São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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Série C põe futebol pentacampeão na poeira da estrada

Sem condições financeiras de bancar viagens de avião, times encaram viagens de 50 horas e jogos a cada três dias

Nos longos trajetos, assaltos e problemas mecânicos já deixaram equipes à deriva no meio do nada e causaram transtornos no gramado

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A PIAUÍ,
MARANHÃO E PARÁ


A sentença que explica a terceira divisão do Campeonato Brasileiro-06 sai em um restaurante de quinta categoria na beira da BR-222, em Buriticupu, interior do Maranhão.
"A gente mora no ônibus e passeia em casa", diz Antônio Pereira da Silva, 49, motorista que conduz a Tuna Luso, do Pará, de Teresina a Belém.
O clube é um dos 63 que começaram a competição e rasgam o país em rodovias esburacadas graças às mudanças nas regras da competição, feitas na medida para Bahia e Vitória terem mais chances de saírem do fundo do poço -não há nenhum mata-mata, mas longas fases em que sempre se classifica mais de uma equipe.
Até o ano passado, bastavam 14 jogos, a maioria deles regionalizados e com intervalos de uma semana, para um time ser promovido na Série C. Agora são 32 partidas, com largas distâncias e jogos a cada três dias.
A CBF só paga passagens aéreas para um time por Estado e os rebaixados da Série B. E apenas para trajetos superiores a 700 km. Como na terceira divisão os clubes são muito pobres, o ônibus é a única forma de deslocamento. Assim, longas viagens (algumas de até 50 horas só no trajeto de ida) viraram regra. E palco de drama.
O Treze da Paraíba foi assaltado no sertão pernambucano. Celulares foram roubados e jogadores agredidos por cinco ladrões. O Porto, de Caruaru, passou horas esperando o resgate após o ônibus quebrar.
Times exaustos passaram vergonha. O Jataiense ficou quase um dia entre o interior de Goiás e Belo Horizonte. Resultado: goleada de 9 a 0 contra o América, a maior da competição, que neste final de semana fecha o turno da 3ª fase.
Tradição e força política pouco servem. O América-MG tem o auxílio da CBF, mas a cláusula dos 700 km já fez o time pegar a estrada para São Paulo e Rio. O Americano de Campos, time do recém-falecido Eduardo Viana, ex-presidente da Federação do Rio, encarou duas viagens de mais de 20 horas.
Única divisão do Brasileiro realmente nacional (tem times de todos os Estados), a Série C ainda sofre com a crise do setor aéreo causada pela Varig.
Mesmo times que recebem verba da CBF passam até um dia inteiro para se locomoverem por culpa da falta de vôos.
Entre espera em aeroportos e trechos em ônibus, o Araguaína, de Tocantins, demorou quase 30 horas para enfrentar a Ulbra, em Rondônia.
Quem tem o auxílio da CBF recebe modestos R$ 3.000 para hospedar e alimentar as 23 pessoas bancadas pela entidade.
O prêmio é uma das quatro vagas na Série B. E confortáveis aviões no ano que vem.


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