Em
menos de um ano ele já descobriu os caminhos para me levar
ao limite. Se eu tiver de ficar
mais três ou quatro anos em
Auburn, eu fico, vou procurar o
que é melhor para mim", afirma o nadador, que tem propostas de Austrália e Itália.
Quando conquistou o bronze
nos 100 m livre empatado com
o americano Jason Lezak, Cielo
chorou copiosamente ao encontrar o treinador.
Anteontem, ao sair do pódio
com a medalha de ouro, foi recebido pelo australiano, enrolado em uma bandeira do Brasil. Ele foi incorporado à seleção para acompanhar o nadador na preparação olímpica.
O técnico não era unanimidade, já que em Sydney-2000 o
Brasil teve uma experiência
fracassada com treinadores estrangeiros na equipe. Mas conquistou seu espaço.
Em toda a caminhada de Cielo em Pequim, poucas vezes o
nadador deu ouvidos às previsões do treinador.
"Ele falou que eu tinha chance nos 100 m livre. Eu pensei:
"Não tenho nenhuma, vou largar na raia oito". Não tem jeito,
velocista não ouve o que os outros falam. Quando ganhei a
medalha, ele veio me perguntar
o que havia me dito. Mas ele
também era velocista, ele entende", afirma o brasileiro.
Nem sempre. Os dois têm
temperamento explosivo. As
brigas são comuns.
"A gente brigou tanto neste
ano que nem sei como estamos
juntos até agora", brinca Cielo.
"Somos bem parecidos. Mas
nos entendemos bem só de nos
olharmos", completa.
O ex-nadador disputou duas
Olimpíadas, mas não conseguiu
chegar ao pódio. Hawke disputou os Jogos de Atenas-2004 e
terminou apenas na sexta colocação nos 50 m livre.
"É muito bom ter alguém para realizar esse sonho por mim.
Mas, no fundo, eu estou aqui
por causa dele, para vê-lo atingir seus objetivos", afirma o
treinador australiano.
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