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ANÁLISE
A fábula terminou, e todos viraram sapos
FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
O episódio do GP de Cingapura de 2008 é pior que a batida
de Prost em Senna em 1989. É
pior que o revide do brasileiro
em 1990. É pior que o choque
de Schumacher em Villeneuve
em 1997. É pior que a marmelada do GP da Áustria de 2002.
É mais baixo que tudo isso
porque envolve mentira, dissimulação, engodo. E covardia.
Nas entrevistas após aquela
prova, Nelsinho "explicou" o
acidente. "Belisquei o muro um
pouco demais." Briatore, ator
canastrão, xingou o brasileiro
via rádio após o choque: "Ele
não é piloto". Symonds simulou espanto. "Acho que foi na
17", disse, como se não tivesse
instruído-o a bater naquela
curva, desprovida de guindaste.
Nas polêmicas anteriores,
resgatadas pelas rodinhas de
conversa nas últimas semanas,
o torcedor pode ter vibrado, se
irritado, chutado a mesinha de
centro diante da TV, perpetrado vaias nas arquibancadas dos
autódromos. Mas não se sentiu
otário, enganado. Os vilões se
revelaram por inteiro, na hora,
para quem quisesse julgar.
Mais: de Prost a Schumacher,
todos os envolvidos tinham
muito a ver com a história.
Eram rivais, eram companheiros, eles que se entendessem.
O choque de Nelsinho no
muro mexeu com um monte de
gente que não tinha nada a ver
com aquilo. Antes da batida,
Massa liderava. Na bandeirada,
foi 13º. Sim, Massa, aquele que
perdeu o título por um ponto.
Nesta fábula, acreditaríamos
todos até o fim dos tempos não
fosse a guerra entre Piquet pai e
Briatore detonada com a demissão de Piquet filho. Guerra
que fez a fábula virar realidade,
que tornou o final feliz um desfecho dos mais melancólicos.
Até nisso, Cingapura é pior.
Desta vez, ninguém se deu bem,
não há mártires nem príncipes.
Todos viraram sapos.
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