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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Dois craques num só

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Beckenbauer, campeão do mundo como jogador e técnico, presidente do Bayern de Munique e do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2006, um dos dez maiores jogadores da história do futebol mundial, foi entrevistado no programa "Bola da Vez", da ESPN Brasil.
Beckenbauer foi um líbero tão diferente, único e espetacular que, progressivamente, desapareceram os jogadores dessa posição. Ele tornou-se o líbero ideal, inatingível, muito acima de todos que tentaram repeti-lo.
Quando o adversário tinha a bola, Beckenbauer se posicionava atrás dos dois zagueiros. Antevia o passe e se antecipava ao atacante. Com a bola, transformava-se num excepcional jogador de meio-campo, sempre elegante e com a cabeça em pé.
Não existem mais líberos. Os zagueiros que atuam na sobra são apenas defensores. Não se transformam em armadores. Os que tentam não sabem. Além disso, na maioria das equipes, os três zagueiros atuam em linha. Não há um defensor fixo na cobertura. Vai depender da jogada.
Numa mesma partida, é muito difícil um jogador brilhar em duas posições diferentes, como fazia Beckenbauer. Seria como se juntasse num único jogador um craque da zaga e outro de meio-campo.

Futebol de rua
Na mesma entrevista, Beckenbauer disse que aprendeu a jogar na rua. Outro supercraque, Cruyff, disse o mesmo. Eu pensava que isso só acontecia no Brasil.
É na infância, nos campos de pelada e na rua, brincando, que se desenvolve a imaginação, a fantasia e a intimidade com a bola. O menino brinca e sonha. Sem regras e professores. Na vida adulta, em qualquer atividade, os grandes talentos são os que continuam se divertindo, com responsabilidade.
Nas categorias de base dos clubes, os adolescentes vão desenvolver a técnica, aprender as posições, as regras e valorizar a disciplina. Tornam-se atletas.
Muitas escolinhas invertem essas fases. Isso não é bom. O menino não tem adequado desenvolvimento psicomotor para ser um atleta e nem a adolescência é o momento ideal para desenvolver a criatividade. É preciso brincar e depois aprender.

Dia de craque
Muito se falou na semana passada sobre a formação do meio-campo da seleção e da possibilidade de se escalar mais um dos talentosos meias ofensivos, no lugar do Zé Roberto ou do Emerson.
Nas equipes que jogam com quatro defensores há muitas maneiras de desenhar o meio-campo e o ataque. A mais comum, tradicional, utilizada pela maioria dos times e seleções do mundo, é escalar dois volantes e um armador de cada lado.
As vantagens de se jogar dessa forma são ter quatro jogadores marcando no meio-campo e haver mais jogadas pelos lados com as duplas formadas pelo armador e pelo lateral. A desvantagem é não ter o meia de ligação, próximo dos dois atacantes.
O Real Madrid joga com dois volantes e um meia de cada lado. Zidane atua mais pela esquerda, marca no seu campo, organiza as jogadas e ainda se aproxima dos atacantes. Brilha de uma intermediária a outra. Faz as funções de armador e meia de ligação. São dois craques num só, como Beckenbauer. Por isso Zidane é, com folga, o melhor jogador de meio-campo do futebol mundial.
O Cruzeiro atua quase da mesma maneira que a seleção, com um volante pelo meio, um armador de cada lado defendendo e atacando e um meia de ligação (Alex) próximo dos dois atacantes. A única diferença é que na seleção são dois meias e um centroavante.
O Santos é diferente. Há dois volantes, três meias (Elano pela direita, Diego pelo meio e Robinho pela esquerda) e um centroavante. Os três meias e mais o Renato avançam e recuam. São muito leves e versáteis. Trocam de posição. É um estilo alegre, descontraído e dinâmico, mas com disciplina.
No Cruzeiro, as funções são mais bem definidas e estáticas. É um estilo mais disciplinado, seguro e previsível (até a bola cair no pé do Alex).Os dois estilos são eficientes.
Sábado não será uma final antecipada e nem um jogo de seis pontos, como dizem. Parafraseando o excelente e engraçado programa da ESPN Brasil, apresentado pelo Eduardo Elias, sábado será dia de craque.

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