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FUTEBOL
Dois craques num só
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Beckenbauer, campeão do
mundo como jogador e técnico, presidente do Bayern de Munique e do Comitê Organizador
da Copa do Mundo de 2006, um
dos dez maiores jogadores da história do futebol mundial, foi entrevistado no programa "Bola da
Vez", da ESPN Brasil.
Beckenbauer foi um líbero tão
diferente, único e espetacular que,
progressivamente, desapareceram os jogadores dessa posição.
Ele tornou-se o líbero ideal, inatingível, muito acima de todos
que tentaram repeti-lo.
Quando o adversário tinha a
bola, Beckenbauer se posicionava
atrás dos dois zagueiros. Antevia
o passe e se antecipava ao atacante. Com a bola, transformava-se
num excepcional jogador de
meio-campo, sempre elegante e
com a cabeça em pé.
Não existem mais líberos. Os zagueiros que atuam na sobra são
apenas defensores. Não se transformam em armadores. Os que
tentam não sabem. Além disso,
na maioria das equipes, os três
zagueiros atuam em linha. Não
há um defensor fixo na cobertura.
Vai depender da jogada.
Numa mesma partida, é muito
difícil um jogador brilhar em
duas posições diferentes, como fazia Beckenbauer. Seria como se
juntasse num único jogador um
craque da zaga e outro de meio-campo.
Futebol de rua
Na mesma entrevista, Beckenbauer disse que aprendeu a jogar
na rua. Outro supercraque,
Cruyff, disse o mesmo. Eu pensava que isso só acontecia no Brasil.
É na infância, nos campos de
pelada e na rua, brincando, que
se desenvolve a imaginação, a
fantasia e a intimidade com a bola. O menino brinca e sonha. Sem
regras e professores. Na vida
adulta, em qualquer atividade, os
grandes talentos são os que continuam se divertindo, com responsabilidade.
Nas categorias de base dos clubes, os adolescentes vão desenvolver a técnica, aprender as posições, as regras e valorizar a disciplina. Tornam-se atletas.
Muitas escolinhas invertem essas fases. Isso não é bom. O menino não tem adequado desenvolvimento psicomotor para ser um
atleta e nem a adolescência é o
momento ideal para desenvolver
a criatividade. É preciso brincar e
depois aprender.
Dia de craque
Muito se falou na semana passada sobre a formação do meio-campo da seleção e da possibilidade de se escalar mais um dos
talentosos meias ofensivos, no lugar do Zé Roberto ou do Emerson.
Nas equipes que jogam com
quatro defensores há muitas maneiras de desenhar o meio-campo
e o ataque. A mais comum, tradicional, utilizada pela maioria dos
times e seleções do mundo, é escalar dois volantes e um armador
de cada lado.
As vantagens de se jogar dessa
forma são ter quatro jogadores
marcando no meio-campo e haver mais jogadas pelos lados com
as duplas formadas pelo armador
e pelo lateral. A desvantagem é
não ter o meia de ligação, próximo dos dois atacantes.
O Real Madrid joga com dois
volantes e um meia de cada lado.
Zidane atua mais pela esquerda,
marca no seu campo, organiza as
jogadas e ainda se aproxima dos
atacantes. Brilha de uma intermediária a outra. Faz as funções
de armador e meia de ligação.
São dois craques num só, como
Beckenbauer. Por isso Zidane é,
com folga, o melhor jogador de
meio-campo do futebol mundial.
O Cruzeiro atua quase da mesma maneira que a seleção, com
um volante pelo meio, um armador de cada lado defendendo e
atacando e um meia de ligação
(Alex) próximo dos dois atacantes. A única diferença é que na seleção são dois meias e um centroavante.
O Santos é diferente. Há dois
volantes, três meias (Elano pela
direita, Diego pelo meio e Robinho pela esquerda) e um centroavante. Os três meias e mais o Renato avançam e recuam. São
muito leves e versáteis. Trocam de
posição. É um estilo alegre, descontraído e dinâmico, mas com
disciplina.
No Cruzeiro, as funções são
mais bem definidas e estáticas. É
um estilo mais disciplinado, seguro e previsível (até a bola cair no
pé do Alex).Os dois estilos são eficientes.
Sábado não será uma final antecipada e nem um jogo de seis
pontos, como dizem. Parafraseando o excelente e engraçado
programa da ESPN Brasil, apresentado pelo Eduardo Elias, sábado será dia de craque.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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