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Série C põe futebol pentacampeão na poeira da estrada
Sem condições financeiras de bancar viagens de avião, times encaram viagens de 50 horas e jogos a cada três dias
Nos longos trajetos, assaltos e problemas mecânicos já deixaram equipes à deriva no meio do nada e causaram transtornos no gramado
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A PIAUÍ,
MARANHÃO E PARÁ
A sentença que explica a terceira divisão do Campeonato
Brasileiro-06 sai em um restaurante de quinta categoria na
beira da BR-222, em Buriticupu, interior do Maranhão.
"A gente mora no ônibus e
passeia em casa", diz Antônio
Pereira da Silva, 49, motorista
que conduz a Tuna Luso, do Pará, de Teresina a Belém.
O clube é um dos 63 que começaram a competição e rasgam o país em rodovias esburacadas graças às mudanças nas
regras da competição, feitas na
medida para Bahia e Vitória terem mais chances de saírem do
fundo do poço -não há nenhum mata-mata, mas longas
fases em que sempre se classifica mais de uma equipe.
Até o ano passado, bastavam
14 jogos, a maioria deles regionalizados e com intervalos de
uma semana, para um time ser
promovido na Série C. Agora
são 32 partidas, com largas distâncias e jogos a cada três dias.
A CBF só paga passagens aéreas para um time por Estado e
os rebaixados da Série B. E apenas para trajetos superiores a
700 km. Como na terceira divisão os clubes são muito pobres,
o ônibus é a única forma de deslocamento. Assim, longas viagens (algumas de até 50 horas
só no trajeto de ida) viraram regra. E palco de drama.
O Treze da Paraíba foi assaltado no sertão pernambucano.
Celulares foram roubados e jogadores agredidos por cinco ladrões. O Porto, de Caruaru,
passou horas esperando o resgate após o ônibus quebrar.
Times exaustos passaram
vergonha. O Jataiense ficou
quase um dia entre o interior
de Goiás e Belo Horizonte. Resultado: goleada de 9 a 0 contra
o América, a maior da competição, que neste final de semana
fecha o turno da 3ª fase.
Tradição e força política pouco servem. O América-MG tem
o auxílio da CBF, mas a cláusula
dos 700 km já fez o time pegar a
estrada para São Paulo e Rio. O
Americano de Campos, time do
recém-falecido Eduardo Viana,
ex-presidente da Federação do
Rio, encarou duas viagens de
mais de 20 horas.
Única divisão do Brasileiro
realmente nacional (tem times
de todos os Estados), a Série C
ainda sofre com a crise do setor
aéreo causada pela Varig.
Mesmo times que recebem
verba da CBF passam até um
dia inteiro para se locomoverem por culpa da falta de vôos.
Entre espera em aeroportos
e trechos em ônibus, o Araguaína, de Tocantins, demorou
quase 30 horas para enfrentar a
Ulbra, em Rondônia.
Quem tem o auxílio da CBF
recebe modestos R$ 3.000 para
hospedar e alimentar as 23 pessoas bancadas pela entidade.
O prêmio é uma das quatro
vagas na Série B. E confortáveis
aviões no ano que vem.
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