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JUCA KFOURI
Lula, o cartola
Ao sancionar a Timemania,
o presidente conseguiu a proeza de fazer um discurso ainda pior do que a loteria
À
S VÉSPERAS da assinatura das
duas primeiras leis do governo Lula (o Estatuto do Torcedor e a chamada Lei da Moralização
do Futebol) recebi um telefonema
do chefe de gabinete da Presidência
da República, Gilberto Carvalho.
Ele queria saber se eu iria à cerimônia, no Palácio do Planalto. Respondi que não. E ouvi dele que o presidente ficaria feliz se eu fosse. Fui.
Surpreso, ouvi o presidente, na
abertura de seu discurso, dizer textualmente: "Nunca mais quero ouvir o Juca Kfouri dizer que no Brasil
o torcedor é tratado como gado." E,
no fecho, o ouvi dizer, não me recordo exatamente das palavras, que a
minha presença ali significava um
desagravo a todos os jornalistas que
foram "perseguidos e processados"
por lutar por um esporte limpo no
Brasil.
Era um Lula alegre, leve e solto.
Estávamos em maio de 2003 e, admito, ingenuamente, voltei para São
Paulo feliz da vida.
Quatro anos depois, pouca coisa
mudou. Os torcedores continuam a
ser tratados como gado e o nosso esporte é tão sujo como então.
Mas, sem dúvida, uma mudança
houve e foi radical, estridente, calamitosa, escandalosa, brutal: Lula virou cartola de futebol.
Um Lula rancoroso e com a má
consciência de quem, enfim, mergulhou seu governo na vala comum
dos que o antecederam.
A ponto de inocentar os cartolas
da CBF e dos clubes e afirmar que a
culpa do estado de coisas em nosso
futebol é nossa, de todos.
Que ele não queira assumir responsabilidades que são dele é compreensível porque, afinal, nunca
soube de nada, nunca viu nada, nunca fez nada. Mas dividir culpas que
têm endereço certo com quem nada
tem a ver com isso é demais.
Na cerimônia de assinatura da Timemania, entre outras pérolas, Lula
perguntou e respondeu: "Como é
que a Espanha chegou ao que chegou? Como é que a Itália chegou
aonde chegou? Dizer: "Mas, no Brasil, é porque os dirigentes não são
honestos", é a coisa mais simples, é
você jogar a pecha de desonesto em
cima de alguém. A Itália, que é esse
monstro sagrado do futebol, que já
está quase perto do Brasil na conquista de Copas do Mundo, todo dia
a gente tem uma denúncia no jornal,
entretanto, o futebol não perde o
profissionalismo."
Pois é, presidente.
Na Itália, time cai por causa da desonestidade. Na Espanha, cartola é
preso pelo mesmo motivo.
Aqui, seu discurso está sendo
aplaudido de pé por Edmundo Santos Silva, ex-cartola impune do Flamengo, aquele que reconheceu na
CPI do Futebol que não era um "criminoso comum".
E Alberto Dualib, o presidente do
seu Corinthians, só não esteve de
corpo presente para também aplaudi-lo porque negocia em Londres
com a máfia russa para trazer mais
dinheiro e cobrir os rombos de sua
danosa gestão.
Foi para essa gente que está criada
a Timemania, sem nenhuma contrapartida que exija mudança estrutural no modelo de gestão ou na
responsabilização individual dos
cartolas.
"Eu sei que tem muita gente que
faz crítica, tem muita gente que fala
em clube-empresa com uma facilidade, é tudo muito fácil na teoria",
discursou Lula, diante da concordância agora entusiasmada de Mustafá Contursi, eminência parda do
Clube dos 13 e responsável pelo rebaixamento do gigante Palmeiras
tempos atrás.
Mas, mais do que isso: cartola que
só não criou uma empresa sua para
ficar com o Palmeiras porque esta
Folha descobriu e denunciou.
Meu raro leitor: fique você sem
pagar seus impostos.
Quem sabe o governo, que será
reeleito, não lhe dê uma loteria para pagá-los?
blogdojucauol.com.br
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